Será que Luxemburgo assistiu ao jogo de ontem da Seleção?

Se as atuações do Flamengo não convenceram o treinador a mudar até agora, talvez a do Brasil contra a Argentina possa ajudar.



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Tem horas em que fico pensando que realmente técnicos enxergam coisas no futebol que nós, leigos, não conseguimos. Por exemplo: eu não conheço nenhum torcedor do Flamengo que fique satisfeito com o rendimento de Renato Abreu quando ele é escalado como armador. Pois não só Luxemburgo insiste com isso rodada após rodada, mas também Mano Menezes entrou numa de concordar com ele - e colocar o cara pra ser armador da Seleção. Mano e Luxemburgo não são iniciantes, devem saber o que estão fazendo.

Fato é que, assim como não parece funcionar nunca no Flamengo, não funcionou ontem na Seleção. E Mano escalou seu time numa formação que até lembra a de Luxemburgo, com Ronaldinho e Neymar bem adiantados e o meio-campo dependendo de Renato e outros dois volantes para fazer a bola chegar ao ataque. O resultado é que, até Renato ser substituído, o Brasil havia dado apenas dois chutes a gol, um deles numa falta cobrada de muito longe por Ronaldinho.

Aí Mano resolveu mudar. Substituiu Renato por Oscar, mas não colocou o garoto do Inter na função do veterano do Flamengo; fez ele jogar mais à frente, aberto pela esquerda, como vem atuando em seu time, e fez Ronaldinho jogar mais recuado e centralizado para fazer a armação do time. Oscar nem entrou bem - chegou a se enrolar pisando na bola mais de uma vez -, mas de repente o Brasil, nos 10 ou 15 minutos seguintes, resolveu jogar bem mais do que tinha feito em todo o resto da partida, com Ronaldinho tocando mais na bola e distribuindo o jogo. Será que foi surpresa pra alguém esta evolução ao trocar Renato por Ronaldinho na armação? Alguém realmente achava que aquele meio-campo que iniciou o jogo tinha como funcionar?

A mexida na Seleção ontem é o que muita gente pede que seja feito também no Flamengo. Talvez Luxemburgo não o faça por não confiar que Ronaldinho consiga, iniciando uma partida nesta função, manter o ritmo ao longo de todo o jogo - e na verdade, depois da melhora inicial após a mudança, o Brasil até terminou o jogo novamente sem conseguir produzir muito e deixando a Argentina ter a posse de bola. Mesmo assim, acho que pode valer a tentativa.

O que não dá é pra continuar esperando criatividade de um meio-campo formado por Ralf, Paulinho e Renato. Ou Aírton, Willians e Renato. Acho que isso já foi testado o suficiente.

4 comentários:

Gabriel Folha disse...

A verdade é que assim como o Luxemburgo, talvez até mais, o Mano escalou a seleção de maneira covarde mesmo. Ainda que digam que não, ele se sente a perigo, tem medo de colocar o time pra jogar.

Esse esquema, o famigerado 4-2-3-1, que na realidade, com esses treinadores é um 4-3-0-3, ajuda a passar uma idéia de ofensividade em razão dos 3 da frente, mas na realidade os ajuda a escalar 3 volantes.

O esquema real, que todos querem imitar (do Barcelona) jamais irá funcionar com jogadores como os que os técnicos brasileiros insistem em escalar, nem no Flamengo, nem no Brasil, nem no Arimatéia.

Dizer que o Renato fara a armação das jogadas é como dizer que o Paulinho é um volante moderno que marca e apoia, é como dizem todos e quaisquer treinadores qndo lançam um volante a mais pq ele pode cumprir "dupla função".

Não é a toa que os técnicos brasileiros estão e sempre estarão no segundo escalão do futebol mundial.

patrick disse...

André,

Há tempos vc escreve sobre o esquema e a escalação ruim do Flamengo. Mas as vitórias mascararam o que agora todos veem.
Há tempos fala sobre 2 zagueiros ruins, quando ainda não falavam do David Braz.
E como o time dependia de lampejos e de mudanças no segundo tempo.

Pois é, agora todos veem que o time não tem armador. Essa queda acentuada tem vários fatores e esses citados acima já eram conhecidos: apenas ficaram mais evidentes com outros problemas. E mesmo que continuássemos com Léo Moura, Thiago Neves, Willians jogando bem, o aproveitamento certamente cairia.

Mas me parece que o pior é a relutância do Luxemburgo em mudar. Ele já disse que o esquema dele é 'fechar o meio e apostar no talento'. Agora, sem talento resolvendo terá como ele se ater a essa escalação?

Bosco Ferreira disse...

Isso só confirma o fato de que não temos mais treinadores no Brasil a anos. A nossa pouca modestia não nos faz ver o óbvio. Temos que começar a pensar em importar treinadores estrangeiros para nossos clubes a fim de num futuro possamos voltar a ter treinadores brasileiros.

Marcos Monnerat disse...

É a famosa tática do comentarista/treinador Washington Rodrigues que se resumia a: "bico pra frente que os três tenores resolvem".