Libertadores 2010 - Oitavas-de-final - Jogo de ida - Flamengo 1 x 0 Corinthians

A análise da vitória de 1x0 que o Flamengo conseguiu ontem contra o Corinthians é um tanto contraditória. Pelas circunstâncias do jogo, o resultado foi, ao mesmo tempo, muito bom e não tão bom assim.

Muito bom porque, mesmo com um a menos desde o primeiro tempo, conseguiu sair com a vitória - e sem tomar gol dentro de casa, o que é sempre importante. O time entrou em campo mal escalado, com um meio-campo que teria dificuldades para trocar passes mesmo num campo em perfeitas condições - e, por este ponto de vista, a chuva torrencial que prejudicou o gramado principalmente no primeiro tempo até ajudou o Flamengo, pois prejudicou o jogo de troca de passes a que o Corinthians se propõe e fez todo mundo disputar a bola na base do bico. Teria sido melhor, porém, se alguns rubro-negros tivessem entendido melhor o que o campo pedia e parassem de tentar conduzir tanto a bola no meio das poças.

Além disso, seu único meia mais ofensivo era mais um ala do que um armador, o que fez com que o esquema ficasse totalmente torto pelo lado esquerdo - até Michael, que até o momento já tinha uma atuação sofrível, conseguir arrumar uma expulsão. Com isso, qualquer esperança de que Rogério fosse soltar mais o time em algum momento foi pro espaço. Assim, a vitória, que veio graças a um pênalti que caiu do céu, deve ser muito comemorada.


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Por outro lado, o resultado não foi tão bom assim simplesmente porque poderia ter sido de mais. Com todas as dificuldades que teve que enfrentar, com todos os volantes que colocou em campo - ainda assim, foi o Flamengo foi o time que teve as melhores chances em todo o jogo. Se tivesse aproveitado mais umazinha que fosse - a cabeçada de Adriano que Júlio César espalmou para o travessão, por exemplo - a situação estaria bem melhor.

O Corinthians veio ao Maracanã com uma proposta inteligente e até bem executada, enquanto eram 11 contra 11 e 0 x 0 no placar: estando satisfeitos com o empate, gastavam tempo tanto com a bola parada - demorando séculos para cobrar cada falta, lateral ou tiro de meta - quanto com ela rolando, procurando mantê-la sob seu domínio o máximo possível e não recuando demais sua marcação. Porém, quando o Flamengo ficou com um a menos, os paulistas passaram a ter a responsabilidade de tomar a iniciativa do jogo para aproveitar a situação - e esta responsabilidade ficou ainda maior a partir do gol de Adriano.

Porém, tudo o que o Corinthians conseguiu foi ter a posse de bola. Chances de gol mesmo, foram pouquíssimas - o Flamengo foi mesmo sempre mais perigoso. Houve um momento no segundo tempo em que o Flamengo recuou demais, de maneira muito arriscada, mas mesmo assim os lances de perigo não surgiam. Claro, o bloqueio rubro-negro, inclusive com Rômulo realmente fazendo o volante-zagueiro dos tempos de Joel, foi forte; mas a verdade é que o Corinthians foi um time estático, de pouca movimentação e imaginação. Até porque, na verdade, o time de Mano Menezes está jogando com os mesmos três volantes que o Flamengo de Rogério, e o cara que poderia fazer o papel de meia de criação joga igualmente aberto pela esquerda.



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E é claro que outro fator que atrapalhou o Corinthians foi a atuação ao mesmo tempo cômica  e constrangedora de Ronaldo.

Pode até ser que ele siga rigorosamente a dieta da linhaça transversa nos próximos dias, treine em quatro períodos diários, entre milagrosamente em forma num prazo recorde e arrebente no Pacaembu. Mas o que escrevo agora não é piada nem exagero: se em vez dele, o Corinthians tivesse eu no comando do seu ataque, no mínimo daria na mesma. E olha que meus companheiros da pelada de terça sabem que estou no momento mais triste de minha carreira futebolística. Mas se eu passasse o jogo inteiro andando em campo, matando de canela e vendo os zagueiros me tomarem a bola como se eu fosse um garoto de 10 anos, teria uma atuação no nível da que Ronaldo teve ontem, especialmente no segundo tempo.

E isso porque andaram dizendo que o Ronaldo treinou forte, perdeu peso etc. e tal. Imagino a pressão que Mano Menezes deve receber da diretoria e dos patrocinadores para mantê-lo em campo - é a única explicação para que sua substituição tenha demorado tanto.


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No Flamengo, Juan foi bem na frente - embora ainda erre mais do que o desejável, foi quem mais se apresentou pro jogo e arriscou jogadas - e péssimo atrás, sendo driblado com facilidade em todos os lances. Menos mal que Angelim esteve muito bem, mas foi o ponto fraco da defesa do Flamengo, que no geral ontem esteve bastante bem.

Willians correu muito, deixou Adriano na cara do gol uma vez, mas também se enrolou em várias tentativas de ataque, cansou cedo e poderia ter sido substituído antes. Assim como Vagner Love, que insistiu em fazer o que normalmente tem feito, mesmo no campo encharcado de ontem: tentar driblar todo mundo todas as vezes em que recebe a bola, normalmente sem sucesso nenhum. Eu o teria substituído logo depois da expulsão de Michael.

E vale elogiar a todos pela raça que mostraram, o tempo inteiro - mas, no duro, mesmo contra o Caracas o time já havia corrido bastante. Se mantiverem este espírito no jogo de volta, a classificação fica bem mais próxima.



29/4/2010 - 21h50 - Flamengo 1 x 0 Corinthians
Maracanã - Rio de Janeiro, RJ
Renda/público: R$ 2.240.800,00 / 62.247 pagantes

Árbitro: Carlos Arecio Amarilla (PAR)
Auxiliares: Emigdio Ruiz (PAR) e Nicolás Adolfo Yegros (PAR)
Cartões amarelos: Michael, Fierro (FLA); Roberto Carlos, Moacir (COR)
Cartão vermelho: Michael, 36'/1ºT (FLA)

Gol: Adriano, 21'/2ºT (1-0)

Flamengo: Bruno, Leonardo Moura, David, Angelim e Juan; Rômulo, Maldonado (Toró, 33'/2ºT), Willians (Fierro, 30'/2ºT) e Michael, Vagner Love (Vinícius Pacheco, 36'/2ºT) e Adriano. Técnico: Rogério Lourenço.

Corinthians: Julio Cesar, Moacir, Chicão, William e Roberto Carlos; Ralf, Jucilei, Elias e Danilo (Jorge Henrique, 22'/2ºT); Dentinho (Iarley, 22'/2ºT) e Ronaldo (Souza, 38'/2ºT). Técnico: Mano Menezes.

2 comentários:

Flávio Zaca disse...

Eu achei mesmo foi irresponsabilidade do Michael. Como pode, em um jogo de Libertadores um armador ser expulso com 35 minutos de jogo? Isso é inadmissível!

Folha disse...

O resultado foi excelente, pelas circunstâncias e pelo fato de não ter tomado gol.

Em competições onde o gol fora de casa serve como critério de desempate, o certo é partir pro ataque na casa do adversário, até pq essa historia de jogar fora de casa é uma tremenda balela.

Obviamente não vejo, no Brasil, nenhum treinador capaz do colocar seu time pra frente na casa do adversário, mas um eventual gol no Pacaembu encaminha enormemente a classificação.

A chuva jogou muito a favor!!!

ps: melhor nem tecer comentários sobre o Ronaldo...cada um tem o "Adriano" que merece.