Minhas ideias para o calendário brasileiro - Parte 2

Então, taí minhas sugestões de mudanças no calendário do futebol brasileiro:

- Alinharia o calendário brasileiro ao europeu. Isso seria bom pra diminuir a saída de jogadores importantes no meio do Brasileiro, mas nem é o motivo definitivo. O que pesa na minha "decisão" seria o fato de não ter mais Copa do Mundo, Copa das Confederações ou Olimpíadas acontecendo no meio do calendário.  Isso come datas que fazem falta e atrapalha todo o fluxo das competições. Ano que vem, por exemplo, a Copa do Brasil vai começar no primeiro semestre, parar por mais de um mês e aí ter sua final em julho. Ruim demais.

- Faria a Sul-Americana dar vaga para a Libertadores e ser disputada ao mesmo tempo que ela, por outras equipes. Foi mal, argentinos, mas não faz sentido mantê-la do jeito que é hoje. Haveria uma complicação: como criar esta vaga a mais? Seria preciso tirar uma vaga de outro país? Seria preciso aumentar o número de participantes? É algo a ser estudado. Mas coloquem aí na conta: hoje o calendário reserva 17 datas para a Libertadores, e é com este número que vou seguir para as duas competições continentais simultâneas.

- Acreditem: é difícil conseguir fazer encaixar tudo o que queremos no calendário do futebol nas 48 semanas disponíveis do ano. Por isso, eu reduziria o número de times do Brasileiro, de 20 para 18 - o que diminuiria sua duração de 38 para 34 datas. Para compensar um pouquinho, diminuiria o número de clubes rebaixados direto de 4 para 3, e faria os dois acima disputarem com pretendentes da segunda divisão um mata-mata para decidir quem jogaria na série A do ano seguinte. Alguns jogos de vida ou morte a mais não fariam mal. Talvez um mata-mata rápido para decidir uma ou duas vagas na Libertadores também fosse interessante - é algo a ser pensado.

- Os Estaduais teriam suas datas reduzidas, das atuais 23 para 10. Neste tempo, seria possível uma fórmula, por exemplo, com 12 times, dois grupos de 6 jogando em turno único na primeira fase, semi-finais e finais para decidir o título (ou um quadrangular em turno único, quem sabe). Ou 16 times, quatro grupos de 4 jogando em ida e volta, semi-finais e finais. Ou até um mata-mata simples, com 32 times jogando em ida e volta a cada fase. Aí vai de cada federação decidir o que acha melhor.

- Os primeiros colocados dos Estaduais se classificariam para os Regionais (Rio-São Paulo, Sul-Minas, Centro-Oeste, Nordeste e Norte), que começam em seguida, disputados em meio de semana, com o Brasileiro rolando. Para eles, 8 datas seriam reservadas - seria possível um regional com 16 times em mata-mata simples, ou com números menores de clubes e outras fórmulas. O Rio-São Paulo, por exemplo, poderia ter 6 times divididos em dois grupos de três, jogando em ida e volta e classificando os finalistas; ou 8 times, dois grupos de 4, mesma fórmula. É uma questão de se chegar à conclusão do melhor número de participantes e fórmula para cada região, desde que caibam nestas 8 datas. É importante que os campeões estaduais entrem com vantagens efetivas nos regionais, para os títulos serem valorizados.

- O campeão de cada regional se classificaria para a remodelada Copa do Brasil. Com apenas 8 times (os 5 campeões, mais outros três também classificados pelos regionais - faria-se um ranking baseado nos resultados dos times de cada região para definir quem ficaria com as vagas restantes), ela seria disputada em seis datas, mata-mata simples, a partir das quartas-de-final - que, vamos combinar, é a fase em que a Copa do Brasil atual começa a ficar interessante.

Hoje, temos as primeiras fases da Copa do Brasil obrigando os times grandes a longas viagens, para jogos no esquema "bater em bêbado" contra times inacreditavelmente mais fracos. Muitos usam times mistos, a audiência nas TVs é ruim, o desgaste é grande - só vale a pena praqueles poucos que conseguem ir aos estádios destas cidades para verem de perto os reservas de Vasco ou Atlético-MG. A maior ambição de boa parte dos participantes é perder de pouco em casa, pra poderem viajar pro Rio ou pra São Paulo num jogo de volta com estádio vazio.

Neste novo formato, os estaduais ganhariam novo sentido, as rivalidades locais seriam estimuladas, viagens seriam encurtadas e jogos decisivos e interessantes de mata-mata se multiplicariam ao longo do calendário - seriam três períodos espalhados pelo ano com decisões relevantes sendo disputadas. E ainda se daria a chance para um time mais forte da região Norte, por exemplo, realmente chegar à fase decisiva de uma competição nacional.

- Reservo 8 datas para uma pré-temporada bem maior do que a que costumamos ter por aqui. E os times poderiam se preparar melhor, viajar pra fora, fazer excursões pelo Brasil, enfim.

- Quem olhar o calendário da FIFA, vai ver que, até 2014, as datas reservadas para as seleções variam entre 7 e 12 por ano. Foi mal: não consegui liberar 12 não. Ficam previstas 7 datas FIFA por ano no calendário - e cabe à CBF fazer não coincidir jogos decisivos do calendário com aquelas datas em que não for possível parar as competições, o que não aconteceria todo ano. Acho que é possível e o prejuízo estaria bastante minimizado. Em ocasiões especiais, seria possível adiar um ou outro jogo por conta de convocações.

- Estes possíveis adiamentos seriam facilitados pela existência de 3 datas livres no calendário. Elas serviriam justamente para possíveis adiamentos de partidas - por campo alagado, chuva de granizo, queda de energia, convocação da Seleção ou possíveis participações em Recopa Sul-Americana, Mundial de Clubes e coisas do gênero. Os times que jogassem mata-matas decisivos de rebaixamento/acesso, ou por vagas na Libertadores, usariam estas datas - e poderia até acontecer nelas uma final de Brasileiro, em caso de empate entre dois times. Afinal, é o fim da picada poder decidir um título de um torneio de pontos corridos de tantos meses no saldo de gols ou número de vitórias, né não? Façamos uma final aí, pra ser mais justo (e divertido). Isso não é possível hoje por falta de datas disponíveis no calendário.

- E preveria ainda 3 datas de folga no fim de ano, pra ninguém ser obrigado a jogar no periodo de Natal e Reveillón, quando as pessoas não estão mesmo com a cabeça muito concentrada em futebol.

Fazendo então a soma:

Brasileiro: 34 datas
Estadual: 10 datas
Regional: 8 datas
Copa do Brasil: 6 datas
Libertadores / Sul-Americana: 17 datas
Datas FIFA: 7 datas
Pré-temporada: 8 datas
Folga de fim de ano: 3 datas
Datas livres: 3 datas
Total: 96 datas, ou 48 semanas. Como um ano tem 52 semanas, sobram as 4 semanas de férias.

Está razoável?

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Este, é claro, é o calendário da elite. Mas eu ainda faria as séries C e D (e quantas mais fossem necessárias) do Brasileiro em pontos corridos, ocupando o mesmo período das divisões superiores. Só que estas competições seriam regionalizadas, diminuindo os custos de deslocamento destes times menores. Você poderia ter, por exemplo, cinco séries C simultâneas, uma em cada região do país, com o campeão de cada uma ganhando vaga na série B (esta sim, única) do ano seguinte. A série D poderia ser igualmente regional ou talvez já dividida por estados, e por aí vai.

É mais ou menos assim que acontece na Inglaterra, um país muitas vezes menor que o Brasil - e por aqui isso ainda não é feito, sei lá por quê. É questão de dar uma olhada no modelo deles e ver como funciona este sistema regionalizado de acesso e rebaixamento entre as divisões inferiores. E, com isso, estes times regionais teriam todos atividade garantida para o ano inteiro - isso aqueles que tiverem realmente capacidade para entrarem com suas pernas numa estrutura profissional, claro, e não os que só servem de vitrine para empresários por poucos meses a cada ano.

3 comentários:

Guilherme de Baere disse...

André, boa sugestão fazer com que os estaduais sejam valorizados dando vaga pra outros torneios. Por outro lado, acho que ressucitar os regionais é meio exagero. Realmente, rivalidades como Sul x Minas são meio que inventadas, não?

mas gostei da idéia de Sul-Americana e Libertadores simultâneas, como acontece com champions league e a copa da uefa.
As sugestões para as séries D e C tb são excelentes do ponto de vista econômico mas tb como fomento para o surgimento de novos clubes!

SRN!

André Monnerat disse...

Guilherme, Sul-Minas realmente não é uma parada natural - assim como Centro-oeste ou Norte.

Mas a Copa do Nordeste faz todo sentido. O Rio-São Paulo também é interessante (e especialmente pra nós seria ótimo, porque daria entrada pros cariocas na mídia de São Paulo, o que faz muita diferença pra contratos de patrocínio).

De qualquer forma, a lógica do regional como "intermediário" na Copa do Brasil é regionalizar as viagens, garantir espaço pra todas as regiões na fase decisiva e também criar mais um momento de decisão no meio do calendário. Seria bom pra todo mundo.

Raphael Perret disse...

Gostei das ideias. Gosto dos regionais, pra atender o que o Guilherme fala poderia haver uma Copa Sul (PR, SC e RS) e uma Rio-SP-MG.

Também gostei da Liberta e da Sula disputadas junto. Acho que seria muito mais valorizada.

E o que mais importa: diminuir os Estaduais. Hoje eles só servem para a preservação de forças políticas locais, amadoras e retrógradas, que em nada contribui para a profissionalização e evolução do futebol.