"Momento inoportuno"?

Pra não dizer que não escrevi sobre a polêmica da semana. Texto da coluna semanal no FlamengoNet.




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Já faz algum tempo que, em diversas entrevistas sobre outros assuntos, Zico vinha se esquivando de responder quaisquer perguntas sobre o Flamengo. Se limitava a dizer que "sobre o Flamengo, não falo nada", fosse qual fosse o tema em questão - o time, a diretoria, o técnico, qualquer coisa. Mas nesta semana uma boa repórter insistiu um pouco mais e conseguiu que ele desenvolvesse um tantinho os motivos para andar se recusando a falar sobre o clube. E aí veio todo este barulho.

Júnior teve o que dizer sobre o assunto. Doutor Leonardo Ribeiro (foto aí em cima), claro, também. Repórteres, colunistas, blogueiros, comentaristas - todos trataram das palavras de Zico. Foi o assunto rubro-negro da semana. Aí chegou a vez de Luxemburgo ser perguntado sobre o tema. E ele, além de dizer que Zico deveria "separar as pessoas da instituição", falou que as declarações foram em "um momento inoportuno".

Será que foram mesmo? Luxemburgo ficou mesmo insatisfeito com toda a repercussão neste "momento inoportuno" ou sentiu algum alívio ao ouvir as pessoas discutindo dois jogadores que pararam de jogar há mais de 15 anos, em vez dos que estão entrando em campo agora e seguem há oito partidas sem vencer, com uma atuação ruim atrás da outra, um esquema que não funciona e falhas semelhantes que se repetem rodada após rodada? Será que ele não gostou de dar e ver divulgadas declarações de amor ao Flamengo e dedicação incondicional à instituição, em vez de explicações táticas e técnicas sobre o momento difícil do time?

Talvez não seja o caso. Mas, se não aconteceu com Luxemburgo, tenho certeza que houve quem gostou desta discussão distorcida, com tantos falando de declarações que Zico, afinal, nem queria dar.


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Acho triste ver o maior ídolo da história do Flamengo, o meu maior ídolo, falando desta maneira sobre sua relação atual com o clube. Gostaria que ele não lidasse assim com a situação.

Mas já cansei de ver torcedores do Flamengo e de outros times dizendo que estão cansados e se afastando por um tempo de jogos e noticiários, simplesmente por lerem notícias ruins ou presenciarem algum vexame no estádio. Vocês não conhecem nenhum rubro-negro ou tricolor que tenha reagido assim por algum tempo após derrotas pra Santo André ou LDU? Cada um assimila as coisas de seu jeito, mas é compreensível que alguns ajam assim - estão chateados, magoados, ao verem seu tempo e sua dedicação ao clube ser mal retribuída. E estamos falando simplesmente de ver algo que não gostou pela TV ou na arquibancada; agora imagine se estas pessoas, em vez de apenas verem seu time perder, sentissem os que comandam a instituição que amam os atingindo pessoalmente, junto com suas famílias.

É muito fácil falar de fora que "é preciso separar as pessoas da instituição". A instituição, meus caros, é maior que as pessoas, mas é feita por pessoas. É bonito falar do Flamengo como uma força mística e eterna, mas ele é o que é pelo que pessoas, de carne e osso, fizeram dele ao longo de sua história.

E o que os jogadores fazem, o que diretores fazem e o que nós torcedores fazemos hoje vai influenciar não apenas os sentimentos do Zico hoje - é natural, ainda mais pra quem tem relacionamento direto com aquilo -, mas também como o Flamengo será visto ao longo do tempo daqui pra frente. É assim que funciona, para o bem ou para o mal. Se o Botafogo é hoje visto como um clube que valoriza seus ídolos, é porque pessoas que passaram pelo Botafogo (menores que o Botafogo, certo?) agiram assim em diversas oportunidades. E é óbvio ainda que o Vasco é maior que Eurico Miranda, mas Eurico mudou e muito a maneira como o Vasco foi percebido por toda uma geração, em todo o país. Ou não?

É bom então se preocupar com o que pessoas, menores que o Flamengo, fazem com ele. E não apenas para preservar os sentimentos do Zico.

Zico e Júnior não são deuses. São humanos, falíveis. Erram, erraram. Talvez não fossem as pessoas mais indicadas para ocupar os cargos de direção que tiveram por um período curtíssimo de tempo cada um. Mas o que alguns estão tentando fazer é desassociar o Flamengo de pessoas como eles, dando a entender que o clube não é Zico e Júnior - o clube, então, dever ser eles. Eles, que estão sempre lá, é que amam o Flamengo, entenderam? E enquanto Zico, Júnior e outros duram pouco e se afastam, quem age e pensa como dono do Flamengo permanece, por longos e longos anos. Do jeito que a coisa está indo, eles também vão acabar conseguindo, como Zico fez, deixar sua marca na história e na identidade do clube. E ainda aparece jornalista de nome por aí dando força ao discurso oportunista deles - que, não se enganem!, não são um só, ao contrário do que às vezes possa parecer

A quem isso interessa? Ao Flamengo - que é maior que Zico e Júnior, mas certamente bem maior que eles - é que não é.

10 comentários:

Luiz Filho disse...

Perfeito André!
Parabéns por mais um belo texto!

Nem preciso dizer o mal caráter que é o RMP!

Um Imbecil!

Eduardo H. Costa disse...

Pra MIM, o Flamengo é FLAMENGO pelas conquistas realizadas no final de 70 até início dos 90. Coincidentemente foi a época que Zico, Júnior, Adílio, Andrade, Leandro, Raul, Nunes e todos os outros heróis que deixaram a sua marca por lá.

Era líder de organizada? Essas coisas de arruaceiros que soltam bombas em plena Gávea? Olha a raiz do cara... Ninguém tem um dossie Cap. Leo não? Histórico? Como entrou no cenário politico do clube, ficha criminal?

É brincadeira....


"Capitão" Leo, a sua hora vai chegar.

lussiannosousa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lussiannosousa disse...

Eu acho que Zico tem motivos sim pra estar chateado. Mas continuasse calado como vinha fazendo. Acho sim que foi inoportuno suas declarações não só pela fase do time hj, mas pelo que vem passando desde o ano passado. É o segundo maior patrimônio do clube se voltando contra ele. O Flamengo não precisava disso. Como Zico mesmo disse, o que precisa ser dito, vai - ou foi, não sei mais em que pé isso anda - ser dito na justiça.

Marcelo Constantino disse...

André, o artigo vinha irrepreensível até a hora de dar cartaz e ainda classificar um dos mais reconhecidos picaretas do jornalismo (??) esportivo brasileiro como "jornalista de nome".

Marcos André Lessa disse...

Sobre o RMP,compartilho o q penso dele: http://futebolracional.blogspot.com/2010/10/profissionalizacao-do-cinismo.html

Eduardo disse...

Olha, a solução é nós que tivermos saúde e dinheiro, comprar um título de sócio proprietário. Sim, só esse tipo lhe dá algum direito de futuramente fazer parte de Conselho, enfim, tentar mudar algo.
Tenh um amigo muito próximo que é sócio, está sempre lá dentro, vai aos jogos pagando do seu bolso e me pede sempre isso. So juntando pessoas de bem que teremos força lá dentro.
Estou pensando, mas ao mesmo tempo vejo que isso me trará um enorme desgaste emocional.
Ou largo de mão de vez ou vou para a briga.
Ficar na arquibancada reclamando após a derrota,não dá mais.
E vc André?

André Monnerat disse...

Eduardo, eu já me fiz este questionamento que você está se fazendo e já tomei minha decisão. Comprei meu título de sócio proprietário em 2009.

Eduardo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Netto ribeiro disse...

PERGUNTARAM PARA O BOCHECHA. QUANTAS RODADAS O FLAMENGO NÃO GANHA NO BRASILEIRO?
E ELE RESPONDEU CANTANDO -SÓ NOVE,SÓ NOVE,SÓ NOVE,SÓ NOVE,SÓ NOVE,SÓ NOVE,SÓ NOVE...,SÓ NOVE,SÓ NOVE,SÓ NOVE,SÓ NOVE,SÓ NOVE..........................