Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo

Uma responsabilidade do tamanho da torcida do Flamengo.



Ainda não estou certo do que deveria escrever por aqui no primeiro texto após a histórica eleição de ontem no Flamengo.

Eu poderia falar da minha reforçada convicção de que, se você tem uma boa causa e consegue se juntar a outras pessoas que acreditam nela, as coisas acontecem. Poderia falar da emoção de gente que se doou a esta campanha, só porque é Flamengo, e que saiu de ontem da Gávea satisfeita por ter participado daquele momento e esperançosa com o que vem pela frente. Pensei inclusive em começar contando como muitos se sentiram, ao passar pela inacreditável confusão para entrar no pequeno Ginásio Hélio Maurício e assistir à monótona contagem dos votos, como se estivessem passando pelos túneis do Maracanã em dia de decisão. Mas poderia também tentar ajudar as pessoas a colocarem os pés no chão, alertar que não há milagre, que devemos ajustar nossas expectativas para o que vem pela frente e que quem quer uma mudança realmente definitiva no Flamengo terá outras lutas muito importantes nas próximas semanas, meses e anos.

Poderia muita coisa, e talvez eu toque nisso tudo em outros textos depois.

Mas decidi que o melhor é começar por Eduardo Bandeira de Mello, que ainda deve estar tateando o mundo ao seu redor para entender bem a mudança que sua vida teve.

Imagino que ele, e sua família, nunca tivessem imaginado uma reviravolta como essa, neste momento, quando já se preparavam para a aposentadoria no BNDES. Ele já trilhou seu belo caminho profissional, teve seus filhos, construiu sua trajetória - e agora ela recomeça com o que talvez seja a maior responsabilidade que ele já teve na vida, "do tamanho da torcida do Flamengo". Vejam quanto trabalho ele terá à sua frente, a importância da missão que assumiu e quanta gente estará olhando por cima de seus ombros os resultados do que fará pelos próximos três anos. De repente, ele passa a ser reconhecido nas ruas, ouve palpites de todo mundo, recebe abraços, provavelmente também xingamentos, de gente que nunca viu na vida. O que deve estar sentindo neste momento? O que pensou quando foi carregado nos ombros? Quando ouviu seu nome gritado por uma arquibancada lotada?

Não sei, mas sei que em seguida ele foi andando até o bar ali perto da Gávea, tomou chopp com a galera que comemorava a vitória, tirou fotos, bateu papo. Estava feliz.

É bom saber que quem está assumindo essa é alguém como ele: sereno, inteligente, competente e reconhecido por isso, mas também simples, gente boa e tão rubro-negro quanto qualquer um de nós. De arquibancada. Que não se conforma até hoje com uma venda mal feita de um jogador nos anos 60. E que entende os valores que o Flamengo deve representar.

Sei que ele será parte de um conselho gestor formado por outras pessoas. Ao seu lado, haverá outros executivos que talvez até chamem mais a atenção do que ele; se tudo sair como esperamos, no dia-a-dia haverá profissionais contratados que tomarão decisões, responderão por suas áreas, colocarão sua cara para todo mundo conhecer e criticar. Não teremos uma administração personalista como tantas outras, no Flamengo e em outros clubes, muito centralizada na figura do presidente. A ideia não é essa e é melhor que seja assim. Mas, afinal, é na mão dele que ficou a caneta.

Eduardo Bandeira de Mello assumiu essa quando o Flamengo precisou. Matou no peito, colocou ela no chão e agora levanta a cabeça pra sair jogando, com o campo à sua frente. Só posso desejar muito boa sorte. Tamos aí.

5 comentários:

costabrito disse...

Parabens pelo texto a escolha do novo presidente foi merecida.Foi muito bom ouvir a entrevista do EB citando times antigos ,erros cometidos na venda de atletas,e mostrando que o cara conhece a realidade do futebol do Fla.O problema maior agora vai ser conseguir que esse time de craques da chapa,entrem em campo e formem um time !!A tarefa mais dificil é viabilizar um equilibrio nas contas para possibilitar uma base para os outros projetos,a situaçao financeira parece bem complicada !!!!

A.C. Naylor disse...

Muito legal a vitória da chapa azul. Embora a experiência ensine que a esperança deve sempre vir acompanhada de uma boa dose de cautela, é bom olhar para frente com confiança, acreditando que as coisas vão dar certo. Dito isso, queria saber de você, André, que conhece a vida institucional do clube, se é possível que o projeto modernizador da nova administração seja obstruído por instâncias decisórias controladas pelas velhas lideranças. Li que haverá eleição para o Conselho Deliberativo em cerca de duas semanas e que os candidatos que até agora se apresentaram são os pavorosos Capitão Leo, Marcos Braz e Lysias Itapicuru. Qual a importância desse conselho? Sabe se a nova administração vai apresentar candidato nesse pleito? Poderia haver uma crise institucional, levando o clube à paralisia, caso conselho e executivo tivessem agendas divergentes? Acho que esse é o primeiro pepino a ser descascado pela chapa azul...

Luis disse...

É a última chance do Mengão. A entidade não resistirá a mais uma diretoria incompetente. Tem que dar certo.

Marcos Monnerat disse...

Acho o comentário do Naylor bastante pertinente. Os azuis ganharam a presidência, mas não podemos esquecer que foi esse conselho deliberativo que lutou com unhas, dentes e outras armas bem estranhas para tirar do clube praticamente a pontapés nosso ídolo maior, o Zico.

Não podemos esquecer que além do poder direto que esses conselheiros tem no clube, que existe também um poder muito grande nas mãos deles que é a influência que eles tem com torcidas organixadas que sabidamente não se importam muito com as leis vigentes para literalmentr brigar por seus objetivos. Objetivos que, claramente, não são muito flamenguistas, por assim dizer.

Espero que meu medo seja exagerado e que esses caras realmente percam importância no dia a dia e nas decisões dos rumos do fla.

André Monnerat disse...

Naylor, vai haver a eleição para o Deliberativo sim, ainda este ano. Vou escrever especificamente sobre a função do Deliberativo, o poder de seu presidente e como funciona a eleição.

Marcos, na verdade o Capitão Léo era presidente do COnselho Fiscal e foi nele que fez o que fez na época do Zico. Não teve tanto a ver com o Deliberativo. Mas enfim, não vai dar pra relaxar com isso não, especialmente nesta época de eleições.