O que pensam de Silas os torcedores de Avaí e Grêmio

Amanhã é o primeiro jogo de Silas à frente do Flamengo e os rubro-negros começarão a formar suas opiniões sobre o novo treinador. Como já escrevi, não o conheço bem; apenas acho uma aposta válida, principalmente se considerarmos as opções. Mas pode ser educativo conhecer a opinião de quem o conhece melhor - caso dos torcedores de Grêmio e Avaí.


Foi no Avaí que Silas começou a aparecer bem. Foi campeão catarinense, levou o time à Série A do Brasileiro e, no ano seguinte, o fez chegar perto da vaga na Libertadores, terminando em sexto lugar.

Sobre a passagem de Silas por Santa Catarina escreve Gerson dos Santos, do blog Avaixonados, e André Tarnowsky Filho. Reparem que, para eles, a fama de "técnico ofensivo" não se confirma tanto assim:


A passagem de Silas pelo Avaí foi caracterizada por duas fases distintas do ponto de vista tático. Na primeira, aplicando o 4-4-2, conquistou o acesso à série A e o campeonato estadual, o que o tornou mito na Ressacada. Insistiu nessa formação no Brasileirão de 2009 e amargou péssimos resultados nas primeiras 10 rodadas. Embora o time jogasse bonito, o Avaí foi parar na lanterna da competição. Teve início então a segunda fase onde Silas se viu forçado a adotar o 3-5-2 (vulgo 3-6-1) para fortalecer o poderio defensivo. Essa estratégia alavancou a equipe para o status de sensação do Campeonato Brasileiro, culminando com uma inédita 6ª colocação ao final da competição.

O jeito Silas
Obstinado, Silas faz com que os jogadores girem em torno dele para que possa obter o máximo de cada um deles. Evangélico, é comum gostar de jogadores que frequentem sua “igreja”, assim como foi comum vê-lo no encalço dos chamados boleiros boêmios, nos bares da noite de Florianópolis. Com ele, vadio não se criava.

Silas não é um treinador afoito, nem de sonhos megalomaníacos. Traça sua meta com o que tem em mãos e o faz jogo por jogo. Seu discurso é sempre de respeito ao adversário, por vezes esquecendo de vislumbrar a qualidade de sua “família”, como gosta de definir seus atletas.

A saída

Com direito a volta olímpica no estádio, aplaudido de pé pelo torcedor avaiano e lágrimas na coletiva de imprensa, sua saída deu-se em função de conflitos de interesses com a diretoria e seu parceiro. Era necessário rentabilizar a boa campanha com a negociação dos jogadores mais valiosos, o que poderia colocar em xeque sua carreira meteórica e até ali vencedora. Outro fator decisivo para seu adeus foi a impossibilidade do Avaí pagar o salário que agora Silas mereceria.

Seus interesses pessoais acabaram se tornando mais elevados do que o próprio clube, o que veio a conflitar com seu discurso de humildade. Optou por uma equipe maior depois de fechar as portas ao Leão da Ilha. Entre o certo e o duvidoso, a escolha pelos gaúchos foi fatal. Ganhou mais inimigos do que amigos, foi mais criticado do que elogiado, principalmente depois de apenas três meses de Olímpico declarar que o sentimento pelo Grêmio já era maior que aquele nutrido em dois anos de Avaí. Se queimou e passou de herói a vilão, pelo menos para a nação azurra.

No Rio

Silas terá que fazer uso de uma dose extra de flexibilidade e se adaptar à vocação do Flamengo ao jogo ofensivo. Não que tenha sido retranqueiro, mas no Avaí muitas vezes deixou de ousar mesmo diante de adversários com qualidade inferior, característica que proporcionou sustos desnecessários. Compreensível, eu diria, até porque o Avaí reestreava na série A após longos 30 anos e as barbas de todos estavam de molho. O Rio de Janeiro lhe será um desafio ainda maior, já que a capital carioca não é exatamente um mosteiro beneditino onde seus comandados estejam a salvo do pecado e da perdição carnal. Seu discurso de bom menino corre perigo. Torcemos pelo seu sucesso, mas não muito.


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Bem mais curto é o depoimento de Fábio Trierveiler, do http://www.devirada.com.br/:

Enquanto esteve aqui no Avai, na minha opinião, foi o melhor treinador da história do clube. Vínhamos de 10 anos sem títulos e com ele, subimos para a Série A no final de 2008, fomos campeões catarinenses em 2009 e fizemos também neste ano a melhor campanha da história de um clube catarinense na Série A, ficando na sexta colocação.

O grande problema foi quando ele saiu do Avaí: levou vários dos nossos principais jogadores para o Grêmio, e agora mais recentemente, levou nosso excelente preparador físico para o Flamengo. O problema, foi a forma que ele levou esses profissionais, geralmente deixando a diretoria bastante irritada com a "falta de comunicação".

Bom, resumindo: ele nunca será esquecido pelo que fez no Avaí, mas ele conseguiu apagar parte do que fez, devido as atitudes dele após sua estada aqui.


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Nessa de levar gente do Avaí para o Grêmio (o que já se repete no Flamengo, com a chegada do novo preparador físico - elogiado no depoimento anterior), Silas irritou não só os avaianos, mas também os gremistas - como se vê pelas palavras de Arigatô, que escreve no blog Imortal Tricolor, sobre a passagem de Silas pelo Olímpico (onde foi campeão gaúcho e semifinalista da Copa do Brasil, mas nunca realmente conquistou a confiança do torcedor):

O que posso dizer é que a passagem dele aqui não foi boa.
Não conseguiu dar um padrão de jogo ao time. Além disso, deixou os boleiros tomarem conta do vestiário. Conta-se histórias absurdas do que aconteceu aqui. O Rodrigo, por exemplo, reclamou que nao havia refrigerante numa refeição e atirou o copo de suco na parede. Ficou por isso. Ninguem deu uma dura no cara.

Se não tiver um dirigente de pulso aí pra segurar a barra, sei não. Outra coisa: parece que ele tem fixação em levar gente do Avaí pra trabalhar onde está.

Este depoimento gaúcho já mostra que o "com Silas, vadio não se criava" funcionou com os jogadores menos conhecidos do Avaí, mas já não funcionou bem assim com os mais cascudos do Grêmio. Torçamos para que Zico consiga manter as coisas em ordem, o elenco do Flamengo não resolva testar o novo treinador neste aspecto e tenhamos que nos preocupar apenas com seu trabalho no campo.

9 comentários:

Unknown disse...

Tem um camarada aqui do trabalho torcedor do Gremio. Segundo ele, o Silas teria sofrido, no time gaúcho, um processo semelhante ao do Ney Franco no Flamengo. Começou bem, mas depois acabou se perdendo na panela formada por jogadores ex-Avaí, assim como o N Franco se queimou muito com a patota de Ipatinga.

Max Junqueira

Beto disse...

Acompanho há uns 5 meses este Blog e quero parabenizar o autor com testos lúcidos, elucidativos e coerentes, sobre o Mengão do nosso coração!!!!

Parabéns e continue assim! Seu trabalho é superior ao de MUITOS jornalistas e blogueiros por aí bem mais famosos!

Unknown disse...

Pela biografia do Silas e pela biografia do Flamengo podemos prever emocionantes capítulos de confusões dentro do vestiário rubro-negro pelos próximos meses.

Pelo menos vamos ter emoção garantida nos jogos visto o seu gosto por esquemas suicidas de jogo.

Nos resta orar e torcer por um sucesso imprevisível.

Flávio disse...

Olho para o time do Flamengo de hoje e vejo que a mudança de comportamento foi de 180º em apenas 3 meses.
De um bando de fanfarrões que definiam em planilha os treinos para um grupo que topa tudo, é impressionante.
Por esse lado, vejo que o Silas não vai sofrer pressão das primas-donas.

Não é fácil a vida do treinador. A torcida detona sem acompanhar os treinos e o dia-a-dia, que devem ser fundamentais para definiar a escalação.

A mudança do preparador físico mostra que o Zico viu problemas maiores do que as vaias da torcida para o Rogério.
Não sei como será o trabalho do Silas, mas não me lembro do último treinador que fazia as coisas certas. Ou melhor, fazia as coisas que eu achava certas.
Vamos ver se o Pet vai para o banco, se os garotos serão bem aproveitados ou jogados no fogo, se o Juan sofrerá alguma concorrência, se o Willians vai continuar na ponta direita etc.

Bosco Ferreira disse...

É claro que vou torcer pelo meu Flamengo, mas não acredito que um treinador que foi demitido do Fortaleza e do Grêmio, possa ser o ideal para o Flamengo só porque fêz um trabalho razoavel no Avaí.

O delegado está fazendo também.

Marcos André Lessa disse...

Fico esperançoso pelo que Silas disse na coletiva:

"Prefiro o Pet voando em 45 min do que se segurando por 90"

"Tenho que respeitar a tradição ofensiva do Flamengo"

"No Avaí, o objetivo era chegar à frente de quatro times e permanecer na série A. No Flamengo, o objetivo sempre é ser campeão"

lussiannosousa disse...

Pelo que li, um medo que tinha só aumentou mais um pouco. Imaginemos a situação de um dia ele sacar o Pet do time, o que não é um absurdo pelas condções físicas dele, Pet. Pet não é santo, nem de longe. Creio que dará birra. E acho que o Silas não terá peito pra organizar isso.

Lívia disse...

Silas não era meu técnico preferido para assumir o Flamengo, mas dentre as opções disponíveis, talvez fosse o melhor mesmo. Pra mim, o sucesso dele é um ponto de interrogação enorme. As vezes, acho que ele vai se dar muito bem com o elenco, mas as vezes acho que ele será engolido pelos "chefes" do time.

A única coisa que resta é torcer para que dê certo. Gostei das entevistas que ele deu, gostei do fato de ter procurado os "cabeças" do elenco para aquele papo olho no olho.

Só nos resta torcer para que dê certo.

Gustavo Brasília disse...

Monnerat, interessante colher os depoimentos dos torcedores do Avaí e do Grêmio.

De tudo o que li, não fiquei preocupado. Técnico bom eu acho que ele é.

Sobre a questão da disciplina sobre jogadores "mais cascudos", eu não me preocupo porque, ao menos a mim, pareceu ter ficado bem claro que a diretoria irá enquadrar os indisciplinados.

Para mim, treinador no Flamengo, hoje, tem que chegar e trabalhar. E para isso eu confio no Silas.

SRN.