Desde o jogo contra o Coritiba, quando começou esta sequência de partidas sem vitória que agora parece infinita, os torcedores do Flamengo têm pensado e dito, para os outros e para eles mesmos: "calma, ainda somos líderes". "Calma, ainda somos vice-líderes". "Calma, ainda estamos no G4".
Bem, é hora de admitir: a coisa degringolou.
Degringolou, é claro, porque se perdeu o artilheiro do time. E ainda o único armador que havia no elenco.
Porque, junto com as perdas, houve contusões. Toró ficou fora vários jogos e está voltando agora. Kléberson saiu em um momento totalmente inoportuno. Angelim também andou ficando fora. E isso num período de dois jogos por semana, sem tempo nem pra recuperar os jogadores, nem pra treinar seus substitutos.
E porque Caio Júnior, enquanto dizia que não havia motivo pra desespero, pareceu ter se desesperado. Como eu vinha dizendo: a solução era procurar manter o que o time tinha de bom, sua base defensiva, o meio-campo que sabia manter a posse de bola. Foi o que, basicamente, deu a última vitória ao time, contra o Vasco. E procurar pensar apenas no acerto para o time volataar a colocar a bola dentro do gol. Não era muita coisa.
Mas o técnico passou a procurar soluções mágicas. Hoje foi Erik Flores e uma escalação com cinco no meio e Obina sozinho na frente - nada de Toró como atacante, como chegou a se falar. A escalação muda demais, o técnico parece não ter convicção no que está fazendo (tanto que, hoje, com 0x0 no placar, desistiu rápido do esquema que treinou durante a semana) e assim o time vai perdendo o que tinha - e ficando mais longe de se acertar no que faltava.
O primeiro tempo
É claro que Erik é o que há de mais próximo a um armador no elenco neste momento. Mas colocar de titular um menino como ele, claramente verde, claramente fraco fisicamente para jogar futebol profissional, tem um quê de desespero. Mas, pelo menos, o time sofreu pouco atrás, e poderia até ter feito seu gol. Léo Moura chutou pra fora uma boa chance e Obina, atacante solitário do time, participou de três lances de perigo: um lançamento em que Erik entraria na cara do goleiro, mas pisou na bola; uma cabeçada perigosa numa bola parada, em que Fábio fez uma boa defesa; e um passe para Toró marcar, infelizmente em impedimento de centímetros.
Obina saindo - erro previsível
Para o segundo tempo, Caio Júnior mostrou que realmente não vê Obina como um centro-avante - e sim como um bode expiatório. Não havia mesmo nada mais previsível do que esta saída do baiano, caso não tivesse marcado. Assim como antes ele entrava em todos os jogos, agora também sai no meio em todos.
Obina não estava mesmo jogando exatamente bem. Perdeu algumas bolas bobas, é fato. Mas também deu alguns bons passes, e sofria por estar totalmente sozinho à frente. Se alguém esperava que ele fosse resolver algo nessas condições, a culpa não é dele. A sua substituição era totalmente desnecessária. Caio poderia ter simplesmente lançado Vandinho ao seu lado, e não teria queimado uma troca à toa. E bem... Tardelli? Chega, né?
Tardelli, como de hábito, errou tudo o que tentou - não é modo de dizer; eu fui fazendo a marcação a cada jogada e ele realmente errou em todas, até sair com o braço quebrado. Uma fatalidade, logo após o Flamengo ter queimado sua última substituição, que acabou matando o jogo. Azar, claro - mas se o treinador não tivesse queimado a substituição do Obina, à toa...
O segundo tempo
Com um atacante a mais, era previsível que o time viesse com espírito mais ofensivo. Havia ainda uma novidade: Cristian jogando, na prática, como lateral direito, fazendo ultrapassagens, indo à linha de fundo como Léo Moura não faz há tempos. O gol acabou saindo num escanteio, com Vandinho fazendo aquilo pelo que é pago - parecia um roteiro escrito, com final feliz. E o Flamengo era o dono do jogo, com o contra-ataque à disposição.
Mas o Cruzeiro empatou, também em um escanteio. Bola desviada no primeiro pau é mortal, assim como Toró na área marcando o jogo aéreo. Minutos depois, veio a virada, de maneira previsível - leiam o post Cuidado com a defesa, escrito na quinta. Reparem na participação de Thiago Salles no lance: ele volta pelo meio, acompanhando ninguém, mal posicionado, servindo apenas para tirar o impedimento do ataque cruzeirense. E mais tarde quase deu ao Cruzeiro outro gol parecido, que só não saiu porque o bandeirinha levantou a bandeira erradamente. É um garoto, segundo reserva, não dá pra crucificá-lo. Mas era óbvio que havia necessidade de um cuidado e uma orientação especial para tê-lo em campo.
E aí cabe a observação: sem Angelim, o time sempre leva gols causados por quem entra em seu lugar. Foi assim contra o Vitória, contra o Palmeiras, agora contra o Cruzeiro. 9 pontos perdidos em sua ausência. O cara tem uma importância que ninguém suspeitava.
O clima pesou no estádio. Caio Júnior lançou Jônatas, pra tentar melhorar o passe no meio. E veio a contusão de Tardelli, deixando o time com um a menos e jogando uma pá de cal sobre as pretensões do time. No fim, a zona era tão grande que Fábio Luciano virou atacante - e por que não Thiago Salles, o zagueiro-artilheiro que errava no posicionamento lá atrás? Houve ainda uma bola de Jônatas que acertou a trave, apenas pra deixar bem claro para todos que hoje não era dia. Na verdade, o 2x1 acabou sendo pouco, pela quantidade de ataques simples que o Cruzeiro desperdiçou, entrando em vantagem contra a defesa rubro-negra.
Vandinho
Como criticar? Ele foi contratado pra fazer gol e fez, em sua estréia. No duro, o único lance que acertou. Antes de marcar, chegou a dar uma furada bizarra dentro da área digna de DVD do Obina. Mas a verdade é que a estréia que parecia de sonho virou uma verdadeira furada com a bagunça que o time se tornou após sofrer a virada e ficar com um a menos. Tem que esperar mais pra ver qual é a dele.
4/8/2008 - 16h00 - Flamengo 1 x 2 Cruzeiro
Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Renda/público: R$ 576.483,00 - 37.210 pagantes
Árbitro: Carlos Eugenio Simon (Fifa-RS)
Auxiliares: Altemir Hausmann (RS) e Ednilson Corona (SP)
Cartões amarelos: Juan, Thiago Sales (FLA); Charles (CRU)
Gols: Vandinho, 12'/2ºT (1-0); Guilherme, 21'/2ºT (1-1); Rômulo, 24'/2ºT (1-2)
Flamengo: Bruno, Léo Moura, Fábio Luciano, Thiago Sales e Juan; Jaílton, Cristian, Ibson, Toró (Jônatas, 27'/2ºT) e Erick Flores (Diego Tardelli, Intervalo); Obina (Vandinho, Intervalo). Técnico: Caio Júnior.
Cruzeiro: Fábio, Elicarlos, Thiago Heleno, Espinoza e Jadílson; Henrique, Charles (Fernandinho, 37'2ºT), Marquinhos Paraná e Wágner (Gerson Magrão, 33'/1ºT); Weldon (Rômulo, 15'/2ºT) e Guilherme. Técnico: Adilson Batista.
2 comentários:
PAULO CONSIDERA
Fala André. Só vejo vc falando uma coisa que acho à muito tempo: o jogo pelos lados do campo. Nossos laterais, são tudo, menos laterais. Eles jogam muito pelo meio do campo, e quando vão pelo lado raramente alguém encosta. Tínhamos o Marcinho encostando no Leo Moura. Perdemos isso. O Souza fazia isso com o Juan, mas acho que o Obina ás vezes continua fazendo isso. O Obina jogou bem contra o Palmeiras e ontem também. Deu bons passes, nos 2 jogos.
Acho que temos 5 problemas na equipe, taticamente, desde a época do Joel:
1) Volante fazendo papel de zagueiro.
2) Meio campo com 4 volantes.
3) Marcação individual em quase todos jogadores adversários.
4) Falta de marcação pressão, no campo adversário.
5) Time atacando muito pelo meio, sem abrir o jogo.
Analisando cada ítem:
1) Desde a época do Joel temos esse híbrido de zagueiro/volante. Nunca gostei disso, nunca. Nenhum técnico de ponta faz isso no Brasil. Na Europa nem de ponta nem ninguém faz. Voltando ao caso do Flamengo, o Joel começou com o Rômulo fazendo esse papel, até ele se machucar. Depois tivemos o Cristian e o Jaílton, esse na maior parte do tempo e até hoje. Já odiei o Jaílton, hoje aceito ele fazendo essa função porque não temos um zagueiro rápido que jogue pela direita, como é o Angelim na esquerda. Seria o Rodrigo, e quando ele chegou cheguei a "sonhar" com isso. Mas não rolou.
2) Outra coisa que ninguém faz. O Joel colocou esse time pra fugir do rebaixamento. Jogar atrás, como time pequeno, saindo nos contra-ataques, pra fugir do rebaixamento. E acho que ele estava certo, tínhamos que jogar assim mesmo. O time engrenou, desandou a vencer, e aí ele não devia mudar mesmo. Mas virou o ano e ele continuou com isso. Bom lembrar que na maioria dos jogos, o Flamengo conseguia o resultado, fazer os gols, quando ele mexia no time durante o jogo e soltava o time. O Caio chegou. Manteve o time num primeiro momento. No terceiro, contra o Inter, ele já mudou. E foi assim, até ele perder os 3 jogadores de frente. Acho que ele foi "obrigado" a voltar com o esquema de 4 volantes, não o crucifico.
3) Acho que aqui reside o maior problema do sistema defensivo do time. Jogando com 3 zagueiros é normal definir 2 desses zagueiros pra ir na "caça" e 1 ficar na sobra. Muitos técnicos fazem isso quando jogam com 3 zagueiros, quase todos. Agora, marcar individualmente todo meio campo do adversário não existe. E isso sempre ocorreu com o Joel e continua ocorrendo com o Caio, desde o começo dele. Vou só pegar o exemplo de ontem: Cristian pegava o Wágner, depois o Gérson Magrão. Os dois costumam cair pelo lado esquerdo, são canhotos. O Cristian ia junto pro lado esquerdo, direito de defesa. Com isso o meio ficava aberto pros volantes do Cruzeiro jogarem. O Marquinhos Paraná e o Henrique pouco saiam, mas o Charles teve liberdade pra chutar váris vezes de fora da área. Bruno fez grande defesa no primeiro tempo em chute dele. Ibson devia marcar o Charles, mas ás vezes ele não acompanha e não por culpa dele. Ele tem que jogar também, chegar na frente. A marcação tem que ser por setor.
4) Vi o VT do jogo do São Paulo ontem, contra o Vasco. É brincadeira o núimero de roubadas de bola no campo de ataque. Outros times fazem isso no Brasil. Na Europa quase todos fazem. Com o Joel raramente fazíamos, nunca fora de casa, ás vezes em casa.
5) E aqui reside o maior problema ofensivo do time. Desde o Ney Franco ocorre isso. Os laterais jogam muuito pelo meio. Quando abrem, raramente alguém encosta. Se mudarmos pro 4-4-2 a tendência é eles ficarem mais, e atacarem mais pelos lados, com menos liberdade de movimentação. Seria bom, mas acho que eles devam apoiar juntos, sendo o esquema com 3 zagueiros o ideal. Mas devem apoiar pelos lados, 90 % do tempo. Ás vezes pelo meio, raramente, em jogadas iniciadas pelo lado e eles passando em diagonal.
Escrevi demais, cansei. Mas acho que vc vai concordar comigo em quase tudo, vc parece analisar bem o jogo, igual a mim..rs..a gente se fala ae...falou...
Opa, Paulo...
O volante no papel de zagueiro é uma alternativa parecida com jogar com três zagueiros - sendo que um dos zagueiros pode sair pra dar combate mais à frente. Não é um problema em si, e foi a solução a que o Joel chegou pra liberar os laterais. Não sou o mais fã disso não, mas... É aquilo, foi dando certo,o Joel não mexeu, o Caio deixou como estava.
O meio com 4 volantes, agora, é algo que não tem muito jeito. Simplesmente não tem quem colocar de armador, tirando o Erik.
A marcação individual no meio... Isso é esquisito, mas confesso que é algo que eu realmente não observei todo jogo. Acho que tenta-se fazer marcação individual em homens chave, como Valdívia ou Wagner - e nisso, os outros acabam cada um pegando o seu também, até porque tem pouca gente marcando no meio. O que eu vejo é que o Flamengo, em muitos momentos, acaba começando a marcar atrás demais, deixa o adversário chegar muito perto da própria área pra dar combate. O segundo tempo contra o Botafogo, por exemplo, foi inteiro assim.
E nessa a gente cai no seu quarto ponto. Pensar em marcação à frente, do jeito que esse time joga, é até piada. Mas isso vem do fato até de jogar com 4 volantes. Os 4 estão acostumados a se colocar mais atrás (assim como a dar opção de jogo sempre por trás de quem está com a bola). E vai custar pra tirar esse cacoete deles.
Dos laterais, já cansei de falar. O time não é armado pra atacar com eles pra valer, não tem jogadas, não tem movimentação ensaiada pra isso. É simplesmente bola pra eles, e que se virem. E eles, procurando companhia, acabam vindo pro meio quando a coisa tá feia.
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