O adversário da decisão de domingo

O que dá pra falar do Vasco, freguês preferencial do Flamengo que tentará mudar a história dos últimos... quantos anos mesmo? Texto da coluna da semana no FlamengoNet.


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Depois de um começo de temporada muito ruim com um time treinado por PC Gusmão, com jogadores descontentes com o técnico e um esquema que contava com Carlos Alberto como homem-chave, o Vasco mudou muito para a Taça Rio. É outro treinador, outro esquema, outro elenco. Hoje, trata-sede uma equipe inconstante – até mesmo dentro de uma mesma partida, alterna momentos muito bons com momentos muito ruins -, ainda com diversos defeitos, mas já com recursos interessantes. Enquanto o Flamengo segue regular em seus resultados, mas sem nunca mostrar um futebol que realmente empolgue, o Vasco é o contrário: volta e meia tropeça ou leva mais sustos do que deveria, mas em seus melhores momentos mostra um jogo bem mais interessante de se ver do que o rubro-negro.



A dificuldade de manter por muito tempo o que dá certo

Taticamente, Ricardo Gomes tenta um esquema com marcação adiantada e as diversas linhas jogando próximas umas das outras – os volantes perto dos meias, os zagueiros perto dos volantes -, para diminuir o campo para o adversário e reduzir o espaço para ele trabalhar. Luxemburgo andou comparando há um tempo as suas opções com as do Barcelona atual, mas a comparação é mais válida para esta tentativa do técnico do Vasco. O time consegue seus melhores momentos quando consegue se encaixar neste esquema.

Mas a explicação da irregularidade do Vasco passa justamente pela dificuldade em manter esta marcação pressão por muito tempo, algo que pouquíssimas equipes no Mundo são capazes de fazer. E quando o esquema afrouxa, os defeitos defensivos do Vasco aparecem bastante. Os dois volantes – Rômulo e Felipe Bastos – não são exatamente cães de guarda, bem pelo contrário; funcionam quando o time está compacto e o espaço pro adversário fica naturalmente reduzido, mas quando as linhas se afastam e eles ficam mais expostos para marcar diretamente, a coisa se complica bastante. A zaga acaba ficando desprotegida e, justamente por isso, o Vasco foi o time grande a sofrer mais gols dos pequenos, mesmo na Taça Rio (foram 10 em seis jogos, uma média bastante alta).

Ofensivamente, quando o time está bem, consegue manter bastante a posse de bola e mostra um futebol interessante de se ver – mas chuta pouco a gol e, quando conclui, costuma perder muitos gols. Diego Souza, até agora, não achou seu lugar no campo e participa pouquíssimo das partidas. Por isso, a criação depende muito mesmo da movimentação de Éder Luís e, principalmente, dos passes imprevisíveis de Felipe.


Felipe

Felipe, pela importância neste time, merece uma análise à parte. Ao longo da carreira, muitos técnicos preferiram colocá-lo em funções onde seus dribles vistosos apareciam mais (de maneira pouco produtiva, muitas vezes) do que sua principal qualidade: a visão de jogo e a facilidade no passe vertical entre os defensores. Hoje não é o caso e ele tem atuado mesmo como o principal armador do time. Quando se aproxima dos atacantes, seu drible até se torna perigoso para abrir espaço na defesa do adversário – não para ele mesmo concluir, mas sim pra obrigar algum defensor a sair na cobertura e, neste momento, servir um companheiro que fique livre. Mas, em outros momentos, ele recua para buscar a bola na linha dos volantes e participar da saída da defesa. É quando costuma acontecer do volante adversário sair para acompanhá-lo e alguém se aproveitar exatamente deste espaço que se cria para receber o passe do próprio Felipe. É um movimento manjado e perigoso deste time do Vasco.

Mas Felipe, ao mesmo tempo em que é uma grande arma do Vasco, também acaba sendo uma fraqueza. Pela dependência que o time tem dele, basta anulá-lo para ter meio caminho andado, e ele hoje já não tem esta mobilidade toda para escapar de uma marcação mais pesada. Além disso, invariavelmente ele morre nos últimos 20 minutos de jogo. Nesta fase do jogo, Ricardo Gomes inicialmente o substituía por Jefferson, que agora nem no banco fica mais. Mas, convencido de que o nível não se mantém mesmo, ultimamente ele o tem deixado em campo até o fim. De qualquer forma, normalmente o rendimento do time cai e, pra melhorar, ele costuma contar com Bernardo, que tornou-se xodó da torcida e é mesmo bom jogador. Mas as características são bem diferentes – Bernardo é um meia ofensivo carregador de bola, perigoso perto do gol adversário, e não um passador e organizador de meio-campo – e Ricardo Gomes costuma colocá-lo não no lugar do próprio Felipe, mas mais à frente, tirando Diego Souza ou mesmo um dos atacantes.



Cuidado com Galhardo

Não sei se Léo Moura poderá jogar domingo. Mas, se Galhardo seguir no time, é bom que se tomem cuidados extras pelo seu lado, pois ele não foi bem na marcação em nenhum dos três últimos jogos. Ramon não joga o que os vascaínos achavam que ele joga já há muito tempo, mas é o lateral mais perigoso deles no apoio e joga por aquele setor. E se Ricardo Gomes for esperto e colocar Éder Luís pra usar sua velocidade por ali, pode criar muitos problemas.


O quanto pode pesar a sina dos vices?

A Maldição do Vice costuma sim ter peso nestas decisões contra o Vasco. Não diretamente pelos jogadores, que normalmente nem têm nada a ver com isso, mas pela torcida; os vascaínos costumam ir ao estádio nestes jogos já achando que vai dar merda (justificadamente...) e, na primeira dificuldade, começam a se desesperar e criar um clima ruim para o time no jogo. É claro que isso pode voltar a acontecer neste domingo.

Mas, desta vez, a torcida deles deve estar em mesmo número dos rubro-negros no Engenhão, graças à divisão de ingressos por setor, e o clima entre eles anda mais positivo. Estão animados com seu time, acreditando – ao contrário de várias das decisões anteriores – que são mesmo melhores. E ainda contribui para a “onda positiva” deles a notícia da volta de Juninho Pernambucano, que ajuda a criar um clima de otimismo para o futuro do time e do clube. Cabe ao Flamengo, durante o jogo, se impor e fazer voltarem às memórias deles todas as suas lembranças ruins destas últimas décadas.



Juninho Pernambucano

Aproveitando que falo do Vasco, um comentário rápido sobre a volta de Juninho Pernambucano.

É claro que Juninho poderia ter tido ainda mais “amor ao Vasco” e voltado antes de ir ganhar seu dinheiro no Oriente Médio. É claro que ele tem previstos prêmios por produtividade no contrato que podem ser bem grandes. Também parece que pode ter participação em possíveis receitas de marketing que se criem por sua volta.

Mas fato é que, garantido mesmo, ele só terá do Vasco 650 reais mensais. Quantos jogadores por aí que se dizem rubro-negros, tendo ou não passagens anteriores pelo clube, não vivem falando que “sonham em jogar no Flamengo”, mas se lamentam por “não ser possível”, “não conseguir viabilizar” e coisas do gênero? Vocês já imaginaram algum destes fazendo algo como Juninho está fazendo agora?

Não acho nem razoável que se peça isso de qualquer jogador por aí que se diga “Flamengo desde criancinha”. É o trabalho deles e ninguém pode exigir que outra pessoa resolva trabalhar de graça, ou perto disso. Mas que a atitude dele é maneira pra quem é vascaíno, isso é.

6 comentários:

Pablo Alcântara disse...

André, pelo que vc tá falando, então os Vices tem mais pontos fracos do que a gente.

André Monnerat disse...

Eles têm uma porção de pontos fracos, mas a gente também tem os nossos. Nossa zaga é mais fraca que a deles, sem o Léo Moura os nossos laterais também são piores e nossos atacantes também não têm rendido melhor que os deles. Acho que tem que ver ainda qual escalação o Luxemburgo vai escolher, mas no geral temos vantagem nas bolas paradas e nos chutes de meia e longa distância. Isso pode acabar decidindo o jogo.

De qualquer forma, acho este um jogo bastante imprevisível.

Y. Zampiere disse...

André, segundo o globoesporte.com, ele vai ganhar 50% dos patrocínios que o Vasco assinar daqui pra frente. Ou seja, ele com certeza não vai ganhar só 600 reais...

André Monnerat disse...

Y. Zampiere, você tem o link onde viu esta informação? Eu li as matérias sobre a vinda do Juninho e não me lembro de nada tão específico assim - apenas uma referência a "participação em possíveis receitas de marketing..."

Gusthfreitas disse...

Eu li num jornal aqui do Rio de Janeiro, o Meia-Hora, que ele vai ficar por 6 meses no vasco, ganhar R$ 650,00 por mês, e 50% dos contratos assinados apartir do inicio do seu contrato, ou seja, é uma estratégia de marketing, se o clube fechar 1 contrato de R$ 30 milhões, 15 é dele, então isto não é jogar de graça..

Luis disse...

O time do Mengão é fraco, como já falei um monte de vezes. O do Vasco é pior ainda!!! Mas clássico regional é sempre imprevisível.