A guerra contra Ronaldinho: um "tiro de canhão" que pode ser no próprio pé

Ao atacar a imagem do jogador que antes era seu orgulho, diretoria do Flamengo expõe seus próprios desmandos.



A tal artilharia pesada que o Flamengo prometeu usar contra Ronaldinho Gaúcho nos tribunais começou a aparecer ontem, com a divulgação do vídeo que prova que jogador fugiu de seu quarto no hotel onde o elenco estava hospedado para a pré-temporada em Londrina para passar a noite com uma mulher. O Vice-Presidente jurídico do clube já avisou que as imagens serão usadas como "defesa e contra-ataque" no processo. Todos imaginamos que mais coisas do gênero ainda aparecerão.

Não li o contrato de Ronaldinho com o Flamengo. Não sei efetivamente o que o clube andou deixando de depositar em sua conta. E não sou advogado. Assim, vou evitar comentar as chances desta estratégia rubro-negra dar certo na Justiça. Seria leviano.

Mas, independente de ganhar ou perder esta causa, a "batalha implacável" que a diretoria decidiu travar contra os irmãos Assis já tem um efeito colateral: prova, por A+B, a zona completa que é o Flamengo de hoje. Ora, é claro que este vídeo do hotel não surgiu agora; a diretoria o tem em mãos desde aquela época. O então treinador Vanderlei Luxemburgo viu, reclamou, pediu punição. O resultado? Foi mandado embora. É possível agora a diretoria afirmar que Ronaldinho cometeu ali um ato de indisciplina? Sinceramente, pelo que entendi das consequências daquilo, indisciplinado deve ter sido o Luxemburgo.

É apenas um exemplo. Inúmeras vezes Ronaldinho alargou o conceito de "profissionalismo" dentro da Gávea e nunca foi multado, afastado, punido de qualquer forma. "Notificado"? Pode até ser. Mas, no fim das contas, ele foi titular até o fim e só saiu porque quis, embora o discurso de De Piro hoje faça parecer que foi o Flamengo quem o mandou embora por não mais aguentá-lo - algo que eu defendia aqui neste humilde espaço há muito tempo. Infelizmente, não foi o que aconteceu.

Ouvir Zinho afirmando daquela forma que "acabou a bagunça" foi bacana. É por aí mesmo. Mas Patrícia Amorim, sentada ao lado de seu novo diretor, deve ter entendido na hora que, naquela frase, vinha uma crítica clara à sua administração. Se acabou a bagunça, é porque bagunça havia. E quem era mesmo responsável por ela?

Bem, Patrícia e seus companheiros devem saber bem o que estão fazendo ao se exporem assim. Devem estar muito certos da vitória nos tribunais sem necessidade de qualquer negociação de dívida - afinal, difícil imaginar agora qualquer boa vontade de Assis na hora de definir condições de pagamento do valor que o clube porventura lhe deva. E devem calcular que agir desta forma não atinge a imagem da instituição, sequer prejudica negociações em andamento com possíveis patrocinadores. Empresa nenhuma deve se importar em ver sua marca associada a isso, certo?

Mas que fique claro: esta cruzada contra Ronaldinho não é "uma causa de todos". Ao menos, minha não é. Causa que eu poderia abraçar seria a de evitar que o Flamengo novamente se sujeite a curvar-se de maneira tão patética diante de um jogador claramente descompromissado com sua história e sua torcida, como aconteceu no último ano e meio. E de evitar ver o clube outra vez nas mãos de dirigentes quase sempre mais preocupados em salvar sua própria imagem do que no bem real da instituição que comandam.

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Ronaldinho já está no Atlético-MG. Não preciso dizer que não apostaria meio centavo no sucesso disso. Mas ao menos a aposta mineira está sendo bem menor que a rubro-negra. O prazo é menor, o custo é menor, as amarrações administrativas e de imagem em torno dele são bem menores. É uma contratação que eu jamais faria mas, se der errado, ao menos o estrago não será tão grande. E Ronaldinho assim aceitou por saber que, no Brasil, dificilmente conseguiria coisa melhor hoje em dia.

A probabilidade disso não acabar mal para o Atlético diminui bastante se seu presidente não olhar para Ronaldinho com expressão semelhante a esta, da presidente rubro-negra, em sua apresentação. Todo mundo já percebeu que ele, hoje, não merece tamanho deslumbramento.



Patrícia, só lhe peço o seguinte: se o Kahlil realmente resolver levar também Adriano (e Bruno, de repente Wellinton, dá pra pensar em outros que poderiam ir junto), por favor não fique no caminho. Mande um e-mail de agradecimento e siga sua vida.

6 comentários:

Luis disse...

Perfeita análise, André! Mas o Galo deveria levar, além de Ronaldinho/Adriano & Cia, o Joel e toda a diretoria do Mengão. Aí sim as coisas vão começar a melhorar!

flages disse...

Nada a comentar. Nota 10 para a análise!

João disse...

Por que não levar a Patrícia Amorim pra ser diretora de esportes amadores?

Gabriel Folha disse...

Nos próprios pés: ao encerrar qualquer possibilidade de "boa vontade" do empresário (que já não deveria se esperar), e ao implicar cumplicidade ao Flamengo em qualquer que seja a "indisciplina" do ex-craque.

Unknown disse...

Realmente em matéria de balbúrdia e falta de comando o Flamengo é PHD.

Como eu já disse: desse jeito TODOS sairão perdendo. R10 não verá a cor da sua grana tão cedo e o Flamengo sairá endividado (mais ainda) e com sua imagem destruída.

Muito triste.

Murdock disse...

Eu lembro de ver algumas declarações dela sobre o Adriano de que ele podia faltar a treinos porque... sei lá porque já que em 2010 ele já não se mostrava muito Imperador mas devia ser pelo que ele fez em 2009 (a mesma coisa que faz tantos torcedores o quererem de volta hoje).

Isso mostra mais que a história de profissionalismo sempre foi mais papo do que realidade na Gávea.

Agora torço para que essa bagunça não se reflita no que pode ser o pior episódio da história rubro-negra.