Renato Santos e Cléber Santana: vale contratar no desespero de 2012 gente pra ficar em 2013, 2014, 2015...?

A ideia é resolver uma situação de curto prazo, mas os compromissos com os novos reforços vão além da última rodada do Brasileiro.



Finalmente foram apresentados, no último dia para inscrição de jogadores no Brasileiro, os dois reforços que o Flamengo trouxe da Série B. Os dois chegam em posições em que o elenco é carente (na verdade, são raras aquelas em que não haveria necessidade de reforços...). A questão é: chegam para resolver? E dá pra esperar algo deles para além desta temporada, em que o único objetivo é escapar do rebaixamento?

Na verdade, falta entender melhor como foi fechado o negócio. Digo isso porque, apesar do que foi noticiado por aí, Cléber Santana foi registrado como jogador emprestado, com contrato terminando em janeiro de 2013. Se a negociação tiver sido realmente assim, eu até poderia concordar; mas como a imprensa tem dito que na verdade ele está fechando acordo até a metade de 2014 - e aí seria preciso compreender por que não é isso que está no contrato assinado agora -, eu já começo a achar uma péssima ideia.

(Atualizando: o site oficial do clube deu a notícia de que realmente ele chega apenas por empréstimo até o fim do ano, com opção de compra. Sendo isso aí, é razoável.)

Cléber Santana não é nenhum garoto. Aos 31 anos, teve apenas uma passagem de mais destaque pelo Santos, em que foi meia ao lado de um meia bem melhor (Zé Roberto) e, depois, volante ao lado de um volante bem melhor (Maldonado). Passou pela Europa sem aparecer muito, esteve no Japão e, na volta ao Brasil, foi mal tanto no São Paulo quanto no Atlético Paranaense, que acabou rebaixado ano passado. Agora transformou-se, como meia ofensivo, em dono do time no Avaí, que ocupa a 9a posição da Série B.

Eu até entenderia se, no péssimo panorama atual, apostassem nele para apagar incêndio até o final do ano e, caso se saísse muito bem, pensassem em alongar o contrato. Mas, se estão fechando desde já um contrato bem maior (o que ainda precisa ser confirmado), me parece um erro. Nada no seu currículo me faz acreditar que um time com pretensões além de fugir da segunda divisão deva apostar no cara. Posso até errar, mas não me surpreenderei se, daqui a algum tempo, o Flamengo estiver procurando algum clube que o aceite emprestado para aliviar sua folha de pagamento.

De qualquer forma, ele chega com moral. Antes mesmo da apresentação, Dorival já o colocou entre os titulares, tornando o time mais defensivo - tirou Liédson do ataque para a sua entrada. Não é o que eu faria.


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Nunca vi Renato Santos jogar. Como os zagueiros rubro-negros hoje não passam a menor confiança, não é improvável que ele jogue o bastante para ser titular. O dado de que só tomou um cartão amarelo em toda a Série B não deixa de ser interessante.

O negócio é que o Flamengo apostou num monte de jogadores este ano saídos de clubes menores e o índice de acerto está muito baixo. Como não houve notícia de que tenham investido em uma estrutura melhor para observação e avaliação de atletas, podemos concluir que os mesmos que acharam uma boa trazer Hernane, Magal, Jorge Luís, Arthur Sanches, Thiago Medeiros e por aí vai foram os que analisaram a ideia de contratar o zagueiro do Avaí.

Tomara que tenham dado mais sorte desta vez. Até porque o contrato com ele vai até o final de 2015.

O desespero atual da diretoria vai fazer com que os que vêm depois para dirigir o clube tenham que lidar por um bom tempo com estes contratos. É torcer para que dê certo.


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Surgiu ainda a notícia, sem confirmação até agora pelo Flamengo, de que Wellington Bruno é outro reforço vindo da Série B.

Meia-atacante, 26 anos, vindo do Ipatinga - vice-lanterna da Série B. Vou me poupar de comentar isso aí.

(Atualizando: em entrevista à Rádio Brasil, Zinho afirmou que o jogador foi oferecido, mas o Flamengo o recusou.)

(Atualizando, de novo: apesar do Twitter da Rádio Brasil ter divulgado que Zinho afirmou ter recusado o jogador, Wellington Bruno já é do Flamengo. O contrato já apareceu no BID da CBF e vai até o final deste ano.)



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Além das chegadas, há também as saídas. Fomos relembrados nesta semana que Erick Flores, que chega ao Avaí junto com Thiago Medeiros, ainda tinha contrato com o Flamengo. Acreditem: também é o caso de Vinícius Pacheco, Fabiano Oliveira, Paulo Sérgio...

E Negueba seguirá para o São Paulo, emprestado, no início de 2013. "É um garoto", "ainda vai se desenvolver", "a torcida do Flamengo coloca pressão demais nele muito cedo". Pode até ser, mas ele realmente me parece que será sempre o falso perigoso - aquele jogador que parte pra cima, dá seus dribles, chega perto da área ou da linha de fundo, mas produz muito pouco de prático por escolher com frequência o lance errado e falhar sempre na conclusão das jogadas.

De qualquer forma, ele foi escolhido por Ney Franco, que o observou de perto nas Seleções de base. Ney Franco, sabemos, tem olho clínico para perceber talentos brutos. Foi ele quem levou para a Gávea nomes como Moisés, Irineu, Jaílton, Léo Medeiros, Walter Minhoca, Diego Silva, Paulinho...

6 comentários:

Raphael Perret disse...

Hahaha, texto afiado, André.

Mas o que me assustou foi a cara de ânimo dos reforços aí na foto...

www.andrewmilton.com disse...

Só atualizando andré pelo que foi postado no globoesporte.com o cleber santana fica ai até 2014 mesmo, e pra compra o jogador do são paulo que tinha emprestado ele ao avai, vai o negueba por empretimo até o final do ano de 2013 e o flamengo ainda fica com 70% dos direitos do cleber santana e o s~qao paulo com 30%.

Pedro Concy disse...

André, como você avalia o trabalho do Zinho?

André Monnerat disse...

Pedro, eu acho difícil avaliar o trabalho de quem chega como ele, em meio de temporada, com um legado ruim, um elenco fraco formado por outros, tendo que lidar com dificuldades financeiras e com uma enorme polêmica com o principal jogador do grupo causada por outros. Seria meio injusto dar um julgamento negativo definitivo pra ele nestas condições.

De positivo, acho que ele tenta criar um clima de seriedade e trouxe o técnico que parecia o melhor disponível. Na hora de reforçar, parece claro que ele queria, e tentou, jogadores de nível mais alto, mas esbarrou nos problemas de grana e imagem que o clube tem.

Se não estou enganado, reforços mesmo dele foram só estes agora, certo? Acho que um contrato com este Renato Santos até 2015 só vale se tiverem observado ele realmente muito bem e, infelizmente, acho que não é o caso. Cléber Santana, se é por empréstimo até o fim do ano, acho razoável. E este Wellington Bruno, posso estar enganado, mas me parece brincadeira de mau gosto e só se justifica como tentativa de compensar/agradar algum parceiro.

De verdade, acho que o que o departamento de futebol do FLamengo precisa não se resume a trocar um único nome de comando. Esperar que só botar um Zinho (ou um Zico...) resolveria não é realista. A estrutura (não falo nem da parte física) é aquém do necessário pra um trabalho realmente profissional.

Victor Dill disse...

Olha, dos seu comentário acima só excluiria o Paulinho das revelações do Ney. Podia não ser assim uma brastemp, mas sobrava na disposição e era aplicado. Bola sobrando na defesa era dele, ponto. Quando ele siu a defesa sentiu.

Abrs!

Pedro Concy disse...

Concordo contigo na parte de seriedade. Ele exterioriza ser um cara de pulso firme. Gosto dele, mas talvez seja um pouco imaturo pra conduzir essa nau fantasmagórica. Como exemplo, atitudes contraditórias nos casos Ronaldinho e Adriano (em ambos, passou a mão na cabeça em determinada vez e, em outra, foi a público execrá-los); e pouca afeição ao mercado de jogadores.
De todo modo, é um nome melhor do que todos os outros dos quadros políticos da cidadã.