Libertadores 2012 - 1a. fase - 3a. rodada - Flamengo 3 x 3 Olímpia

Uma tremenda decepção, no que deveria ter sido o melhor jogo do ano. Mas, se as lições certas forem tomadas, pode ter até sido bom.


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Quando cheguei em casa ontem do Engenhão, minha mulher já estava dormindo. De manhã, nos arrumando pra sair para o trabalho, ela me pergunta, desavisada: "e o jogo ontem, acabou 3x0 mesmo?" É, pois é: o Flamengo conseguiu ontem o que ninguém podia esperar, justo quando fazia sua melhor partida do ano - de longe, muito longe. Dizem que "é por isso que o futebol é apaixonante", mas às vezes dá a impressão de que, neste nível, só o Flamengo consegue este tipo de coisa.

Como escrevi antes da partida, Joel colocou o Flamengo para jogar no mesmo esquema que usou no Fla-Flu, com Bottinelli no lugar de Kléberson no meio-campo. Eram três volantes, sendo que os dois que jogavam pelos lados - Bottinelli e Luiz Antônio - tinham liberdade para apoiar alternadamente o ataque. Na frente, três atacantes, sendo dois deles - Thomás e Ronaldinho - jogando, um de cada lado, um pouco mais recuados em relação a Vagner Love, com a função de fazer a bola chegar ao centroavante.

Faltava alguma articulação no meio-campo e o time criou muito pouco. Conseguia neutralizar bem o Olímpia, que não foi ao Engenhão para jogar retrancado e tentou buscar o ataque quando tinha a bola, mas não conseguiu criar lances de perigo. Porém, a obrigação mesmo de fazer gols era rubro-negra, e as chances claras praticamente não apareciam. Só que, já para o fim do primeiro tempo, Vagner Love fez um jogadaço e Bottinelli concluiu muito bem. Era só o segundo lance de perigo, mas o 1x0 estava lá. E este gol fez muito bem.

O time voltou para o segundo tempo bem melhor. Ainda que avançando como atacante aberto pela direita quando o time ia ao ataque, Thomás passou a em muitos momentos recuar quando a bola estava com o adversário para formar uma linha de quatro homens no meio-campo - os outros três passaram a se colocar mais à frente, adiantando a marcação e se aproximando de Love e Ronaldinho para criar. Mas, talvez mais do que qualquer mudança tática, a tranquilidade dos jogadores parecia fazer a diferença; o próprio Thomás, por exemplo, pareceu sentir menos a obrigação de partir para cima em todos os lances - como fazia no primeiro tempo, perdendo quase todas as bolas que pegava - e passou a tentar as jogadas com mais inteligência. A movimentação de Bottinelli e Luiz Antônio melhorou e Ronaldinho finalmente mostrou seus primeiros momentos de futebol realmente bom no ano. O 3x0 veio naturalmente e, faltando quinze minutos para o jogo acabar, tudo parecia estar resolvido. O Olímpia não via a cor da bola e, sem exagero, dava pra se empolgar com o que o time estava jogando.

Mas aí é que está: os jogadores em campo também se convenceram de que estavam jogando muito e que a partida estava definida. Começamos a ver gente colocando o pé embaixo da bola pra dar cavadinha por cima do adversário, toques de letra, trocas de passes complicados pelo alto. Divididas que antes eram sempre ganhas começaram a ser perdidas.  Autossuficiente, o time se dispersou e parou de prestar atenção no que estava fazendo. As bolas eram recuperadas pelos paraguaios com frequência, pegando a defesa desprevenida seguidas vezes.

Foi fatal. Um gol de falta, outro em que deixaram Gonzalez com o adversário no combate direto e ele foi frouxo tanto pra dividir na primeira bola quanto para marcar a finalização na segunda. O estádio se calou e o time, que já tinha perdido o foco, não soube se recuperar psicologicamente. Em um time sem líderes, não houve quem ajudasse os outros a colocarem a cabeça no lugar. O terceiro gol foi o castigo final, saindo pelo lado mais fraco da defesa - o direito, onde Galhardo realmente se coloca e marca sempre muito mal.

Era pra ter sido só festa, e acabou daquele jeito. Em 15 minutos. De lascar.


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Tentando ser otimista, isso pode ter um lado bom - se as lições corretas forem aprendidas. E Joel (que, na boa, ontem foi o último dos culpados), na coletiva após o jogo, fez uma leitura boa do que aconteceu. Espero que continue enxergando assim depois de uma boa noite de sono.

O time é este aí. O resultado final foi ruim, mas funcionou. Foi a primeira vez em que jogou realmente bem em muito tempo. Pode mudar um ou outro nome - bem poucos mesmo -, alguns ajustes de posicionamento, mas não vale a pena voltar a escalar tanta gente sem imaginação no meio-campo quanto acontecia antes.

Porém, é preciso estar ligado o tempo inteiro. Não dá pra achar que é melhor do que é, não dá pra se desligar antes do jogo acabar. O empate não foi bom para a classificação, mas a situação não é desesperadora pra passar de fase. Mas uma pane assim, por relaxamento, será fatal em um mata-mata.

Melhor que tenha acontecido ontem do que, digamos, nas oitavas de final contra um time mexicano qualquer. Este jogo contra o Olímpia não pode ser esquecido e deve servir de vacina para que outro desastre não aconteça sem necessidade mais à frente.


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Não é a primeira vez que noto: Vagner Love corre muito, se dedica, tem feito gols e sido importante. Mas tem também caído de rendimento com frequência a partir de certo momento do jogo. Pode ser impressão, mas ainda não me parece estar no melhor de sua forma física. Seria bom ter alguma atenção com o cara para tê-lo 100% nos jogos decisivos que vêm por aí.

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Ele sofreu a falta do segundo gol, deu o passe pro terceiro. Mas Maxi Biancucci não fez seu gol ontem. Surpreendente.




15/3/2012 - 22h - Flamengo 3 x 3 Olímpia
Engenhão - Rio de Janeiro, Rj
Renda/público: R$ 695.114,00 / 26.830

Árbitro: Jose H. Buitrago (COL)
Cartões amarelos: Caballero (21'/1ºT), Aranda (22'/1ºT), Orteman (24'/1ºT), Galhardo (27'/1ºT), Martín Silva 11'/2ºT, Marín (31/2ºT), Negueba (38'/2ºT)

Gols: Bottinelli (37'/1ºT), Ronaldinho (13'/2ºT), Luiz Antonio (18'/2ºT), Zeballos (31'/2ºT) , Caballero (39'/2ºT), Marín (43'/2ºT)

Flamengo: Paulo Victor, Galhardo , González, David, Junior Cesar; Muralha, Luiz Antonio, Bottinelli, Thomás (Negueba (33'/2ºT); Ronaldinho e Love. Técnico: Joel Santana.

Olimpia: Martín Silva, Renzo Revoredo, Enrique Meza, Adrián Romero, Sebastián Ariosa; Eduardo Aranda (Zeballos (17'/2ºT), Fabio Caballero, Sergio Orteman (Robequier 27'/2ºT), Vladimir Marín; Luis Caballero e Maxi Biancucchi. Técnico: Gerardo Pelusso.

10 comentários:

lussiannosousa disse...

Ontem, após o jogo, eu só queria ter notícias do Flamengo a partir de segunda. Hj, já estou mais tranquilo. Também acho que isso deve servir como aprendizado, principalmente aos moleques. O time foi bem. Duro é ver a sombra de Wilians e cabeçudos aí prontos pra voltarem.

Luis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luis disse...

Esses apagões só acontecem com um time sem liderança dentro de campo. Falta uma liderança POSITIVA no grupo, alguém que seja um exemplo POSITIVO para o grupo, alguém que dê ourgulho ao time e à torcida, que tenha personalidade, que motive os demais. Esse cara não é o Ronaldinho, não será o Adriano e também não é nenhum dos outros do elenco.

Unknown disse...

Vendo o jogo de ontem, para mim fica claro que o Thomas não está pronto e o Muralha não tem poder de marcação suficiente para ser um bom primeiro volante.

Talvez um meio campo com Willians, Muralha, Luiz Antônio e Botinelli seja o que podemos ter de melhor.

O Galhardo é realmente um a lesma e não sei o que ele ainda faz no clube.

Felipe disse...

O jogo foi bom, e o Flamengo jogou bem. Infelizmente aconteceu o que todos estão cientes, mas o futebol é isso mesmo. Acontece.

Agora é mirar nas falhas, treinar pra que não ocorram novamente e ganhar desse timeco lá no Paraguai. Não é um resultado impossível. E se ganharmos lá, está td certo.

Sobre o jogo, eu já defendi o Galhardo anteriormente, tendo em vista atuações na base e na seleção brasileira sub-20, entretanto, não dá mais. Alguém tem que ensinar fundamentos pra esse garoto. Ele tem certo talento, e até acho que poderia ser útil no meio (ele já jogou assim na base e na seleção), mas de lateral está difícil pra ele. Sempre perde as bolas alçadas na área, não acompanha a marcação corretamente e dá vacilos qdo não pode. Não o estou culpando, mas deveria ter alguma orientação no sentido de aprimorar a marcação ou o posicionamento defensivo. Na parte ofensiva até que joga direitinho: dá apoio, aparece pra tabelar e chama bem a falta, só tendo como defeito o hábito, assim como nosso lateral esquerdo titular, de buscar sempre o meio, e nunca as pontas...

Enfim, ainda dá tempo de recuperar o leite derramada, e o jogo chave é o próximo, pois temos que ganhar ponto (s) desses caras lá! Simples assim.

Felipe disse...

"Willians, Muralha, Luiz Antônio e Botinelli". Pra mim esse é o meio ideal tbm. Torcia mto para que o Airton estivesse em condições de jogo. Seria o titular na vaga do W8.

O Thomas com esse papo de que o R10 mandou "ele ir pra dentro" ficou muito fominha. Tem que saber cadenciar e ir pra dentro na hora certa. Não significa que tem que ir em todas as bolas. Ontem ele perdeu várias bolas assim. Infelizmente. Agora pense bem, imagina o poder que uma informação dessas tem pra um cara que está começando.

Uma capa do globo.com com um conselho de um cara (R10) falando pra que vc faça algo?? Alguém tem que falar pra ele ir com calma e saber escolher melhor o momento. Além é claro de melhorar a parte física com musculação e condicionamento físico pra correr mais tempo em alto nível.

No mais é isso. Bom fds.

saulo disse...

André, por acaso você estava lá no Engenhão, de camisa vermelha com umas paradas escritas em inglês?

André Monnerat disse...

Saulo, sim estava lá. Fui de Leste Superior, de camisa vermelha, escrito "England Football".

saulo disse...

Pô, isso mesmo, segunda vez que eu te vejo lá no Engenhão, rs. Dessa vez eu ia falar contigo, mas você saiu que nem um foguete do estádio (também, não era pra menos né? rs).
Eu estava uns 3 ou 4 lances acima de você, mas estava mas pro centro daquele grupo de cadeiras. Achei a torcida naquela área ali que a gente ficou muito corneta, tinha um cara perto de mim que xingava o Thomas só dele pegar na bola, rs. Muito chato.
Concordo com quase tudo que você disse.
Acho que o PV deu mole nos gols de chute cruzado. Ele estava muito pra dentro, deixando o canto contrário aberto e pulou tarde nas duas. Óbvio que de lá não dá pra ver isso, mas pela tv dá pra ver isso claramente.
E o Jr. César, meu Deus. Que sanguessuga temos na lateral. Me lebra o Clayton palminhas: Corre, grita, bate palma, dá carrinho, parece que é super raçudo mas se omite do jogo e quando aparece faz besteira, tanto na frente como na defesa.
De resto o time é esse mesmo. Léo Moura, Felipe, um cone no lugar do Jr Cesar e um zagueiro ali pela esquerda pq eu não confio nessa boa fase do David. Ah, e o bottinelli manter um mínimo de regularidade nas boas atuações.
Hora boa pro Flamengo "flamengar". Tem que mexer com os brios desses caras e ganhar do Olímpia lá;

Alan disse...

Concordo com tudo. Quanto ao Love, acho que ele sofre de uma necessidade absurda de "jogar pra galera". Me parece que ele cai de rendimento por que passa o início do jogo inteiro correndo que nem um louco alucinado, tentando todas as bolas, entrando em todas as divididas, participando de todas as jogadas. Ninguém aguenta esse ritmo. Uma hora, cansa.
Ele tinha que começar a se dosar melhor. Afinal, já não é mais nenhum moleque de 18 anos. Não tem o gás que o moleque tem, e tem muito mais experiência, pra saber quando ir na boa.