O Flamengo deve lutar pelo reconhecimento do título de 1987 - pelo Clube dos Treze

Ontem foi o dia da oficialização pela CBF da palhaçada da unificação dos títulos brasileiros - já escrevi aqui minha opinião sobre o assunto. No meio do circo armado, uma não-notícia ganhou espaço: a CBF não reconhece o título brasileiro do Flamengo de 1987, devido a uma decisão da Justiça comum. E qual é a novidade nisso? Mesmo assim, Patrícia Amorim fez um "forte pronunciamento", dizendo que "lutará até o fim" contra a injustiça.

Dois dos bons blogueiros rubro-negros já trataram muito bem do assunto. Arthur Muhlemberg criticou o tom utilizado pela presidente - que eu acho mesmo que tem um quê de populista e não leva a nada - e lembrou que não é a primeira vez que ela promete entrar de cabeça nesta briga, sem que nada de relevante tenha realmente sido feito por ela até agora sobre o assunto. E Tiago Cordeiro relembrou o significado do asterisco de 1987, que marca uma das raríssimas atitudes dos grandes clubes brasileiros no sentido de unirem-se e enfrentarem o poder estabelecido pela CBF. Pra quem não conhece bem a história, clique aqui para entender melhor o que aconteceu.

Sendo bem sincero: respeito quem se importe muito com isso, mas o reconhecimento oficial da CBF quanto a esta conquista nunca me fez a menor falta. Afinal, o verdadeiro campeonato brasileiro daquele ano simplesmente não foi organizado por ela. Mas é pensando nisso que percebo qual é o reconhecimento oficial que Patrícia Amorim deveria se esforçar para ver reafirmado: o do Clube dos Treze.

Foi o Clube dos Treze quem organizou a Copa União de 1987, depois da CBF se declarar incapaz de realizar o Brasileiro daquele ano. Foi o Clube dos Treze quem não aceitou a modificação do regulamento com a competição já em andamento, apenas para satisfazer interesses políticos da CBF. Foi o Clube dos Treze quem decidiu que nenhum de seus filiados participaria do infame cruzamento com os primeiros colocados da segunda divisão daquele ano. Em um momento em que a legitimidade daquele campeonato é colocada em dúvida, é o Clube dos Treze que deve se manifestar claramente e reafirmar: todos os grandes clubes do país reconhecem o Flamengo como Campeão Brasileiro de 1987. Ou não?

Patrícia Amorim apoiou o atual presidente do Clube dos Treze na última eleição. Dizem que, por conta disso, vem sofrendo retaliações - e ela mesma usa esta carta agora, se vitimizando. Pois que surja agora o outro lado da moeda: se ela quer mesmo brigar "em todas as instâncias" pelo reconhecimento daquela conquista, deve agora cobrar aquele a que apoiou há tão pouco tempo. É hora do Clube dos Treze se reunir e reafirmar sua posição sobre o Campeonato Brasileiro de 1987 de forma pública e clara, sem deixar a menor dúvida pra ninguém. É hora de acabar de uma vez com atitudes mesquinhas como a do São Paulo, um dos líderes do movimento na época, que hoje briga pela desimportante Taça das Bolinhas e andou brincando há poucos anos de lançar camisa de "penta único"; e de deixar claro ao Sport que, se resolveu fazer parte do Clube dos Treze, precisa aceitar a legitimidade daquela competição organizada pela instituição de que agora faz parte.

Não é preciso tirar nada de ninguém. A questão é política, e assim pode e deve ser encarada. Se o São Paulo quiser ter uma Taça das Bolinhas, que se façam duas cópias e cada um guarde a sua no fundo de seu armário (grande coisa um troféu pelo reconhecimento do primeiro penta-campeão, quando hoje os dois já são hexa); se o Sport quiser dizer que também é campeão brasileiro, que diga - afinal, disputou naquele ano um campeonato diferente do Flamengo, e venceu. Mas que a opinião dos grandes clubes do país seja reafirmada, de modo a não deixar dúvidas, com papel assinado e tudo o mais: os integrantes do Clube dos Treze consideram que o Flamengo foi sim legítimo campeão brasileiro em 1987. Se a CBF diz o contrário, os clubes deixam claro que não concordam com ela.
Que se negocie isso da maneira mais tranquila e ponderada possível. Mas se o Clube dos Treze não concordar, se seus integrantes decidirem que não querem honrar o propósito original de sua fundação e insistem em olhar cada um para seu interesse próprio no lugar dos do grupo, seria o momento do Flamengo avisar que também passará a cuidar dos seus próprios interesses - inclusive quanto à negociação dos direitos de TV, que é atualmente o grande propósito desta instituição. Se Patrícia Amorim quer mesmo falar grosso, esta sim seria a maneira mais efetiva.


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E numa dessas, se o Flamengo conseguisse esta posição inquestionável do Clube dos Treze, estaria até aberto o caminho para a CBF aceitar a Copa União como equivalente ao Campeonato Brasileiro. Afinal, acabaria a ameaça do Sport reclamar da decisão na Justiça, usando a sentença que tem a seu favor. E o precedente já está mais do que aberto; afinal, o Robertão de 1967 não foi organizado pela CBD, aconteceu no mesmo ano de outro torneio nacional organizado pela CBD, e mesmo assim seu campeão - o Palmeiras - foi ontem reconhecido como Campeão Brasileiro.


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No mais, fato é que toda esta história está servindo como uma grande cortina de fumaça para fatos bem mais importantes envolvendo a CBF, em um momento em que Ricardo Teixeira enfrenta graves acusações de corrupção surgidas na imprensa internacional. Ontem mesmo, foi publicado que Andrés Sanchez afirmou já ter conseguido dinheiro público para a construção do estádio do Corinthians, e isso simplesmente passou desapercebido.

É triste ainda ver Pelé - que um dia posou no papel de defensor da moralização do esporte brasileiro, quando ocupou o Ministério em BRasília - posando de garoto-propaganda oficial em uma cerimônia motivada por politicagem, feita para adular Ricardo Teixeira. O evento ainda poderia ter homenagens a outros grandes nomes do passado, mas Pelé exigiu exclusividade para participar do circo. Lamentável.

7 comentários:

André Luiz de Ávila disse...

Perfeito, André!
Impossível dizer melhor!
Abs!

Russ disse...

Perfeito André.

Unknown disse...

Na boa...o que o Flamengo tem a ganhar perdendo tempo com esta discussão?

Seria muito melhor se a diretoria da "nova filosofia" dedicasse seu tempo para uma causa mais nobre como acertar o time para 2011 com boas contratações, dispensas necessárias e uma pré-temporada bem planejada e organizada.

Aliás: não recebi meu certificado do tijolinho do CT. Será que botei fora meu dinheiro?

JEFF - Jorge E F Farah disse...

Perfeito, André. O importante é ser campeão de fato. Se o Direito não acompanhar os fatos, azar do Direito, como digo em meu #post "CBF = (C)onfundindo e (B)agunçando o (F)utebol" http://igrejaflamengo.blogspot.com

Em 87, comemorei bastante. Comemoro até hoje o fato de hexa. O importante é ganhar o título. Contar a história, dar chancelas, etc cada um faz do jeito que quiser. Não importa nem um puco.

FLAmém!
@IgrejaFlamengo @JEFFarah

Marcelo Constantino disse...

Pra mim, a Patricia enche os rubro negros de vergonha quando diz que vai entrar na justiça pelo título. Pelo menos EU fico com vergonha quando leio uma coisa dessas.

Tal qual vc, eu estou pouco ligando pra CBF. Agora entào, com essa festa de títulos concedidos, estou ligando menos ainda. "Títulos reconhecidos pela CBF" se desvalorizaram de um dia para o outro.

Tenho vergonha até quando leio o Flamengo propondo a divisào do título de 87 com o Sport -- o que é um tiro no pé, e contradiz inteiramente a história da Copa União.

O Flamengo é hexacampeão brasileiro, é o campeão brasileiro de 1987, e se a CBF tem problemas e não reconhece isso, problema da CBF.

RTexeira, Pelé, Clube dos Treze, nada disso me surpreende ou decepciona. Mas a Patricia me decepciona com uma atitude dessas.

Marcelo disse...

Excelente post!

Mauricio Guimarães disse...

André, muito prazer. Estou retribuindo a gentileza da visita. Eu escrevi poucas linhas sobre Vánder. Talvez possa acrescentar algo ao que vc já possui.

Vander é uma dessas promessas que tem tudo para abrilhantar o nosso futebol com dribles rápidos e velocidade. O seu perfil lembra o de outro baiano, Bebeto, no seu porte atlético. Frazino e baixo podem até pensar que se trata de um jogador comum, mas já tem muita personalidade e ainda deve ganhar massa muscular. O futebol de Vander é a de um jogador que vai em direção ao gol e chuta muita bem a bola, como assiste seus companheiros muito bem. Um jovem e talentoso rapaz que espero que tenha muito sucesso.