Erros olímpicos do Brasil e do Flamengo

Governo e diretoria do Flamengo deveriam repensar a maneira como trabalham com o esporte além do futebol.



Terminadas as Olimpíadas, discute-se o que fazer para transformar efetivamente o enorme investimento de dinheiro público feito no esporte em mais medalhas. É uma discussão torta e que acaba estimulando que se insista em um conceito que me parece errado.

Na hora de pensar em como gastar o dinheiro de nossos impostos, ter mais gente subindo no pódio a cada quatro anos deve ser o de menos; relevante mesmo é o efeito que o esporte pode ter em nossa sociedade. No Brasil, vemos garotos largando os estudos para jogar bola, enquanto muitos jovens nos Estados Unidos fazem o contrário: dedicam-se ao esporte para conseguir estudar. Isso é muito mais importante do que perdermos para eles no quadro de medalhas.


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Patrícia Amorim foi muito criticada pela viagem a Londres durante um período complicado no Flamengo. Muitos fizeram até piadas associando resultados decepcionantes dos atletas ao seu "pé-frio".

Eu não estou entre os que embarcaram nestas críticas. Não me pareceu normal apenas o anúncio sobre a mudança total do modelo de gestão através de uma simples nota no site, sem sua presença; mas a passagem em si da presidente pelas Olimpíadas me causou algum estranhamento apenas por ela ter antes dito que não iria, por ter como prioridade acompanhar de perto o que acontece no clube. A verdade é que foi mesmo a coisa mais natural que uma presidente de um clube como o Flamengo, com o investimento que faz em diversas modalidades, tenha comparecido ao maior evento esportivo do Mundo. Não estive por lá para acompanhar o dia-a-dia de Patrícia na Inglaterra, mas é algo que deveria servir não apenas para acompanhar de perto os atletas rubro-negros que competiam por lá, mas também para conhecer instalações, ver outros competidores e treinadores trabalhando de perto e fazer contatos com gente da indústria do esporte.

Sim, o futebol do Flamengo vivia momento delicado, com resultados ruins, troca de técnico e pressão por contratações. Mas a verdade é que hoje há um executivo contratado para dirigir a área e ele estava lá, trabalhando. Não me pareceu que nenhuma medida tenha deixado de ser tomada devido à ausência de Patrícia Amorim. Estou entre os que cobram que a administração do Flamengo seja entregue a profissionais remunerados, com autonomia para cuidar de suas áreas; por isso, não posso reclamar que as coisas tenham ficado na mão do Zinho durante este curto período.

O tal do "pé-frio" não dá nem pra começar a discutir. Se formos entrar nessa, vou ter que aceitar como válido o discurso de um bem avaliado dirigente rubro-negro que defendeu a diretoria dos insucesso recentes dentro de campo afirmando que "futebol é sorte".


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Na verdade, minhas críticas seriam menos por uma suposta atenção exagerada dada pela diretoria aos Jogos Olímpicos do que pela falta de outras ações.

É fato que o Flamengo investe bastante nos esportes olímpicos. Pode-se discutir se é certo ou errado, mas é esta a política da atual diretoria. Sendo assim, os Jogos Olímpicos deveriam ser o ponto alto de qualquer planejamento para estas modalidades, pois não há como ignorar que a grande maioria delas só desperta atenção do grande público neste momento. Durante o resto do tempo, o espaço dado pela mídia a nadadores, judocas, remadores e ginastas é diminuto. O clube teria que aproveitar a proximidade das competições para capitalizar, reforçar sua marca e dar exposição aos seus patrocinadores.

Sim, sei que os atletas competem com os uniformes do Brasil e que as equipes olímpicas têm seus próprios parceiros. Ainda assim, qualquer um que trabalhe com marketing, ações promocionais e patrocínios seria capaz de pensar em formas de aproveitar os Jogos e os meses anteriores, com o aumento gradativo do interesse do público. Agora, com resultados que não foram os melhores possíveis, não há muito o que comemorar, mas a expectativa para ver os atletas em ação deveria ter sido bem mais explorada.

Nem mesmo os meios que possui o Flamengo utilizou bem para divulgar sua participação olímpica e gerar alguma conexão do torcedor com os atletas - além de gerar visibilidade para as marcas que os apoiam. Caberia no site oficial um hotsite para os Jogos Olímpicos, com perfis e fotos dos atletas, entrevistas e vídeos feitos no Brasil, agenda das competições envolvendo rubro-negros e as últimas notícias - mas apenas publicaram notícias com resultados. No Facebook, os mais de 2 milhões de fãs também viram apenas resultados da natação depois das provas concluídas. Na TV Fla, programa exibido no canal Esporte Interativo, nada foi feito. Depois da medalha de bronze, César Cielo concedeu coletiva na Gávea em clima de decepção com o bronze; antes dos Jogos, não foi reunida a equipe olímpica rubro-negra para uma grande coletiva que certamente geraria mídia espontânea. Na verdade, nem mesmo uma simples foto de divulgação juntando todo mundo foi produzida.

No fim de tudo, talvez a maior notícia envolvendo um atleta do Flamengo e seu patrocinador referente aos Jogos Olímpicos foi a ausência de Jade Barbosa da ginástica olímpica, justamente por um conflito entre parceiros do COB e do clube - situação em que obviamente todos saíram perdendo.

Já não é fácil levantar dinheiro para esportes que não sejam o futebol no Brasil. Não será trabalhando desta maneira que o Flamengo vai conseguir melhorar a situação. Pelo visto, o plano deve ser mesmo que o carro-chefe do clube continue pagando a conta de todo mundo.

5 comentários:

Eduardo H. Costa disse...

Na boa Monnerat, vc acha realmente que a presidenta foi com esse propósito de ver instalações e fazer novos contatos profissionais?

É ano eleitoral. Ela foi exclusivamente para tirar fotos com atletas do clube e suas possíveis medalhas. Principalmente a dourada que não veio. "Felizmente" Cielo foi bronze. Seria um trunfo nas mãos dela para angariar/convencer mais votos dessa ala do clube...

Recentemente ultrapassamos a Inglaterra e somos a sexta economia do mundo. Inglaterra essa que figurou em terceiro nas Olimpíadas. É lógico que a Inglaterra se mantêm como país rico há MUITO mais tempo que nós. Mas vigésimo segundo lugar? É muito pouco pra quem vem crescendo economicamente nos últimos 20 anos.

Esse país ainda não é sério... muito menos esses amadores que insistem em sugar o cambaleante CRF.

André Monnerat disse...

Eduardo, o que ela fez lá eu não sei. Mas ainda que tenha ido só assistir aos atletas do Flamengo competindo de perto, continuo não achando nada demais.

Luis disse...

Devemos deixar que o governo faça os investimentos nos esportes olímpicos (via escolas e universidades públicas etc, como em boa parte do 1o mundo) e cumpra o papel dele. O Flamengo tem que investir naquilo que possa dar retorno e ponto. Futebol, basquete masculino e mais uma ou outra coisa. O resto é o resto.

Quanto à presidenta, eu preferia que não tivesse viajado para tirar fotos e acompanhar o que não dá retorno, ficasse aqui à frente da administração da dívida do Clube, emprestando o seu nome para dar moral ao elenco e ao técnico de futebol, gerenciando crises, cuidando dos nossos contratos e atletas profissionais caríssimos etc, ou seja, o que um(a) presidente(a) deve fazer.

Marcelo Constantino disse...

André, na boa: o "bem avaliado" dirigente rubro-negro só é bem avaliado por ele próprio.

André Monnerat disse...

Marcelo, no caso estou falando do responsável pela sede. O trabalho dele, de modo geral, é bem avaliado sim. Não segue a linha que eu gostaria, mas é considerado ponto forte da administração.