Loco Abreu faz dois gols e, ainda assim, é decisivo para a reação do São Paulo

O Botafogo precisa melhorar nos momentos em que dá prioridade à defesa. Mas é preciso valorizar o trabalho de Caio Júnior.



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Há umas duas semanas, li no blog do PVC uma entrevista em que Caio Júnior falava de seu trabalho no Botafogo. Todo mundo, rubro-negros bastante incluídos, tem um pé atrás com Caio Júnior, mas algumas das declarações dele me deixaram uma boa impressão.

"Mudei muitas coisas na minha maneira de trabalhar, depois de passar pelo Catar. Passei a observar mais o trabalho dos técnicos europeus e me concentrei em uma coisa: manter o sistema e acreditar nele até o fim. Trabalhamos muito a compactação sem a bola e as triangulações com ela. Triangulações são uma coisa que o Barcelona faz muito. Estamos também treinando muito as viradas de jogo." 
"Outra coisa que estamos fazendo é correção de alguns defeitos individuais e coletivos com vídeos. Estamos selecionando não apenas as falhas, mas também os acertos da equipe e isso tem dado resultado magnífico em vários jogadores. (...) Pela sua característica, eu pensava no Felipe Menezes para jogar ali por dentro. É o jogador mais preparado para essa função, pelo seu estilo. Mas o Elkesson tem de jogar e e então decidimos trabalhar com ele nessa função. Às vezes, ele perdia muitas bolas por conduzir no lugar errado do campo. Os vídeos serviram também para mostrar isso. Hoje, esse defeito diminuiu."

Só por esta curta entrevista, Caio Júnior me passou a imagem de um profissional não acomodado, interessado em se aprimorar, que entende quais são os principais fatores para um time funcionar e sabe usar as ferramentas certas para fazer seus jogadores entenderem o que ele quer. Pode até ser uma visão otimista demais sobre seu trabalho. Mas, quando assistimos ao Botafogo jogando em casa, realmente vemos isso funcionando.

O primeiro tempo do Botafogo hoje, contra o São Paulo, foi realmente muito bom. Marcação funcionando, boa saída de bola, jogadas pelos dois lados do campo, vários lances de gol criados. E, como Caio Júnior falou na entrevista a PVC, triangulações funcionando, com os jogadores se movimentando pra dar opção de passe, ultrapassando pra receber - o tipo de coisa que raramente vemos no estático Flamengo, por exemplo. Mesmo nos momentos ruins do Botafogo, a gente consegue ver esta preocupação dos jogadores, de se movimentar pra buscar o espaço vazio e facilitar a vida de quem vai dar o passe.

Mas "é por isso que o futebol é apaixonante". O Botafogo vencia por 2x0 e tinha o jogo nas mãos. Mesmo no segundo tempo, dominava o jogo com tranquilidade, até um momento chave, mais ou menos aos 15 minutos: após grande jogada de Elkeson, Loco Abreu perdeu um gol embaixo da trave, de maneira inacreditável. No lance seguinte, o árbitro marcou equivocadamente um recuo de bola para o goleiro do Botafogo e quase o São Paulo diminuiu; na cobrança de escanteio que veio na sequência, Renan teve que salvar de novo o alvinegro com uma grande defesa. O clima do jogo mudou, o São Paulo foi pra cima e passou a dominar. No fim, mesmo com o Botafogo tendo controlado a maior parte do jogo, o volume que o São Paulo teve na metade final do segundo tempo fez o empate que veio no finzinho parecer até justo - e por muito pouco Rivaldo ainda não virou o placar, já nos descontos.

E aí está um grande problema do Botafogo: o time parece não saber lidar bem com a situação de "jogar pelo resultado", em momentos em que o adversário chama a responsabilidade de tomar a iniciativa do jogo. É o que faz os resultados fora do Engenhão serem bem piores - a equipe entra em campo meio satisfeita com o empate, dá prioridade demais à defesa e se deixa pressionar, com uma postura muito diferente da que assume dentro de casa. E foi meio que esta postura de visitante meio medroso que teve hoje no Engenhão, a partir do momento em que o São Paulo resolveu atacar pra valer e a equipe já tinha 2x0 a favor. Marcou atrás demais, não conseguiu sair jogando e deixou que o adversário controlasse totalmente a partida. Deu no que deu.


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Dá pra dizer que o gol perdido por Loco Abreu foi decisivo para o jogo. Se tivesse feito o terceiro ali, é provável que o Botafogo tivesse terminado a partida com uma goleada.

Mas é aquilo: Abreu teve umas quatro ou cinco oportunidades de gol no jogo - a mais clara que perdeu acabou pesando, mas converteu duas. Quantas vezes vimos este ano um centroavante do Flamengo, seja ele quem for, ter quatro ou cinco chances claras de marcar em uma partida? O normal é mal pegar na bola e aparecer uma oportunidadezinha só, se der sorte. E ai dele se perder.


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E o Vasco, que agradeceu muito o empate no Engenhão, segue com uma campanha impressionante. Começou o campeonato jogando várias partidas com o time reserva, por conta da Copa do Brasil. Conquistou o título, que lhe garantiu na Libertadores, o que poderia ter gerado um relaxamento no Brasileiro. E ainda perdeu o técnico que montou todo o trabalho do time de maneira inesperada e potencialmente traumática.

Mas segue vencendo, contra as expectativas de todos os especialistas. O título vascaíno parece cada vez menos difícil de acontecer.

É bom que a série ruim do Flamengo realmente tenha se encerrado ontem. Hoje, não parece nada difícil que no ano que vem tenhamos os outros três cariocas disputando a Libertadores.

Um comentário:

Paulo Sales disse...

Assisti a Vasco e Cruzeiro, e me impressionei com algumas virtudes do time carioca, que você enxerga também no Botafogo. É incrível como eles roubam a bola na intermediária e partem com cinco, às vezes seis jogadores rumo ao ataque. E o principal: cada jogador sabe a sua posição exata. Não consigo entender por que o Flamengo é incapaz de fazer o mesmo, apesar de não contarmos com jogadores como Juninho, Diego Souza, Eder Luis e até Fagner.