Nada é de graça - quanto custa montar um programa de sócio-torcedor

No meu último texto, falei do sucesso do programa Fiel Torcedor, do Corinthians. É apenas mais uma iniciativa das tantas que já surgiram em diversos clubes do país para aproveitar as facilidades que o sistema de pontos corridos oferece - desde o início do ano, o clube já sabe quantos jogos irá jogar com mando de campo, sabe quando serão estas partidas, sabe que tem compromissos espalhados ao longo de todos os meses da temporada. Isso oferece inúmeras alternativas para se vender ingressos com grande antecedência, criar descontos progressivos, pacotes diversos, programas de fidelização. Desde 2003 já é assim e, infelizmente, o Flamengo até hoje não conseguiu caminhar em nada para aproveitar.

Mas as coisas normalmentes não são tão simples e mágicas quanto parecem. É comum, por exemplo, confundir "faturamento" com "lucro" (como bem apontou o Juan, nos comentários do último texto). É bom também ter sempre isso em mente quando imaginar possíveis soluções rápidas para todos os problemas - do Flamengo ou de qualquer outro clube.

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A maioria dos clubes que lançou seu "sócio-torcedor" o fez terceirizando a formatação, implantação e manutenção. É o caso do projeto do Vasco - tocado pela empresa de marketing esportivo Novo Traço, em sociedade com a Jeff Sports e Marketing, do ex-vice de marketing do Botafogo, Jefferson Mello. A Novo Traço, aliás, já realizou projetos em outros clubes, como Botafogo, Palmeiras, Fluminense e Coritiba.

E é claro que isso tem um custo. No caso do Coritiba, por exemplo, foi divulgado que a comissão cobrada pela empresa é de 38% do faturamento do programa - o que, à primeira vista, parece muito e gerou discussão lá no Paraná. Nisso estão incluídos todos os serviços relativos ao sócio-torcedor - criação do site, geração de boletos de cobrança, montagem de central de atendimento, criação e veiculação de publicidade, enfim. O percentual pode variar de clube pra clube, claro. Mas é essa a ordem de grandeza - ou seja: se o clube conseguir 20.000 sócios e cobrar 20 reais de cada um, a receita total seria de R$400.000, mas chegariam aos cofres do clube cerca de R$248.000.

No Corinthians, o Fiel Torcedor também é terceirizado. A responsável por colocar tudo pra funcionar é a OmniSys, empresa voltada para o mercado de clubes - com clientes incluindo Guarani, Santos, Ponte Preta, AABB, Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e por aí vai . Eles têm sistemas de gerenciamento de quadro social, de controle de acesso a dependências diversas e ainda um programa pronto para sócio-torcedor, que é o que o Corinthians contratou. Não encontrei dados sobre a forma de cobrança feita pela empresa.


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Agora, a terceirização não é obrigatória. E um exemplo de clube que não o faz é justo o mais bem sucedido de todos - o Inter. Por lá, o trabalho é todo tocado internamente, desde 2000.

E trata-se de um dos poucos (o Vasco, agora, é mais um) em que o nome "sócio-torcedor" realmente faz sentido - já que o sujeito se torna efetivamente sócio, com direito a voto e tudo o mais. Algo importantíssimo para o crescimento e fortalecimento do clube como instituição.

2 comentários:

Ronel disse...

Monnerat,

Também não vejo como o aumento de sócios com direito a voto poderia prejudicar o Fla. Contudo, observo uma resistência a essa idéia partindo até mesmo de pessoas bem intencionadas lá do Blog da Flamengonet.

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Os números apresentados praticamente anulam a terceirização do projeto.

Bosco Ferreira disse...

Sócio torcedor sem direito a voto? É como brochado em cabaré!

Por mais amôr que se tenha pelo clube ninguem vai colocar o seu dinheiro onde não possa opinar através de eleições.

Me engana que eu gosto!