Com tanta gente disputando posição do meio pra frente - Íbson, Kléberson, Éverton, Sambueza, Fierro, Vandinho, Josiel e por aí vai -, o assunto da moda, quando se fala em escalação do Flamengo, é a defesa. Entre os torcedores, a discussão já era grande: afinal, Jaílton deveria sair do time ou já deveria ter saído? Mas agora, parece que a imprensa decidiu dedicar-se também ao assunto. Andaram questionando o técnico - o que gerou a já célebre frase sobre a ignorância alheia -, alguns comentaristas escreveram sobre o assunto. E a maioria para defender o último remanescente da turma de Ipatinga no onze inicial rubro-negro.
Há alguns álibis estatísticos para a escalação de Jaílton. Ele é o líder de roubadas de bola do time e um dos melhores do campeonato neste quesito (é bom lembrar que, até sair do time por contusão, Toró era o maior ladrão de bolas da competição). E o aproveitamento da equipe com ele é melhor do que sem ele. Até acredito que uma parte da perseguição da torcida venha da vocação dos rubro-negros para procurarem um bode expiatório, um culpado por tudo. Já foi Toró, Souza, Obina, Tardelli; agora é Jaílton. Mas não dá pra dizer que a sua escalação seja inquestionável, como estes analistas, suas estatísticas e o técnico Caio Júnior sugerem ("nosso esquema precisa dele" - armou o time em função do Jaílton?!?).
Eu já escrevi por aqui o que acho da escalação de Jaílton no time atual. Pra mim, é um volante medíocre, que não era grande problema até virar o zagueiro atual - coisa que aconteceu, pra valer, na época em que Renato Augusto e Marcinho saíram e Caio Júnior começou a procurar alternativas para liberar outros para armar o time. Desde então, ele deixou de ser o volante-zagueiro criado por Joel e recuou de vez para a linha de Fábio Luciano e Angelim. Além de Jaílton atuar pior lá atrás - e não ter quem cubra suas falhas -, a alteração criou o problema crônico do espaço à frente da defesa, que permite que todo adversário avance livre até a entrada da área rubro-negra. A questão não é só técnica, mas também tática.
Mas já que a discussão passou a ser em números, decidi levantar outra estatística.
Desde o jogo contra o Coritiba - que marcou o início da queda do Flamengo no Brasileiro -, o time levou 20 gols. Destes, dá pra dizer que Jaílton esteve diretamente envolvido em 7. Foram eles os gols marcados por Vitória (parou de acompanhar Dinei e o deixou livre pra marcar), Palmeiras (passe de Valdívia nas suas costas), Goiás (deixou Iarley finalizar tranquilo dentro da área no segundo gol), Santos (não acompanhou Kléber Pereira no primeiro gol), Fluminense (cabeçada pra frente da área no primeiro gol) e Figueirense (o giro em cima dele no segundo gol). Ou seja: 35% dos gols sofridos pelo Flamengo hoje em dia têm participação de Jaílton.
Nenhum outro jogador do Flamengo participou de tantos gols sofridos no período. Bruno e Fábio Luciano são os que chegam mais perto, com duas falhas diretas cada - os outros gols foram ou de jogo aéreo, ou devido a falhas coletivas. Ainda dá pra colocar na conta da ida de Jaílton pra zaga mais alguns desses, sofridos devido à falta de alguém na frente da área - caso do segundo gol do Santos na Vila Belmiro, por exemplo.
Amanhã, Jaílton estará novamente em campo. E, ao que tudo indica, vai ser assim até o fim do campeonato. Caio Júnior deve saber o que está fazendo.
Atualização: percebi que me distraí na lista de gols em que Jaílton, digamos, poderia ter se saído melhor. Faltou o segundo gol da Portuguesa, marcado em pênalti cometido infantilmente por ele.
3 comentários:
André Monnerat,
Tranquilo? Sou o Antonio, colega de blog Flamengo net.
Vi seu link no Mauro Cezar.
Primeiro: a iniciativa de estabelecer uma comparação é elogiável. Tenho, porém, algumas considerações. Penso que o 'recorte' mais correto seria analisar os dados desde o início da formação com 3 zagueiros.
Mas vamos lá, sigo sua metodologia.
Gol do Palmeiras. Vale a correção. O passe foi nas costas de Dininho, camisa 34. Jaílton corria pelo seu setor, o direito. Lembrando que o contra-ataque começou com um passe errado, se não me engano, de Íbson, e que Toró não conseguiu desarmar Valdivia, nem na primeira tentativa, nem quando o chileno recebeu a bola devolvida pelo atacante Kleber.
Vitória. Sim, ele deu espaço para Dinei prosseguir na jogad. Depois que deixou o atacante disparar, um abraço. Mas houve outro jogador ali - Dininho, creio, que parou na jogada, deixando o espaço vazio para Dinei se projetar. Fabio Luciano, sozinho na área, demorou um pouco para cobrir o setor. Enfim, como disse no Urublog, uma falha coletiva.
Primeiro gol do Santos. No meu modo de entender, falha coletiva, sendo que Cristian poderia ter usado o recurso do antijogo e feito a obstrução. Mas há de se considerar, nos dois gols, os méritos do artilheiro da temporada.
Goiás. Na minha opinião, foi a maior falha dele por ter marcado a bola. Nessa aí, faltou a manha do zagueiro que sempre tem que manter algum contato físico/visual com o atacante a quem marca para poder se antecipar no devido tempo. Só que tributo parte desse gol a Cristian, que deu muito espaço para Romerito. Há de se considerar ainda o mérito do Iarley, um atacante que ajudou o Goiás a se recuperar no campeonato. O clube de Goiânia ostenta a liderança simbólica do returno. E com sobras.
Figueirense. Houve falha, mas também vejo ali mérito do atacante, que se valeu da força física para girar, meio no estilo do Adriano, que me perdoe a comparação tenebrosa. Há ainda uma circunstância de ordem tática. O Figueirense tinha outros dois homens adiantados na área. Angelim cuidava de um e Fabio Luciano, do outro. Nisso, a sobra que cabe ao Fabio Luciano foi para o espaço. É importante o Flamengo prestar atenção nisso, porque qualquer defesa tende a levar desvantagem sempre que os zagueiros ficam no mano a mano. Nesse caso, teria que recuar um jogador para deixar o jogador da sobra (FL) livre.
Fluminense. Falha conceitual, é fato inconteste. O melhor lugar para rebater uma bola não é a zona da meia lua. Mas Toró não acompanhou Conca e, vamos falar a verdade, um gol como aquele é um feito extraodinário, raro de acontecer. Creio que, por esse simples fato, é forçar um pouco debitar o gol na conta do 14.
Por fim concordo que Jaíton é um jogador mediano, mas não esse capeta que a torcida pinta. Com outra formação e dois volantes de ofício, o time talvez melhorasse e corresse menos riscos.
Só que eu acho que a defesa é o setor onde o Flamengo tem menos problemas. A prioridade, penso eu, é acertar o time do meio para frente, com volantesque tenham qualidade na saída de bola e meias criativos. E que os três escolhidos sejam combativosa na hora de defender.
Tenho convicção que Jaílton não é o culpado por todos os males do time - inclusive o tal espaço na intermediária. Está faltando um sentido mais solidário de alguns jogadores na marcação. Éverton, que entrou recentemente, por exemplo, tem ajudado pouco. E é preciso haver uma maior coordenação na subida dos laterais. No primeiro gol do São Paulo, nem Juan nem Léo Moura aparecem na jogada.
É isso. Abraço, AFA
caros amigos, venho expor minha opinião, mesmo sem a minuciosidade da análise dos colegas;
acho que a torcida está certa em pegar no pé do jaílton; quanto a um "bode expiatório", isso pode ser questionável, mas por outro lado o flamengo nunca caiu pra segunda divisão de campeonato algum - e certamente que a torcida, com sua força e seus anacronismos, tem participação direta nisso, com suas cobranças e seus apoios, ambos os maiores do brasil.
quanto ao jaílton, suas falhas grosseiras são óbvias, como passes errados para a entrada da área, coisa que aprendemos a não fazer ainda na escolinha de futebol;
claro, ele tem seus méritos e nem acho que a culpa maior seja dele, mas do caio júnior que, bom treinador que é, vem sendo teimoso nessa questão.
vamos analisar apenas a partida contra o ipatinga, logo mais;
há real necessidade de entrar com 3 zagueiros num jogo em casa contra um adversário que não venceu NENHUMA partida fora de seus domínios ?
o esquema com 3 zagueiros, que inclui o jaílton, sacrifica um jogador de meio - talvez seja aí que o sambueza esteja perdendo a vaga.
mantendo dois homens de marcação no meio - kléberson e ibson - e apenas o everton criano, caio júnior abre mão de mais criatividade na armação e fica sujeito ao pânico de suas substituições a la nero, quando o time está perdendo e tem que partir pro tudo ou nada.
jaílton pro banco ! pelo menos contra o ipatinga, pra quê usar 3 zagueiros ?!
abraços a todos os amigos !
Antôno, beleza?
Sobre o início dos 3 zagueiros: quando seria? Vou dizer que, pra mim, ele virou zagueiro mesmo a partir do jogo contra a Portuguesa - e, aliás, não incluí o pênalti infantil que ele fez naquele jogo na conta. Distração minha! Assim como não citei no texto a substituição contra o Inter, em que o Caio teve que tirar o cara de campo correndo, ainda no primeiro tempo, antes que ele arrumasse uma expulsão.
Mas na verdade, eu coloquei "participação" do Jaílton nos gols. Em todos os citados, ele foi mal no lance de alguma maneira. Não são furadas bisonhas, não são passes no pé do adversário. É simplesmente a falta de jeito de jogar de zagueiro. Ele falha no posicionamento com constância e não lida direito com a situação de ser o último homem na hora de marcar.
Ele não é o culpado pelo buraco na intermediária. Mas o esquema é. É o recuo dele pra zaga, sem que alguém tenha entrado para cumprir sua função antiga, de proteção aos zagueiros no meio-campo. Claro, é tipo preparar Neston, há mil soluções possíveis pra isso. Mas o que eu acho é que o problema apareceu a partir da transformação dele em zagueiro - o que não é culpa dele.
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