Copa do Mundo - 1a. fase - 1a. rodada - Brasil 2 x 1 Coreia do Norte

Quem aí apostava no Brasil ganhando por menos de dois gols da Coreia do Norte? Não devem ter sido muitos - nos dois bolões em que participei, por exemplo, não houve ninguém. Pois foi o que aconteceu: o Brasil venceu pela diferença mínima, mostrando características que, no duro, todo mundo já conhecia.


É fato: desde que Dunga assumiu, o Brasil tem dificuldades contra equipes que jogam fechadas e tem seus melhores momentos quando atacado pelo adversário - mesmo que, em diversas oportunidades, seja um adversário forte. É uma questão talvez mais de estilo do que de qualidade: Kaká, o único "armador" do meio-campo brasileiro, não é um jogador de dar passes daqueles imprevisíveis, nem mesmo de saber trocar passes e ajudar o time a girar a bola - e sim de arrancadas, de partir de frente para a marcação.  As grandes formas do Brasil de Dunga fazer gols são as bolas paradas e os contra-ataques. E não há no resto do time, nem no banco, outro meio-campo capaz de mudar este estilo de jogo.

Hoje, no caso, o adversário não era forte. Longe disso. Teria dificuldades grandes se jogasse na Série B do Brasileirão. Chegava a ser infantil tecnicamente, com a exceção de seu solitário atacante, o emocionante e emocionado Rooney Asiático (que, mesmo assim, chegou a dar um constrangedor chute pela linha lateral).

Mas, por isso mesmo, fez um retrancão sem a menor vergonha. Muitas vezes eram seis jogadores atrás da linha de sua grande área, o que sempre vai ser algo realmente complicado de se enfrentar. E como vencer uma defesa colocada assim, ainda que formada por jogadores fracos (não só tecnicamente, aliás, mas também fisicamente)? Girando o jogo, se movimentando, trocando passes em velocidade.

Pois foi tudo o que o Brasil não fez. No primeiro tempo, não criou uma única chance clara de gol - porque passava a bola lentamente, tinha jogadores estáticos e insistia demais apenas pelo lado direito. Um negócio triste de se assistir. Há que se ter certa boa vontade pra dizer que, nos primeiros 45 minutos, o goleiro coreano foi mais ameaçado que Júlio César. Na verdade, nenhum dos dois goleiros trabalhou pra valer.

Mas, no início do segundo tempo, aconteceu exatamente o tipo de jogada que qualquer time precisa fazer para vencer uma retranca: Maicon partiu de trás da linha da bola para receber na frente, surpreendendo a linha defensiva coreana. Claro, o gol saiu num chute improvável, mas já foi um tipo de movimentação que o Brasil não havia tido em nenhum momento do segundo tempo.

O gol tranquilizou um tanto o time e, embora muitos tenham achado que não, afrouxou um tanto o ferrolho coreano. Podem reparar nos melhores momentos: nos demais lances de perigo que o Brasil criou, a linha de defesa adversária está precisando recuar para se recompor, está além da linha da grande área, já não tem os mesmos seis ou sete jogadores. E Robinho acertou um passe precioso, digno do tipo de meia que todo mundo gostaria que o Brasil tivesse disponível, para que Elano, se projetando para receber atrás da linha da defesa, pudesse aumentar o placar.

Daí pra frente, Dunga achou que o jogo estava resolvido e decidiu se soltar, fazendo alterações mais ofensivas - e saindo das opções que tanto repetiu ao longo de todos estes jogos, até se aproximando mais do que muitos críticos gostariam. O Brasil se tornou mais leve, mas mais desorganizado. E no finzinho, graças a um passe de cabeça de grande visão de jogo do inefável Rooney Asiático, a Coreia conseguiu o golzinho (e fez com que eu não cravasse o 2x0...). Podem crer que Dunga vai pensar duas vezes antes de fazer substituições ousadas daqui pra frente, a não ser que o placar realmente esteja desfavorável.

Analisando individualmente: Maicon e Robinho ao menos mostraram iniciativa; Michel Bastos arriscou chutes que ainda podem ser importantes; Elano fez seu gol e, bem, não vai sair por ter sua importância nos cruzamentos em bolas paradas. Kaká e Luis Fabiano foram inofensivos mas, óbvio, são intocáveis; e Elano, que muitos gostariam de ver barrado, tem sua importância nos cruzamentos em bolas paradas, que tantas vezes foram decisivos. A mudança mais possível está na dupla de volantes - Ramires no lugar de Felipe Melo, por exemplo. Mas não é muita coisa, nem vai acontecer com facilidade.

É isso: o Brasil tem este padrão de jogo, e na maior parte do tempo ele deu em vitórias, mesmo muitas vezes o futebol não tenha agradado - como hoje. O negócio é torcer que esta fórmula vá dando certo até o final.



15/6/2010 - 15h30 (horário de Brasília) - Brasil 2 x 1 Coreia do Norte
Estádio Ellis Park, Johannesburgo (AFS)
Público: 54.331 pessoas

Árbitro: Viktor Kassai (HUN)
Auxiliares: Gabor Eros (HUN) e Tibor Vamos (HUN)
Cartões amarelos: Ramires (BRA)

Gols: 9'/2ºT, Maicon (1-0); 26'/2ºT, Elano (2-0); 43'/2ºT, Ji Yun Nam (2-1)

Brasil: Julio Cesar, Maicon, Lúcio, Juan e Michel Bastos; Gilberto Silva, Felipe Melo (38'/2ºT - Ramires), Elano (27'/2ºT - Daniel Alves) e Kaká (32'/2ºT - Nilmar); Robinho e Luís Fabiano. Técnico: Dunga.

Coreia do Norte: Ri Myong Guk, Cha Jong Hyok, R. Jun Il, P. Nam Chol, R. Kwang Chon, J. Yun Nam, J. Tae Se, H, Yong Jo, Mun In Guk (34'/2ºT - Kim Kum Il), P. Chol Jin e A. Yong Hak. Técnico: Kim Jong Hun.

Um comentário:

Murdock disse...

Jogar contra um time que deixa 11 dentro da área é foda...