Qual o verdadeiro valor de um treinador?*

* Texto da coluna semanal no Blog da FlamengoNet.

Muitos dos leitores devem se lembrar do SuperTécnico. O programa, apresentado pelo grande mestre Mílton Neves, era uma mesa redonda que reunia treinadores em atividade nos grandes times do país para falar da rodada. Fez razoável sucesso e, até pelo nome, não deixava de ser um símbolo de uma era do nosso futebol que durou até bem pouco tempo, mas parece estar chegando ao fim: a dos SuperTécnicos.

Em um tempo em que clubes do exterior começaram a levar embora não só os nossos principais jogadores, mas também os bonzinhos que poderiam substituí-los, os apenas razoáveis, os garotos que poderiam a ser razoáveis um dia e até mesmo o pernas-de-pau que fez dois gols em cima do Boavista na rodada passada, o trabalho dos técnicos começou a ser visto como o principal para um time conquistar títulos. No meio de tanta mediocridade, o diferencial estaria em conseguir fazer os medíocres trabalharem no seu máximo - e assim os treinadores foram elevados a astros do espetáculo. Mas, já tem um tempinho, os sinais estão mostrando que esta onda passou. Ontem, tivemos mais um: a demissão de Muricy no Palmeiras.

E o Flamengo 2009 foi justamente um símbolo disso aí. Enquanto o Palmeiras trocou seu auxiliar prata-da-casa Jorginho pelo caríssimo Muricy, o Flamengo fez o contrário: para economizar, decidiu apostar em Andrade. Deu certo, o time foi campeão (enquanto o Palmeiras ficou de fora até da Libertadores), e muitos por aí usaram os dois casos para chegar à conclusão: não é preciso contratar um grande técnico de grife pra se dar bem, dá pra chegar longe na base da humildade andradiana (algo que até me incomodava um pouco, porque parecia tirar um tanto dos grandes méritos de Andrade na campanha). O próprio desempenho do muito menos renomado Ricardo Gomes no lugar de Muricy no mesmo São Paulo ajudou a dar esta impressão: afinal de contas, o técnico não faz tanta diferença assim. E agora o Palmeiras vai trocar Muricy (que ainda acredito que seja bastante bom em seu jeito de trabalhar, embora com uma filosofia de jogo chatapracacete) por Antônio Carlos, que só tem no currículo como técnico alguns meses à frente do São Caetano, com o mérito de ter afastado o time do rebaixamento na série B para deixá-lo mais ou menos próximo da zona de acesso. Pois é.

Aos resultados recentes de Muricy, Andrade e Ricardo Gomes somam-se casos anteriores - como os recentes anos de resultados abaixo do nível de seu ego que Luxemburgo vem tendo, o vice-brasileiro conquistado pelo sempre contestado Celso Roth e até mesmo o trabalho de Dunga na Seleção, que bem ou mal vem tendo resultados no mínimo no nível de seus antecessores mais experientes na função. E pode até ser coincidência, mas esta virada de pensamento vem em um momento em que o Brasil está recebendo de volta da Europa uma porção de nomes de peso - Adriano, Fred, Love, Robinho, Ronaldo, Roberto Carlos e outros menos cotados. O que deve contribuir para que as pessoas voltem a achar que quem resolve mesmo é quem está dentro de campo.

O que é um pensamento sempre mais saudável e divertido, mesmo. Um dirigente que, hoje, ao iniciar uma temporada com grande ambição, preferisse gastar uma fortuna para trazer um Felipão em vez de um, digamos, Ronaldinho Gaúcho não seria visto com a mesma simpatia de um tempinho atrás. Mas ainda lembro de diversos anos, não tão distantes assim, em que o Flamengo apostou na contratação de jogadores caros e colocou para dirigi-los técnicos que, bem, não tinham nível para fazer o trabalho - e os resultados não eram lá muito agradáveis de se ver. Tudo é uma questão de equilíbrio; assim como não faz sentido gastar 500 mil reais por mês no salário de um treinador, também não é um trabalho que dê pra colocar na mão de qualquer um. Talvez a maior lição não seja nem a de diminuir o valor dado ao trabalho dos técnicos - e sim a de evitar cair com tanta facilidade em discursos de autopromoção de quem estiver momentanemente por cima.


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No caso do Flamengo atual, o time já tem seus jogadores de nome e o trabalho do treinador daqui pra frente será bastante importante mesmo.

Todos já repararam que o time está com alguns problemas que não estão se resolvendo com facilidade, que vêm da mudança de alguns nomes e também da maneira do time jogar. Tenho certeza de que contratar alguns jogadores de alto nível para uma ou outra posição, se o dinheiro na Gávea estivesse sobrando, não faria mal. Mas, no momento, não há perspectiva de qualquer grande contratação, não parece que o nível do elenco do Flamengo esteja muito abaixo do de nenhum outro time do país e as peças disponíveis são essas mesmo. Mas Andrade ainda tem que quebrar um pouco mais a cabeça para descobrir as melhores a serem usadas e a maneira mais eficiente de encaixá-las.

4 comentários:

Anônimo disse...

Milton Neves Grande Mestre? Nem de brincadeira né?! Esse cara é um pulha!!!

Murdock disse...

É aquilo, quem ganha o jogo é quem está em campo. Espero que realmente essa onda de professor doutor treinador esteja mesmo no fim.

Bosco Ferreira disse...

Ainda aguardo as promessas feita pela diretoria:
1)Mudar o estatuto responsabilizando os dirigentes por excessos prejudiciais ao clube.
2)Criar o sócio torcedor democratizando a nação com o direito ao voto, e possibilitando uma receita advinda do sócio-torcedor.
3)Profissionalizar o departamento de futebol e de market.
4)Após o carnaval iniciar as negociações para a renovação dos contratos das estrelas que tem data de validade até julho, ou iniciar as negociações com subistitutos em potencial deles.

Concordo com o Antônio: Milton Neves é um pulha!!!

Concordo com o Murdock: Treinador salvador da pátria só na cabeça de alguns formadores de opinião engordado com o jabá dado por eles.

André Monnerat disse...

Anônimo e Bosco: tenho certeza que vocês mudarão de ideia sobre o grande Milton Neves ao clicar no link que coloquei em seu nome, no texto.