O que é o Conselho Fiscal do Flamengo e por que Zico deve ir "prestar esclarecimentos" a ele

Mesmo com Zico já fora da direção do Flamengo, os choques entre ele e membros do Conselho Fiscal do Flamengo voltaram a ser notícia estes dias – primeiro, pelo desenvolvimento na Justiça da ação que Zico moveria contra o Capitão Léo, presidente do Conselho; depois, porque este mesmo Conselho agora decidiu iniciar um inquérito para investigar o contrato entre Flamengo e CFZ. Eu me pergunto: quantos dos que lêem estas notícias, que ganham espaço e causam impacto, sabem o que é o Conselho Fiscal do Flamengo? Creio que vale explicar.


O Conselho Fiscal é formado por apenas 7 membros efetivos e 7 suplentes, que são eleitos a cada três anos. Apesar de ter sido tão importante para tanta coisa que aconteceu no Flamengo ao longo de 2010, a eleição do atual conselho aconteceu sem muita cobertura da imprensa em março deste ano; quem vota não são todos os sócios do clube, mas apenas os membros do Conselho Deliberativo (que vale explicar do que se trata também, em outro momento – por enquanto, basta dizer que é muito maior e tem membros eleitos e outros vitalícios).

Patrícia Amorim não apresentou uma chapa “ de situação” para a eleição do Conselho Fiscal – ela diz que, por ser um poder fiscalizador, é democrático que seja ocupado por membros da oposição. Duas chapas disputaram o pleito: uma liderada por Capitão Léo e outra por Sebastião Pedrazzi, dirigente da área de finanças do clube durante a gestão de Márcio Braga e Delair Dumbrosck. A chapa de Capitão Léo venceu por 326 votos a 297 e com isso ficou com 5 membros efetivos e 5 suplentes; a chapa derrotada ficou com outras 2 vagas efetivas (uma delas para o próprio Pedrazzi) e 2 de suplência.

Ou seja: apesar de poder fazer muito barulho, trata-se de um grupo bem pequeno de pessoas, todas declaradamente de oposição a Patrícia Amorim – e dos mais ativos nesta oposição-, sendo que 5 delas se elegeram em grupo e normalmente votarão juntas. O que faz com que não seja nenhuma surpresa que tenham aprovado por unanimidade (de apenas 7 votos) a abertura de inquérito para investigar o contrato entre CFZ e Flamengo.


E para que serve o Conselho Fiscal?

Trata-se de um poder fiscalizador, sem qualquer poder de decisão. O Conselho Fiscal apenas encaminha suas conclusões e recomendações a outros poderes do clube e estes sim podem tomar as atitudes necessárias (como, por exemplo, punir alguém por uma irregularidade qualquer).

As funções do Conselho Fiscal estão definidas no Capítulo VI do Estatuto: ele deve analisar o orçamento e as contas do clube, examinar documentos, investigar irregularidades e possíveis responsáveis por prejuízos financeiros ao clube, avaliar previamente empréstimos e operações de crédito e opinar sobre contratos e obras de valor significativo.

Ou seja: esclarecer o contrato entre CFZ e Flamengo está dentro de suas atribuições. E é fato que uma situação em que uma mesma pessoa é diretor executivo do clube e presidente de honra de outro com o qual se tem uma parceria que envolve transferência de direitos econômicos pode gerar dúvidas. Imaginemos que J. Hawilla assumisse este cargo e o clube tivesse uma parceria qualquer com a Traffic, da qual é dono – é claro que isso teria que ser muito esclarecido.


Zico: se for feita, atenda a convocação e esclareça tudo

Zico andou sinalizando que pode não ir agora falar ao Conselho Fiscal, provavelmente temendo que armem um circo em torno disso - mas torço para que mude de opinião. Ele deve ir e esclarecer a situação da melhor forma possível, para que não restem dúvidas. Se ele realmente leva a sério a intenção de ser presidente, é bom que saiba que este assunto, se não for bem tratado agora, vai voltar à tona mais à frente de um jeito ou de outro, em clima de campanha.

Mas é óbvio que, se ele for lá, estará se colocando à frente de gente que lhe fez – e lhe faz – oposição raivosa, que desde o início fez estardalhaço em cima de suspeitas antes mesmo de iniciar qualquer investigação e que usa argumentos que nem sempre parecem razoáveis à primeira vista. Um dos casos que estão em pauta neste novo inquérito é a transferência de Rafinha, jovem que era do CFZ e veio de graça para as categorias de base do Flamengo. Segundo o Capitão Léo, é ilegal e lesivo ao clube que o CFZ ainda tenha 50% dos direitos do jogador – algo que além de parecer razoável, já que ele era do CFZ e foi cedido de graça ao Flamengo, é também comum com jogadores que chegaram de outros clubes que nada têm a ver com o CFZ. Aírton, titular do time campeão do ano passado, chegou numa negociação deste tipo, vindo do Nova Iguaçu; em sua venda para Portugal, seus antigos donos levaram uma grande fatia do dinheiro.

E fica claro que nem sempre o Conselho Fiscal se limita às suas funções pelo próprio documento em que Capitão Léo declarou à Justiça que foi “mal interpretado pela imprensa” e nunca levantou qualquer suspeita de práticas desonestas de Zico ou de seus familiares enquanto ele era diretor executivo do futebol do Flamengo. Ele afirma que o Conselho Fiscal queria entender a razão de terem sido contratados atacantes “com a singular e preocupante característica de não fazer gols, situação esta que já desapareceu”. Ou seja: simplesmente achavam que os jogadores escolhidos eram ruins – avaliação técnica que tem mais a ver com papo de mesa de bar do que com os propósitos do Conselho Fiscal.

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Entender o Flamengo não é para principiantes. Mas a gente tenta.

5 comentários:

Flávio disse...

Desculpa André, mas não consigo pensar em nada que não seja ficar livre da série B.
Depois que ficarmos livres da série B, se é que isso vai acontecer, só vou pensar em como ficar livre dessa vereadora do PSDB.
Vocês já viram algum governo do PSDB dar certo? Por que daria certo logo no Flamengo?
Se esse tal de capitão léo é da oposição o que fez ele no gabinete da vereadora?

Eduardo Varanda disse...

Parabéns André... Esse seu texto deveria servir de referência para alguns jornalistas que temos por aí... Gostaria que informações desse tipo chegassem a mais torcedores, que infelizmente baseiam seus conhecimentos em jornais e sites como globo.com e lancenet. Encaminhe para os outros blogs, e seria bom que fosse postado também. Não concordo com o Flávio, em que isso não deva ser discutido agora... O conselho que não deveria levantar a bola disso agora, nesse momento, mas como sabemos eles pouco estão preocupados com o flamengo, senão com seus próprios interesses eleitoreiros, logo isso deve ser debatido sim, pois será usado por esse grupo quando da próxima eleição, logo tudo tem que ficar bem claro, apesar do Zico já ter explicado isso em suas duas entrevistas. E não deixe de explicar sobre o conselho deliberativo. Saudações

Flávio disse...

Prezado Eduardo, você tem toda razão. Mas eu não disse que o assunto não deva ser discutido. Eu disse que não consigo pensar em mais nada que não seja a permanência na série A do Brasileiro de 2011.
Você, o André e toda a torcida têm o direito e o dever de discutir. Apenas euzinho ficarei fora dessa.
Grande abraço e saudações rubro-negras.

Bosco Ferreira disse...

Ótima observação Flávio, principalmente depois que o Márcio Braga denunciou que o Cap Léo é asponi do gabinete dela na câmara.

Somando-se ao fato que a torcida jovem vota nela e ele mantem um laranja seu na direção dessa facção de torcida.

Insurance USA disse...

Vale lembrar que a transação do Airton previa que 50% dos direitos seriam do FLamengo, mas como o clube não dispunha da exorbitante quantia de R$500 mil, ficamos com menos do que isso.

Mas o problema é mesmo esse Rafinha, né?