O risco Luxemburgo

Após a passagem ruim pelo Atlético-MG, Vanderlei Luxemburgo afirmou que precisava de um tempo para se reciclar. O diagnóstico de muitos analistas sobre a má fase do treinador foi de que ele precisava voltar a se concentrar no que faz de melhor: trabalhar como técnico de futebol. E, quando ele desistiu da pausa para arejar as idéias e assumiu o Flamengo, muitos afirmaram: pode ser uma boa para o clube, desde que ele venha como treinador – e não com os tais “poderes de manager”. Mas o que se vê, a cada dia, é que a ideia é bem o contrário.

Patrícia Amorim logo afirmou, em entrevista, que Luxemburgo seria sim um manager do futebol do clube – para logo depois dizerem que não era bem assim, pois “o estatuto não permite” (o que está longe de ser verdade). Após quatro jogos sem derrota, o novo treinador vem ganhando confiança e falando com cada vez mais desenvoltura sobre seus planos futuros no Flamengo e sua influência em todos os aspectos do futebol do clube . E é bom que estejam todos bem alertas para os efeitos que isso pode ter.

Leiam esta declaração dada em entrevista publicada em O Globo neste fim de semana:

- Falei (no programa "Bem, Amigos") que empresário hoje faz parte da comissão técnica, mas ninguém entendeu. O técnico acaba de falar para o jogador que tem um projeto para ele de um ano e meio, vem o empresário e: "Esquece, daqui a seis meses estou te vendendo". Isso está dentro do nosso trabalho. Vai chegar uma hora em que o empresário terá que pagar o custo que tem no percentual do jogador. E também vai chegar a participação, como a que o (Carlos) Biancchi tinha no Boca Juniors. Ganhava em cima da valorização dos jogadores que contratava. Não vejo nenhum problema.
É isso: Luxemburgo não vê problema nenhum em um treinador – como ele – receber dinheiro em cima da venda de jogadores de seu time. Você, leitor, vê problema? Pois eu vejo.

Vamos a uma situação meramente hipotética. Digamos que Luxemburgo tenha em seu elenco dois zagueiros: um jovem, visto como jogador de futuro, porém ainda imaturo; e outro que joga melhor que o garoto, dá mais segurança ao time, mas já é um veterano vivendo seus últimos anos de carreira e que certamente não será mais vendido para outro clube. Tendo o treinador participação no dinheiro da venda de jogadores, será que ele não preferirá – mesmo não sendo isso o melhor para o time – escalar o garoto, colocando-o na vitrine para uma lucrativa transação alguns meses depois? Só reforçando: situação totalmente hipotética,hein?

É exatamente por este tipo de pensamento esquisito, exposto sem nenhum pudor na entrevista , que tanta gente – eu inclusive – tem desconfianças diversas sobre Luxemburgo. É claro que surgem teorias sobre o porquê do treinador, nos últimos anos, ter se metido tanto a “recuperador de jogadores” que chegavam em baixa e em quem ninguém colocava a menor fé, mas nos quais ele apostava com vontade. Casos de gente como Rodrigo Tiuí, Lenny, Mozart, Léo Lima - sem falar no caminhão de jogadores contratados este ano pelo Atlético-MG. Os resultados em campo não foram nada animadores.

Pois bem: em entrevista ao próprio site oficial do Flamengo, Luxemburgo já fala claramente que irá se envolver diretamente com negociação de jogadores para o clube: "Você contrata jogadores? - Tenho autonomia para negociar. (...) Eu tenho contrato de gestão e não abro de participar da negociação". E em nome de uma “adequação à realidade do futebol atual”, ele já acena com a abertura das portas das divisões de base do clube – nas quais afirma que terá mesmo grande influência – aos empresários: “Precisamos avançar nas divisões de base. Temos que buscar parceiros e direcionar o trabalho. Adequar tudo à realidade do futebol atual. Esses parceiros terão parte nos jogadores, sim, mas participarão do custo dos mesmos.”

É possível defender a linha de raciocino de Luxemburgo? Olha, até é. Mas eu já estou com várias pulgas atrás da orelha.

8 comentários:

Paulo Sales disse...

Também estou atulhado de pulgas atrás da orelha.

Giovani disse...

A diretoria tinha todas as informações sobre o histórico e os riscos da contratação de Luxemburgo. São fatos públicos e notórios.

Depois que der errado, não há como vir à imprensa prestar declarações que busquem amenizar o eventual desastre anunciado.

O time pode cair fora da zona de rebaixamento? Pode. Mas não há nenhum mérito nisso. A Nação já passou por situações bem piores no Brasileirão e conseguiu se safar da Segundona.

O problema Luxemburgo é de longo prazo e se junta a uma crise crônica de comando e liderança dentro do Flamengo.

Os efeitos poderão ser dramáticos...

É por isso que, desde o anúncio de Luxemburgo, fiz um anúncio que pode parecer estranho. Postei no meu twitter que ESTOU DE LICENÇA DA CONDIÇÃO DE TORCEDOR DO FLAMENGO ENQUANTO DURAR O PERÍODO DE LUXEMBURGO COMO TÉCNICO.

Não vejo mais os jogos do Flamengo, nem leio sobre os mesmos. Por acaso, vi os gols do empate com o Vasco, no domingo.

Só volto à minha paixão rubro-negra, quando este cidadão deixar a Gávea.

Tomara que eu esteja errado. O Flamengo não merece ter seu nome associado ao fracasso.

Parabéns pelo excelente blog e por este artigo, em especial!

Giovani

Bosco Ferreira disse...

Esse sim é o treinador certo para essa diretoria.

Vão ganhar rios de dinheiro no clube.

Te segura Mengão que o buraco vem ai.

Fiquei "patético" com essa "privatização" do Flamengo. Seremos agora LuxaPat&Cia/Ltda.

E os sócios ficam chupando o dedo?

JEFF - Jorge E F Farah disse...

André,

Como venho falando lá no meu blog (http://igrejaflamengo.blogspot.com) tinha sérias restrições a chegada do Luxa. Todas elas relacionadas a questão ética, que você abordou com precisão.

Neste ano, como não há mais jogadores a contratar, o elenco está fechado, ele está sendo somente treinador. O resultado pode ser observado em campo. Jogamos mal domingo, mas o time tem mais consistência do que antes. Assim, neste final de ano, acredito que os resultados em campo justificarão sua contratação. O aproveitamento do time após sua contratação, fará com que muitos chorem por ele não ter chegado antes.

O problema começará no próximo ano. Resultados em campo podem até ocorrer, mas fora dele, também, estarei cheio de pulgas atrás da orelha.

FLAbraços,
@IgrejaFlamengo

Eduardo Varanda disse...

Parabéns Monnerat pelo post.

Cara, depois de ter passado dois dias estupefato com a entrevista dele no globo domingo, e ter postado algumas vezes, fiquei ainda mais bolado de não ver quase ninguém abismado com isso como eu fiquei. Menos mal que hoje, ao chegar em casa, me deparei com seu post e vi várias manifestações. Parabéns por ajudar a abrir os olhos de todos. Estou enviando emails para imprensa (e um amigo que tenho jornalista) cobrando por parte da imprensa uma repercussão em cima disso. Porra, na hora de criarem mentiras em cima da pessoa do Zico abriram espaço, agora o Luxa dá uma entrevista dessa e ninguém abre o bico... Temos ao menos que fazer nossa parte e tentar fazer algum barulho.

Saudações.

PS: Giovani... já me senti da mesma forma cara. Fiquei 4 jogos sem assistir. Porém se o Zico não desistiu de nós depois de tudo que passou, não podemos desistir. Faça sua parte, participe de alguma forma para mudar o clube.

Unknown disse...

Apesar de não ter lido a entrevista do Luxemburgo na íntegra e não ter tanto conhecimento de causa, tenho uma visão um pouco diferente desse problema.
Hoje as escolinhas dos campinhos de rua são dominadas por empresários. Crianças de 6 anos (conheço um menino de 6 anos que já está com empresário) já começam a ser fatiadas.
Acho utopia querer quebrar esse sistema já enraizado nas divisões de base. Acho que o Zico tentou algo parecido e não foi muito feliz.
Talvez, o Luxemburgo participando das negociações, COM TRANSPARÊNCIA, até ajude ao Flamengo em melhorar as receitas de nossa falida divisão de base. A princípio, eu acredito que ele tenha boas intenções. Podem me chamar de Pollyana, mas estou otimista.

Bosco Ferreira disse...

Poliana pode até ser mesmo se é isso que você pensa que é.

São gestões como essa que o Ivan apoia que afasta os torcedores do futebol e tira a nossa paixão. Não entendo como uma pessoa pode comparar:
1)"campinhos de rua que são dominadas por empresários"
com uma instituição como o Flamengo.
2)"Luxemburgo participando das negociações, COM TRANSPARÊNCIA, até ajude ao Flamengo em melhorar as receitas de nossa falida divisão de base."
O Luxa é um funcinário remunerado para treinar o time e quem deve participar das negociações é a Presidente ou o Diretor de futebol.
Quanto a transparência essa tem que existir em toda negociação, e não acho que transparência seja uma que chegue perto do Luxa.

Quanto as nossas divisões de base se estão falidas, eu não sei, mas que poderiam está em melhores situação se o clube não tivesse entregue aos empresários.

Quanto aos lucros, não me lembro de nenhum clube que mantenha ligações estreitas com empresários que tenha melhorado as suas finaças. Pelo contrário, o lucro é sempre dele e de dirigentes amigos, enquanto os prejuizos vão se avolumando na conta do clube.

Não perdí ainda a esperança no Flamengo e no futebol por causa de pessoas como o André e muitos que aqui postam. Além de bons exemplos como o do Inter, Santos e SPFW que abominampulhas como o Luxa. Vejam o exemplo recente do CAM.

Unknown disse...

Bosco,
Talvez eu tenha me expressado mal e não me fiz entender, mas...

Quando eu digo que os campinhos de rua são dominados por empresários, leia-se que "até" os campinhos de rua são dominados pelos empresários...nos clubes, nem se fala.
Por isso, eu acho que o Fla tem que aprender a lidar com essa nova filosofia. O inter, ao contrário do que vc citou, é assessorado por empresários sim.
Logicamente que há outros fatores a serem estudados, mas eu me referi somente às jovens revelações que, na maioria das vezes, não revertem nada ao clube.

Abs