A primeira vez a gente nunca esquece

E tive minha primeira participação em uma votação como Conselheiro do Flamengo, na aprovação do contrato com a Peugeot.



Ontem tive a minha estreia como membro do Conselho Deliberativo do Flamengo. Foi interessante ver como é a dinâmica destas sessões, como funcionam as votações, como são e o que falam as pessoas que pedem a palavra. E entrei em campo pela primeira vez em dia de casa cheia: foram muitos os comentários durante a sessão de que aquele quórum, de mais de 400 pessoas, era o maior em muito, muito, muito tempo.

Claro, os temas da pauta eram importantes e levantavam interesse. Mas boa parte deste "sucesso de público" se deve ao fato de que, como eu, havia muitos outros comparecendo ali às suas primeiras votações como conselheiro. Está havendo uma renovação entre as pessoas que participam da vida política do Flamengo, o que é bom. Bacana perceber que o esforço de muitos para convencer cada vez mais rubro-negros a se associar e participar já está tendo efeito prático dentro do clube.

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O tema que chamava mais atenção na pauta era a aprovação do contrato de patrocínio da Peugeot. Foi o primeiro a ser tratado, começando pela apresentação do Diretor de Marketing do clube, Fred Luz, sobre o acordo.

A saída de João Henrique Areias do departamento de Marketing chamou mais atenção da imprensa do que o fato de que Fred Luz já está há algum tempinho trabalhando lá dentro. Luz foi diretor por muitos anos das Lojas Americanas, é sócio e membro do Conselho de Administração da Inbrands (dona das marcas Ellus, Richards, Salinas e VR) e membro do Conselho de Administração da Leader Magazine, além de ter sido consultor de empresas como Sendas, Mesbla e Redley. É, portanto, um cara com alguma experiência em empresas de varejo, o que pode contribuir para dar uma visão diferente ao departamento no clube. Ele e o já famoso Bap, atual Vice-Presidente de Marketing, trabalharam juntos antes e isso, junto com sua participação na campanha que elegeu a atual diretoria, deve ter tido sua importância para que esteja agora ocupando esta função no Flamengo.


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Sobre o contrato com a Peugeot, foi interessante perceber na apresentação que surgem expressões e conceitos comuns nos negócios do tipo em outros mercados - como "bonificação", "experimentação", "fidelização". Há uma lógica no negócio que foi construído, e nos princípios que foram divulgados para as negociações em curso, que faz sentido. Interessante também ouvir que o clube trabalhará para criar mais valor para as parcerias que fechar dando às empresas não somente a simples exposição da marca no uniforme, mas também ativação junto aos torcedores através dos canais que o clube está construindo com eles - desde os já existentes, como os perfis nas redes sociais, até os que ainda serão construídos, com o lançamento de um novo programa de relacionamento; muitos dos conselheiros presentes por lá devem ter ouvido falar pela primeira vez, ainda que muito rapidamente, em CRM. Se forem bem sucedidos em colocar em prática o que estão discutindo, o Flamengo poderá mudar um tanto a visão que o mercado tem do que significa patrocinar o clube e estará em condições, no futuro, de fechar mais e melhores contratos.

É impossível, no entanto, avaliar um contrato como este sem falar em quanto será pago ao clube. Trata-se de um valor que cresce a cada ano do acordo, mas que fica em média próximo dos R$9 milhões anuais, sem contar possíveis bônus por conquistas. Foi aprovado por unanimidade. Mas está bom? É muito? É pouco?

Difícil avaliar neste momento. Não é costume no Brasil vender o espaço das costas, que foi entregue agora à Peugeot, separadamente do peito; os dois juntos formam o tão falado "patrocínio master" em quase todas as equipes por aí. Então, como dizer quanto valeriam separadamente, por exemplo, as costas e o peito do uniforme do Corinthians?

Saberemos de verdade se o Marketing do Flamengo foi bem sucedido em seu trabalho de buscar patrocinadores para o clube quando tivermos a soma das três cotas que pretendem vender, ocupando peito, costas e mangas. Em minha opinião, para terem feito um indiscutível grande negócio, o total deve ser semelhante aos R$42 milhões que o Corinthians arrecada com os mesmos espaços; para chegarem em um nível razoável, não pode ficar abaixo dos R$30 milhões do São Paulo. Mas também deve ser levado em consideração na avaliação o momento do Corinthians e a natureza de seu patrocinador, que contribuíram para um valor muito alto; e ainda que os dois clubes paulistas passaram quase um ano inteiro sem marca nos seus espaços principais até conseguirem fechar com seus patrocinadores atuais. Além disso mostrar que não é fácil chegar a este patamar, também há um custo por ficar sem receber por tanto tempo que precisa ser colocado na conta.

Se o Corinthians tivesse, por exemplo, fechado no início de 2012 um contrato de R$23 milhões anuais por 3 anos, ganharia até o final de 2014 bem mais que os R$60 milhões do acordo que fechou com a Caixa até a mesma data. Ainda mais em um momento de pouca grana disponível, é o tipo da coisa em que devem pensar os dirigentes rubro-negros ao considerarem se vale a pena ou não esperar mais um pouco por proposta melhor.


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Com o tanto que se discutiu por aí se o valor do contrato com a Peugeot é bom ou não é, foi curioso notar que em nenhum dos pareceres apresentados na reunião sobre ele - todos amplamente favoráveis, das comissões jurídica e de finanças e do Conselho Fiscal, este representado pelo Capitão Léo - alguém lembrou de citar quanto está previsto no orçamento do clube receber de patrocínios do time de futebol.

Há um orçamento aprovado pelo Conselho de Administração do clube que, pelo Estatuto, está em vigor. Afinal, o valor conseguido com este contrato é coerente com o que estava previsto lá ou indica que serão necessários ajustes para as contas fecharem como previsto?

Há até uma auditoria em andamento para que a diretoria conheça a verdadeira situação financeira e é óbvio que o tal orçamento aprovado lá atrás não foi preparado por ela. Assim, é natural que ela não o esteja usando na hora de fazer suas contas, mas é o que formalmente está em vigor e foi simplesmente ignorado nas avaliações dos outros órgãos. O normal seria a questão ser ao menos levantada em algum parecer, nem que fosse para dizer que, neste momento, isso não poderia ser considerado determinante para recomendar ou não a aprovação do contrato devido à situação de transição vivida pelo clube. O fato de ninguém nem lembrar disso mostra como esse negócio de seguir o orçamento não é mesmo muito importante na cultura rubro-negra.


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Fui à reunião achando que a aprovação dos novos uniformes que estava na pauta seria a das camisas da Olympikus com a marca da Peugeot. Para mim, pelo menos, foi uma surpresa agradável ter a chance de ver os primeiros layouts de camisas do Flamengo apresentados pela Adidas, todos aprovados por unanimidade.

Não foi permitido tirar fotos. Mas dá pra dizer que, por mais que cada um tenha seu gosto e possa preferir as camisas mais assim ou assado, a Adidas foi bem razoável e respeitosa em suas criações e não vai, digamos, ofender ninguém. Inclusive no uniforme número 3, pelo qual cheguei a temer ao ouvir o discurso veemente sobre a importância de ousar neste tipo de camisa, antes de finalmente revelarem o seu desenho. Acho que a maioria da torcida vai gostar.

14 comentários:

Jorge Luiz de Magalhães disse...

Como Rubro Negro chego a me emocionar lendo tudo isso que você escreveu, afinal de contas trata-se de uma verdadeira ata de reunião e mais do que isso mostra a julgar pelo que você presenciou, que os tempos de bagunça onde nada era levado a sério, onde o amadorismo imperava, onde as reuniões do concelho não haviam qualquer interesse por parte de seus concelheiros até porque era uma renião de cartas mascadas, isso tudo acabou. Partimos agora para uma nova era de organização e honradez de compromissos assumidos, chega de se motivo de chacotas não só dos torcedores de outros times, mas principalmente da imprensa paulista que tem prazer em dizer que o flamengo é isso ou aquilo. Apesar de estarem com a razão, qual o pai gosta que falem mal de seu filho mesmo sabendo que ele tá errado? Assim é com o flamengo, mesmo sabendo que era uma bagunça sempre me irritou ver a torcida arco iris falando mal e fazendo chacota com o nome flamengo. Parafraseando Marcio Braga " Acabou não o dinheiro, mas sim, Acabou a bagunça.

theo disse...

chuto que um patrocínio no peito é mais caro que nas costas (considerando o mesmo tempo de exposição), pois na maioria das situações favoráveis os jogadores são filmados de frente, não? ex. durante o hino brasileiro, ao dar entrevistas, ao preparar a bola para cobrar uma falta, etc. mas é só um chute...

sobre o último tópico, a nova camisa, espero que o uniforme número 3 não venha em cores que não destoem muito do vermelho e do preto. acho o maior equívoco essas camisas comemorativas em azul, amarelo, etc, q só enfraquecem o visual da massa flamenguista nas arquibancadas.
Por isso gostaria muito de ver uma camisa 3 toda preta, a Urubuzão rs

André Monnerat disse...

Jorge Luiz, acho que tem bastante o que melhorar ainda nessas reuniões do Conselho. Realmente acho, por exemplo, que deveríamos ter tido acesso às informações e pareceres sobre o que iríamos votar com mais facilidade e antecedência. Mas vamos lá, a ideia é mais gente participar pras coisas melhorarem.

Theo, claro que o peito vale mais que as costas. A dificuldade é definir o quanto a mais... Vamos ver. E fique tranquilo com o uniforme 3, não inventaram nada que vá te agredir muito não.

theo disse...

sim! mas uma pesquisa de grau de exposição peito/costas já deveria ter sido encomendada para poder resolver a equação peito + costas = master e embasar as negociações. não vejo dificuldade, ou estou esquecendo de alguma outra variável?

=Beto= disse...

Show!!!
Gostei das novidades!!!

André Monnerat disse...

Theo, é claro que eles têm o estudo deles pra embasar o que estão pedindo por cada espaço. A questão é ver se, na prática, na hora de negociar, a percepção do mercado vai bater com as conclusões do estudo deles.

Unknown disse...

Parabens ,seu post foi muito bom e esclarecedor. Você tem alguma informação a respeito de como será o novo programa de sócio torcedor?

André Monnerat disse...

Paulomarcus, não tenho info nenhuma não. Eles apenas disseram na reunião que devem anunciar novidades em breve, nada além disso.

lussiannosousa disse...

André, e a informação que o Flamengo vai buscar absurdos 32 milhões pra única cota do peito e 7 milhões pras mangas? Isso foi realmente dito pelo Bap? Pq saiu em muitos lugares esses valores. Vc sabe que o Cor recebe 30 pelo peito/costas e o Fla já recebe 9,5 pelas mangas... Valores surreais pra mim rs.

André Monnerat disse...

Lussiano, não foi o Bap que apresentou os planos e os termos de contrato. Mas falaram sim em projeções de valores por aí.

Pessoa disse...

Monnerat, dê “detalhes” sobre as camisas, listras grossas, três listras vermelhas no ombro preto, camisa reserva com preto-e-vermelho no ombro e três listras brancas… enfim, qualquer coisa!

André Monnerat disse...

Pessoa, não vai rolar. Mal aê!

Em algum momento vou escrever isso num post, pra ficar bem claro: ser conselheiro do Flamengo vai me dar acesso, de vez em quando, a coisas que não são divulgadas pro grande público oficialmente. Quando for assim, houver pedido de sigilo, não vou revelar por aqui nada além do que já tiver sido confirmado na imprensa. Acho que é o mais correto.

vicente disse...

Parabéns André, participar das decisões de seu clube do coração deve ser um orgulho enorme. Um dia também espero ser conselheiro do Flamengo.

Fico feliz de ver que as inúmeras campanhas com o objetivo de conscietizar os rubro-negros da importância da participação dos torcedores na vida política do clube organizadas na internet nos últimos anos deram resultados. Percebo hoje um Flamengo com um quadro associativo jovem e renovado, não mais dependente das mesmas cartas marcadas que nos acostumamos a ver nos últimos 20 anos.

Um abraço,

Vicente Guedes

Pessoa disse...

Corretíssimo Monnerat, corretíssimo! Abraços!