"Me engana que eu gosto"?

Dirigentes precisam pensar a sério no que fazer com a falta de interesse no Campeonato Estadual.


* * * * * * * * * *


Durante um bom tempo, nos acostumamos a ler análises chamando o Campeonato Carioca de "Me engana que eu gosto". O time vencedor saía comemorando, achando que o título lhe dava status de grande equipe - mas vinham as competições mais importantes, nacionais e internacionais, e via-se que não era o caso. As vitórias sobre adversários de baixo nível haviam animado o campeão mais do que o recomendável e as decepções depois, em desafios maiores, eram inevitáveis.

Hoje, porém, dá pra dizer que não é mais assim.Vasco, Fluminense, Flamengo e Botafogo mostraram, no ano passado, que realmente tinham equipes boas o bastante para disputar em alto nível competições complicadas. Claro, estou falando aqui apenas nos quatro grandes. Mas são eles que começam a disputar, hoje, a fase decisiva da Taça Guanabara. Vencer um torneio incluindo estas quatro equipes deveria sim ser considerado um grande feito. Porém...

Hoje é dia de Flamengo x Vasco decisivo. E, ainda assim, não há expectativa de estádio lotado. É inegável: a cada ano o Estadual perde apelo junto aos torcedores, e este é só mais um sintoma. E, se não dá pra dizer que é simplesmente porque os adversários não representam um grande desafio, é hora da discussão sobre o que fazer com este campeonato precisa se tornar um pouco mais profunda.

O que fazer? Para muitos, a solução simples é acabar com os Estaduais. Não é a minha opinião, mas já está na hora dos dirigentes sentarem a sério para resolver o que fazer. Como está, é óbvio, não dá pra ficar.

E acho, por exemplo, que marcar um clássico como este para uma quarta-feira de cinzas é o tipo de ideia que não ajuda em nada.


* * * * * * * * * *

Parece óbvio que a enorme sequência de jogos contra os pequenos - adversários que, estes sim, todo mundo sabe que não representam desafio nenhum - atrapalha e muito a se criar um envolvimento com o campeonato. O mínimo a se fazer é dar um jeito de diminuir isso.

E o pior é que este campeonato, como está, não desperta interesse nem mesmo daqueles poucos abnegados que torcem pelos pequenos. Vejam, por exemplo, este vídeo abaixo:



Trata-se de uma partida decisiva da Série B do Estadual do ano passado, que deu a vaga na elite ao Bonsucesso. Reparem na quantidade de gente nas arquibancadas do estádio do Bonsucesso. Por incrível que pareça, existe uma torcida do Bonsucesso. Não é grande, mas existe, e a prova está nestas imagens, feitas em uma partida de um campeonato com nenhuma cobertura da mídia.

Porém, nesta série A, já houve jogo do Bonsucesso com 10 pagantes. Dez!

Realmente, se havia gente a fim de pagar ingresso para assistir o Bonsucesso na Série B e a Série A não consegue animar nem estes caras, é porque há algo muito errado neste campeonato. E não só para os grandes.

4 comentários:

Alan disse...

Já há algum tempo tinha uma ideia pro Carioca (que podia ser repetida no Paulista, Gaúcho, Mineiro e quem mais quisesse). Mas infelizmente, duvido que a mesma fosse aprovada pela FERJ.
Seria algo mais ou menos assim: os 4 clubes com mais títulos começariam apenas em uma segunda fase (sim, estratagema pra proteger os quatro grandes). Os clubes restantes jogariam uma primeira fase, pra classificar os quatro melhores. Nesse meio tempo, os quatro grandes estariam em pré-temporada, excursões ao exterior, torneios amistosos, o que quisessem. Definidos os outros quatro clubes do campeonato, dividiríamos as oito equipes em duas chaves, cada uma com dois pré-classificados (grandes) e dois classificados da primeira fase.
Em uma semana (domingo-quarta-domingo), teríamos os 3 jogos de cada grupo. Os dois melhores de cada grupo jogam semi-final e final. Pronto, acabou o torneio, sem segundo turno. Quais as vantagens de um torneio enxuto desses?
1 - Os pequenos que jogarem tem reais chances de chegar às semi-finais. Um tropeço de um clube grande seria muito sério, devido ao curtíssimo número de jogos pra se recuperar.
2 - Os clássicos, mesmo na fase classificatória, são importantes. Uma derrota em clássico pode determinar a perda da vaga.
3 - Com apenas cinco jogos, os clubes grandes tem um enorme tempo de pré-temporada, pra aproveitarem como quiserem.
4 - Pode-se fazer ainda com jogos apenas aos domingos, deixando as quartas feiras para Libertadores e Copa do Brasil.
5 - Como são poucos jogos, acho que a torcida se sentiria mais atraída aos estádios. Os jogos são mais importantes, gastaria-se bem menos dinheiro pra se acompanhar o torneio.
Se pensarmos mais, achamos mais vantagens ainda. Mas, infelizmente, o protecionismo da FERJ aos clubes pequenos jamais deixaria isso acontecer.

disse...

Eu tenho dois primos que são rubro-negros doentes mas que também são apaixonados pelo Bonsucesso (inclusive um deles aparece todo choroso dando uma entrevista em um dos vídeos relacionados a esse aí de cima). Eles acompanharam o Bonsucesso por muitos anos nas séries F da vida mas tembém não tem ido aos jogos desse ano.

E a explicação é simples: ninguém gosta de ver seu time ser estrupiado pelos grandes hahaha. E por mais que seja legal ver o time pequeno na série A, os torcedores sabem que não há como ficar lá em cima por muito tempo. Deve dar um desânimo brabo.

André Monnerat disse...

Zé, o que você fala faz todo sentido. Agora, se o campeonato não serve para motivar nem as torcidas dos grandes, nem as dos pequenos, é porque há algo muito errado com eles. A gente tende a pensar apenas nas questões dos grandes - porque torcemos por um deles -, mas mesmo para os pequenos é preciso repensar muita coisa.

Um Bonsucesso da vida não entra no Estadual pensando em título, obviamente. E não é maneiro ver seu time apanhando feio e lutando só por ficar no meio da tabela durante todo um torneio. Como fazer para que este campeonato ainda ofereça algum objetivo interessante para estes outros times? Isso também precisa ser pensado.

disse...

André, concordo plenamente com você. Um campeonato que não empolga nenhum tipo de torcedor dos times envolvidos é um campeonato morto. Os estaduais dos grandes centros do Brasil precisam ser seriamente repensados.