O que o Flamengo pode aprender com o Coritiba?

Clube paranaense saiu da Série B em 2010 para sua segunda final de Copa do Brasil seguida e já figura entre as maiores receitas do futebol brasileiro.



Muita gente se apega à ideia de que o Brasil tem 12 "times grandes". Seriam os quatro principais do Rio, os quatro de São Paulo, os dois de Minas e os dois do Rio Grande do Sul. Pode ser. Mas você sabe dizer quais são os 12 clubes de maior receita do país?

Em 2011, este grupo coincidiu quase que totalmente com os tradicionais 12 grandes. A única diferença foi exatamente no último integrante: no lugar do Botafogo - 13o colocado, que hoje publicou explicações curiosas sobre os números de sua dívida -, lá está o Coritiba. Clube que estava na segunda divisão em 2010 e que amanhã decide contra o Palmeiras sua segunda Copa do Brasil seguida, depois de quase conseguir uma vaga para a Libertadores através do Campeonato Brasileiro no ano passado.

O sucesso dentro de campo não tem cara de coincidência. O clube não só apareceu na 12a colocação entre os que mais arrecadam no país como também deu um incrível salto em seu número de sócios: de 2500 em 2010, chegou este ano a 31 mil. São resultados de uma mudança radical em seu modelo de gestão, assunto de que nós rubro-negros ouviremos muito falar até as eleições de dezembro.


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A virada do Coxa começou no que provavelmente foi o dia mais triste de sua história. No mesmo domingo de 2009 em que o Flamengo conquistou seu hexacampeonato brasileiro, os paranaenses amargaram o rebaixamento para Série B. No ano de seu centenário. As cenas feias do jogo contra o Fluminense no Couto Pereira, quando a torcida promoveu um quebra-quebra histórico, renderam ainda a perda de mando de campo por um longo período e uma multa de R$300 mil.

Um dos presentes ao estádio naquele dia era Vilson Ribeiro de Andrade. Ele conta que, em meio a toda violência, não conseguiu encontrar seu carro no estacionamento. Voltou pra casa a pé, triste e pensativo. Ao chegar em casa, comunicou à esposa: "vou assumir o Coritiba".

Ex-CEO do HSBC, Vilson Ribeiro de Andrade passou a ocupar a vice-presidência e tornou-se homem-forte da administração de um clube que, na época, ninguém queria dirigir. Criou um planejamento estratégico para tirar seu time de coração daquela situação, fez a instituição passar por uma auditoria completa e reestruturou a diretoria, contratando profissionais de fora do futebol para tocarem os diversos setores da administração.

- Montamos uma empresa, com todos os seus departamentos: controladoria, auditoria, área de processos, tecnologia. E ainda criamos um fluxo de caixa diário e um caderno executivo de ações. 

Hoje, com Vilson já presidente, nove conselheiros não-remunerados, com experiência no mercado, formam uma espécie de Conselho de Administração conhecido como G-9. Abaixo deles, empregados assalariados executam o trabalho dentro do planejamento estratégico estabelecido, avaliados a partir de indicadores de performance com metas bem definidas.

- Tudo é classificado em quatro cores: azul, quando a meta foi cumprida no prazo e o trabalho está encerrado; verde, quando o cumprimento da meta está no tempo previsto; amarelo, quando há atraso; e roxo, quando está complicado. O executivo já é chamado a se explicar quando chega no amarelo.

Estes executivos, vejam vocês, foram recrutados bem longe do futebol. O que, para Vilson, é uma qualidade.

- Quanto mais você acha que entende de futebol, pior é. Os dirigentes são passionais e têm uma visão muito curta. Você tem que amar seu clube, mas tem que ter equilíbrio. Se você envolve a paixão, destroi seu clube, pela melhor intenção que tiver. Temos ex-diretores de quase todas as multi-nacionais: HSBC, Volvo. São normalmente pessoas que se aposentaram em suas profissões. Claro que o clube não tem condição de pagar um salário que se equipare ao de uma multi-nacional.

A meta da administração é zerar o déficit do Coritiba, que no último ano foi de quase R$12 milhões. Sua gestão foi tema de matéria recente na revista de negócios Exame: O que a virada do Coritiba ensina sobre gestão fora dos campos.


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Se vai continuar dando certo a longo prazo, não sei dizer e seria preciso acompanhar o trabalho mais de perto para falar com mais propriedade sobre suas qualidades e defeitos. Mas amanhã o time tentará novamente uma vaga para a Libertadores que bateu na trave no ano passado, tanto no Brasileiro quanto na Copa do Brasil.

Os ingressos estão esgotados e a torcida promete uma festa inédita: através de uma ação de crowdfunding, arrecadou mais de 100 mil reais para criar o "Green Hell tecnológico", em que os tradicionais sinalizadores serão substituídos por refletores e máquinas de fumaça a cargo de uma empresa especializada em eventos.

5 comentários:

Unknown disse...

Parece que estamos falando de um outro mundo. Isso é tão distante do nosso Flamengo de hoje que parece fora da realidade.

Muito inteligente a ação de crowdfunding. Nada daquelas loucuras de trazer jogador, mas uma ação simples, objetiva, barata, com vários atrativos para quem apoiar.

Pena que no Flamengo seja tão difícil alguém chegar assim, bater no peito e falar: "vou assumir o Flamengo". Há muitas forças lá dentro. Mas, não custa torcer (até o dia em que conseguir ser sócio e começar a agir).

SRN

Unknown disse...

Gostei muito!
Infelizmente, como disse o amigo Ricardo, impossível de visualizar isso no Fla num futuro próximo.
Imaginem essa ação de crowdfunding sendo conduzida com seriedade no Flamengo! Seria um sucesso!

Unknown disse...

Vejam também a ação do Vitória para doação de sangue. Ideia genial.

Blog do Erich Beting: A lição do Vitória e da Penalty para o esporte.

E o Flamengo tem parceria com a Unicef, mas não lembro de nenhuma ação marcante. Aliás, não lembro de ação alguma.

SRN

André Monnerat disse...

Ricardo, a ação do Vitória é ótima. Acho que coloquei no Twitter e no Facebook do SobreFlamengo há um tempo atrás.

Sobre a Unicef no Flamengo, é o que eu escrevi na época: adoraria se realmente se tornasse uma parceria pra valer e o clube se esforçasse para usar sua força fazendo diferença para a sociedade. Mas, com o tempo passando, estamos vendo que não é bem assim. Até agora, rolaram umas palestras internas, de treinamento de profissionais do clube para lidar com crianças... Parece algo voltado mais pra dentro do que pra fora do clube.

Insurance USA disse...

Não sei se acho lindo ou se fico triste...