Ainda não saiu o Cidadão Rubro-Negro

Não aconteceu ontem, afinal, o lançamento do Cidadão Rubro-Negro. Foi, digamos, um pré-lançamento - o que está no ar é uma promoção de divulgação do programa, montada pra dar um gás inicial nos cadastros. Afinal, segundo afirmam os próprios responsáveis pelo projeto, ele existe exatamente em função de montar um grande banco de dados rubro-negro. Trata-se de um programa de CRM - sabe o que é isso?

O vídeo de lançamento da promo - de ontem pra hoje, foi visto 8 mil vezes. O twitter do programa pede pros rubro-negros "mostrarem sua força" e o tornarem um dos mais vistos no YouTube. O site do Cidadão, ontem, ficou lento e com erros devido à sobrecarga de acessos.

Pra participar, basta se cadastrar no site www.cidadaorubronegro.com.br - que está sendo tocado fora do Flamengo, pelos parceiros do clube na empreitada (o Flamengo afirma que não está gastando um centavo no projeto). Entre eles estão a Golden Goal, empresa de marketing esportivo que já era parceira do Flamengo no Onde estiver estarei e trabalha também com o Milan, com a Fundação Gol de Letra do Leonardo e com o Botafogo, no Engenhão. E, lá atrás, o diretor de marketing do Flamengo, Ricardo Hinrichsen, contou que outra empresa envolvida é a Loyalty, especializada em marketing de relacionamento, com clientes como Souza Cruz, Petrobras, Abril, VR, Allianz e muitos outros. É uma empresa conceituada no mercado e o seu envolvimento no projeto já é algo de se animar.

Como funciona a promoção

É isso: pra entrar, basta ir ao site e se cadastrar. A partir daí, a cada vez que você interagir com ele, acumula pontos - pode ser preenchendo mais etapas do cadastro, indicando amigos pra participar, respondendo a perguntas diversas sobre o Flamengo que serão colocadas no ar a cada dia. A cada semana, durante 4 semanas, os 10 cidadãos rubro-negros que acumularem mais pontos serão premiados - o primeiro vai ganhar uma viagem ao Rio de Janeiro com passagem aérea e estadia pagos, com direito a visita à Gávea, almoço com o time, ingresso para assistir a Flamengo x Sport na tribuna de honra do Maracanã e, no fim do dia, um jantar com o Adriano e convidados em um restaurante caro da cidade. Se o vencedor for do Rio, ganha passagem aérea de ida e volta para outra cidade à sua escolha (Salvador, Porto Alegre, Recife ou Brasília). Os 9 maiores pontuadores seguintes, a cada semana, ganham camisas oficiais autografadas.

A ideia é, neste mês de lançamento, já formar um cadastro de tamanho considerável para dar o pontapé inicial no projeto e fazer com que essa galera se acostume a visitar o site com frequência. Afinal, pelo que já deu pra entender, o sucesso da coisa depende disso aí - ter uma base de usuários grande e que use o site com regularidade, para juntar informações, aprender seus hábitos de consumo e ganhar dinheiro com isso.

E o Cidadão Rubro-Negro, como vai funcionar?

Bem, o negócio só começa pra valer, com todos os serviços, funcionalidades etc. e tal, no dia 7 de setembro.

A partir deste dia, o site montado, segundo as dicas que já deram, vai ganhar o formato de um Orkut rubro-negro - você vai poder montar seu perfil, colocar foto, contar experiências, participar de comunidades. Com todos os dados na mão, o Flamengo e seus parceiros poderão ir atrás de outras empresas dispostas a fazer bom uso da informação. Por exemplo: "o seu produto é destinado a mulheres, classe C/D, moradoras da região Centro-Oeste, entre 20 e 40 anos, solteiras e que gostem de assistir a filmes em DVD. Nós temos aqui o canal pra você atingir diretamente 30 mil dessas, com nome, endereço, telefone e e-mail. Vamos fazer negócio?"

No tal Orkut, fora se relacionar com outros torcedores, o Cidadão vai poder consumir produtos. Haverá os licenciados do clube, inclusive alguns exclusivos para o projeto; mas também outros tantos de empresas parceiras - mais de 100 mil ítens, dizem -, em promoções especiais. Bom saber que entre as que estão no negócio já aparecem pesos-pesados como Americanas.com, supermercados Extra ou Grupo Folha. Participando das ações do site e consumindo por lá, a pessoa acumula pontos - chamados de "flas" -, que depois poderão ser trocados por produtos, serviços e benefícios. Haverá flas vermelhos e flas pretos, que terão valores diferentes e poderão ser trocados por tipos de produtos e serviços distintos.

Como vai funcionar essa troca? Vai ser fácil acumular pontos o bastante pra trocar por serviços realmente interessantes? Só esperando pra ver na prática.

Quanto custa?

Pode não custar nada, se você não quiser - aí, fica na categoria Bronze, na qual já estarão incluídos todos os cadastrados nesta promoção de lançamento. Há ainda duas categorias pagas, a Prata e a Ouro, com mensalidades de R$8 e R$33, que terão direito a benefícios diferenciados.

Quais? Só esperando pra ver.

Mas reparem que R$33 está dentro da ordem de grandeza do que um torcedor do Vasco, por exemplo, paga para ter direito a meia-entrada nos jogos do time, com a compra e a entrada facilitados. Se o Flamengo incluísse isso aí como benefício, a coisa já ficaria muito interessante. Não sei se pensam nisso, mas é fato que só vai ter gente aderindo a essas modalidades pagas se os benefícios forem realmente muito palpáveis. Caso contrário, a coisa não vai pegar.

(Ah sim: falou-se há um tempo atrás de um "plano premium", bem mais caro, com acesso a produtos de luxo e direito a voto. Mas, por enquanto, nem o clube nem o site do programa estão tocando nisso aí.)

De qualquer forma, o discurso é de que vai se ganhar muito mais dinheiro com o programa de milhagem, com o uso do banco de dados para criar ações comerciais com parceiros, do que com mensalidades. É possível?

Quem sou eu pra dizer que não. Mas não dá pra afirmar com segurança que sim.

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Muitos devem lembrar do Smart Club - uma iniciativa de certa forma parecida com esta do Flamengo. A pessoa ganhava um cartão com chip e toda vez que utilizasse um serviço de uma das empresas participantes do programa, acumulava pontos que depois poderiam ser trocados por produtos diversos. Por trás, a empresa ia formando um grande banco de dados, com as informações dadas diretamente pelos usuários e também armazenando cada compra que eles iam fazendo com o cartão. Foi lançado em 1999, muita gente participou e estavam no negócio empresas como Sendas, Americanas, Shell, Bob´s, Telefonica, Tam, Net e muitas, muitas outras. Durou seis anos, emitiu 2,3 milhões de cartões - e acabou. A Visanet comprou a parada e passou a usar o know-how acumulado em se juntar informações de hábitos de consumo de seu público para outros fins.

O Flamengo, mesmo lidando apenas com sua torcida e não com todo o público, pode criar um programa mais bem sucedido? É a esperança. Hoje os conhecimentos de técnicas de CRM - Consumer Relationship Management, como os profissionais da área chamam a parada - são bem mais avançados no país e há ainda a Internet pra facilitar a coisa (embora, pela minha conversa antiga com o Hinrichsen, possa acontecer da interação não ser só online - ele falava na época no custo dos cartões com chip que deveriam ser usados pelos Cidadãos Rubro-Negros; vamos ver se a ideia permanece a mesma). E, ao que parece, o Flamengo está se cercando de bons parceiros no negócio.

Mas ainda acho que incluir vantagens nos ingressos era a maneira simples de bombar o faturamento direto com a parada e realmente impactar a vida financeira do Flamengo em um prazo não tão longo. O que não exclui todo o uso do CRM pra deixar a coisa toda bem mais interessante, levantar receita de outras fontes, oferecer oportunidades de negócio a muito mais parceiros, estreitar o relacionamento com seu cliente e ainda conseguir atingir o torcedor rubro-negro com benefícios reais em todo o país, e não apenas no Rio de Janeiro.

É isso: no conceito, o projeto é bem interessante. Mas tem que ver se vão conseguir dar ao público-alvo aquele grande atrativo que o fará embarcar na parada.

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Já criaram um twitter para o Cidadão Rubro-Negro: @sourubronegro

E também um perfil no Flickr, com as fotos do making of do vídeo de lançamento com Adriano.

Um toque

Como já citei, parece que a ideia é que o site tenha uma pinta de Orkut do Flamengo, e se construa em volta disso todas as ações de relacionamento online que formarão banco de dados e farão as pessoas consumirem.

Bem: empresas criando suas próprias redes sociais é algo que, no mercado, já saiu de moda. Várias empresas criaram as suas e acabaram ficando com o mico na mão, sem saber o que fazer com elas. Pode-se fazer, com propósitos específicos, claro. Mas uma maneira que parece mais eficiente de fazer a coisa dar certo é levar também a sua ação para as outras redes sociais já existentes, onde seu consumidor já está - Orkut, Facebook, MySpace etc. Afinal, o sujeito não tem tempo nem disposição de ficar preenchendo perfil em 15 sites diferentes e visitar todos com regularidade.

Hoje, pode se criar um aplicativo para a sua ação que rode nestes sites todos - como o ultrapopular Buddy Poke, por exemplo. O usuário instala aquilo no seu perfil da rede que costuma usar, interage com a sua marca por ali mesmo e ainda transforma a página dele numa vitrine para a sua empresa. O que não exclui a rede social própria - são apenas níveis de engajamento diferente que a pessoa tem com o projeto, que podem se complementar.

Pessoal que está tocando o Cidadão Rubro-Negro - se não estão já trabalhando nesta linha, pensem nisso.

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Na verdade, o ideal seria que dessem um jeito de integrar o Cidadão Rubro-Negro totalmente ao site oficial do clube, junto com tudo o que já se criou por lá. Casar a rede social com vídeos da FlaTV, notícias direto da Gávea, games do Uruba e Urubinha, venda de pacotes turísticos, conteúdo participativo, e-commerce, aplicativo do Orkut... As formas de fazer o internauta rubro-negro se engajar com a coisa e as oportunidades de negócio online nisso aí são infinitas.