Momentos decisivos do Hexa: a histórica vitória na Vila Belmiro

Vanderlei Luxemburgo não teve um bom 2009. Foi demitido do Palmeiras, não conseguiu nada com seu Santos - e, pra completar, viu do banco o Flamengo bater seu time na Vila Belmiro pela primeira vez em uma partida oficial. E vejam bem: a única outra vitória rubro-negra por lá na história havia acontecido num amistoso, com gol justamente do então lateral Vanderlei. E toda vez que o Flamengo ia jogar lá, este golzinho era relembrado em alguma matéria - foi, provavelmente, o feito mais lembrado de sua passagem como jogador pela Gávea. Mas a importância desta vitória foi além da simples quebra de um tabu estatístico: tratou-se de um momento crucial para a conquista do título, concretizada meses depois.

Tratava-se da primeira partida do Flamengo após a queda de Cuca e a saída de Kléber Leite da diretoria. Em um momento de enorme instabilidade na Gávea, Andrade assumia como interino. E sua atuaçãonesta reestreia já teve dois pontos que seriam marcas de seu trabalho ao longo da competição: a simplicidade na organização do time (o que não quer dizer que agisse sempre de maneira óbvia) e substituições que acabavam sendo decisivas no resultado final do jogo.

Enquanto o time de Cuca tinha sempre jogadores realizando múltiplas funções - lateral que virava volante que virava meia que apoiava o ataque -, Andrade já fez logo em sua estreia com que cada um tivesse sua posição bem definida em campo. De cara, por exemplo, Léo Moura voltou a jogar apenas aberto pela direita, sem fazer também a função de meia - ao longo do campeonato, a redefinição de seu posicionamento foi decisiva para que ele, que era muito contestado na época, voltasse a subir de produção. Sem grandes invenções táticas e mantendo o esquema de três zagueiros que vinha sendo usado, o time já mostrou uma consistência defensiva maior do que vinha tendo nas rodadas anteriores.

O jogo foi amarrado e equilibrado no primeiro tempo e no segundo, quando o Flamengo começava a se impor e criar chances, sofreu um gol. Mas conseguiu o empate não muito depois, com um chute de longe de Adriano. E, no final, a sorte ajudou as substituições de Andrade a definirem a partida: o garoto Bruno Paulo fez jogada pela direita e cruzou para Fierro na área, um lance com dois jogadores que entraram durante o jogo. Mas, no fim, o gol que definiu a vitória aos 43 do segundo tempo foi contra, de Pará, que tentava cortar o cruzamento.

Mas vejam que, fora o resultado em campo, que já seria importante por si só nas circunstâncias em que aconteceu, houve um último lance à beira do gramado que teve enorme peso no que viria a acontecer até o final do ano: procurado para dar entrevista sobre a vitória, Andrade chorou ao vivo na TV, emocionando-se com a vitória e dedicando-a ao ex-companheiro Zé Carlos, goleiro que havia acabado de falecer. As imagens comoveram a torcida e muitos iniciaram campanha pela permanência do antigo ídolo no cargo, após sua demonstração de rubro-negrismo explícito. A imprensa começou a cogitar a efetivação de Andrade e até mesmo a indagar aos dirigentes sobre o tema em entrevistas - e Marcos Bráz e Delair, que acabavam de ganhar o poder total no futebol e precisavam resolver a situação em pouco tempo, pareceram se sensibilizar.

O episódio, aliado à alta pedida salarial de outros treinadores cogitados e à vitória que veio em seguida sobre o Atlético-MG, no Maracanã, acabou fazendo com que Andrade ganhasse logo o status de técnico definitivo para a temporada - numa decisão que, na época, pareceu precipitada para muitos. Mas que, agora, todos sabemos no que deu.