Vagner Love vale tanto esforço da diretoria e tanta festa do torcedor?

Vagner Love tem qualidades, pode ser útil. Mas, até hoje, não mostrou em campo ser tudo isso o que estão pintando.


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O que realmente importa hoje para o Flamengo é a estreia na Libertadores. É este o grande assunto do dia e vou tratar dele aqui no blog. Porém, também é dia de chegar ao fim mais uma das novelas rubro-negras de 2012: a contratação de Vagner Love, finalmente confirmada no site oficial do clube. Foi a maneira que a diretoria encontrou de levantar o ânimo da torcida depois da sequência de notícias ruins na imprensa em um período tão curto, sem que o time principal sequer tivesse entrado em campo para um jogo oficial. Poderiam ter pensado em outra opção de reforço, talvez até mais indicada tecnicamente e financeiramente, mas difícil pensar em uma que tivesse este impacto com o torcedor.


É óbvio que, olhando o elenco do Flamengo de hoje, Vagner Love tem seu espaço e é um bom reforço. É um jogador ágil, rápido, de certa habilidade. Não se esconde do jogo, busca os lances decisivos e, em sua passagem anterior pelo Flamengo, sempre correu e se dedicou muito. Ficou com a imagem um pouco manchada por osmose, por ter participado do infame "Império do Amor" - mas, na verdade, o comportamento ruim na época sempre foi muito mais do Imperador, e não dele. Já tem identificação com a torcida, o que sempre ajuda especialmente no início da trajetória de um jogador no Flamengo; e posso estar sendo meio ingênuo, mas realmente acredito que tenha um sentimento pelo clube e uma vontade especial de estar nele. Como sabemos que o Flamengo não é um ambiente de calmaria eterna, isso pode acabar fazendo diferença para que mantenha seu esforço e dedicação nos momentos de tormenta que certamente virão.

Mas devo dizer que estou longe de ser tão fã de Vagner Love quanto a maioria dos rubro-negros que vejo por aí. Já listei aqui as qualidades que vejo nele, mas enquanto esteve no Flamengo, se mostrou um dos jogadores menos inteligentes que eu já vi na minha vida. A capacidade que tem de abaixar a cabeça, não enxergar nada ao seu redor e escolher quase sempre a jogada errada é impressionante. E, embora faça bastante gol, também é de perdê-los em grande quantidade.

Mais: não acho que o histórico de sua carreira seja tão indiscutível quanto falam. Love surgiu como grande jogador numa época em que o Palmeiras disputava a Série B do Brasileiro e, antes de ser testado na elite, partiu para a Rússia. Parece ter ido bem lá, mas realmente não sei exatamente o que isso significa; fato é que não foi o bastante para fazer algum clube de um país mais importante decidir investir em sua contratação. De volta ao Brasil, foi muito mal ao voltar com status de ídolo ao Palmeiras - onde, claro, há sempre a desculpa do ambiente ainda pior que o do Flamengo - e, por lá, chegou a pegar banco para o Obina.

No Flamengo, sua passagem resumiu-se a um primeiro semestre recheado de jogos contra os times pequenos do Estadual, nos quais realmente fez muitos gols - 11 do total de 23 que marcou por aqui, uma média de 1,37 gol por partida contra este tipo de adversário. Na Libertadores, a média já foi bem mais baixa: fez 4 em 10 partidas, sendo 2 deles na vitória sobre o fraquíssimo Caracas no Maracanã. Enfim: não foi mal e o clima no Flamengo na época não ajudava, mas a amostra foi pequena e os melhores momentos foram contra adversários de baixo nível.

Claro, ele poderá ser útil agora. Apenas não acredito que seu retrospecto mereça o tamanho do esforço que o Flamengo fez, nem uma festa do torcedor como se tivesse agora no time um craque indiscutível. E talvez a expectativa exagerada venha a atrapalhá-lo na hora de avaliarem seu desempenho. Mas tomara que ele prove agora, com um contrato longo e desafios bem maiores pela frente, que é tudo isso mesmo.

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Não acho que a chegada de Vagner Love devesse significar necessariamente a barração de Deivid. Os dois podem perfeitamente jogar juntos no ataque. Mas, considerando a permanência de Ronaldinho, isso exigiria que o astro da companhia recuasse um tanto mais para participar da armação do meio-campo, em vez de jogar fixo no ataque como na maior parte da temporada passada.

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E chegou a hora de bancar o chato, falando daqueles assuntos em que ninguém gosta de pensar muito.

O clube não divulgou ainda nenhuma informação oficial sobre as condições do negócio. Não se sabe ao certo, então, quanto o Flamengo precisou pagar aos russos pela liberação, nem qual o salário de Love. Na imprensa, as notícias são de que o CSKA receberá algo entre 18 e 22,8 milhões de reais.

O raciocínio do torcedor é simples: se havia dinheiro para contratar Thiago Neves e também para uma oferta um tanto menor por Love antes, era só juntar a grana das duas para trazê-lo. Porém, a realidade é que o orçamento com que o clube trabalha (atenção: é o orçamento que foi apresentado em reunião do Conselho Fiscal no início do ano) não previa nenhum investimento deste tamanho em contratações. O total gasto em reforços para a temporada não podia chegar perto disso aí - muito menos uma única transferência. Mais: ainda que a diretoria não gastasse nada em reforços, ainda faltariam R$40 milhões só para fechar as contas do ano. R$40 milhões que eles ainda não sabiam de onde tirar e que teriam que ser obtidos com novos empréstimos ou adiantamentos de receitas dos próximos anos.

E isso porque este mesmo orçamento tem previsões bastante otimistas para receitas como as de patrocínio de camisa, por exemplo, que dificilmente serão alcançadas. E também não contava com a possibilidade de manter Ronaldinho assumindo a parcela de seu salário que antes seria da Traffic - o que por si só, se acontecer, já gerará um gasto extra por temporada de uns R$9 milhões, pelo menos.

Ou seja: dinheiro disponível pra fazer esta contratação com recursos próprios o Flamengo não tinha. Mas, como escrevi, não houve posição oficial da diretoria sobre as condições do negócio. Pode ter sido por bem menos (duvido!), pode ter sido com dinheiro dado por algum investidor ainda não divulgado (será? com a idade que ele tem?) ou pela Olympikus (quem sabe?). Podem ainda ter feito um enorme corte de despesas em outras áreas do clube (é possível?). Talvez um dia saibamos. Tomara que tenham sido responsáveis, pois não adiantará muito ter um atacante de bom nível a mais no elenco se, nos momentos decisivos da temporada, o time estiver com a cabeça em salários, luvas, direito de imagem e/ou premiações em atraso.

6 comentários:

Paulo Sales disse...

Boa análise, André.
No aspecto puramente técnico me parece uma boa contratação. Love tem a rapidez e o poder de decisão que faltaram aos atacantes do Flamengo no ano passado. Mas precisamos de outros reforços, que poderiam vir de trocas e empréstimos, já que não há grana. Por que não tentar uma troca de Alex Silva por Ibson? Ou usar Kleberson (que Vanderlei desvalorizou absurdamente no ano passado) como moeda de troca por um zagueiro? Sinceramente, acho que a evolução técnica do Flamengo passa pela saída de Luxemburgo. E, se as coisas continuarem do mesmo jeito, de Ronaldinho também.

lussiannosousa disse...

É muito complicado falar de valores. Acho que 8 ele até valeria, 10 não. Mas mesmo não achando ele tudo isso que falam, creio que foi bem investido pq ele vai funcionar. Não sei se diria o mesmo de um bom meia argentino vindo por 5miEuros, por exemplo. Love não sente o peso da camisa, não tem essa de adaptação, já tem a torcida e, embora burro - concordo -, ele é eficiente. Me parece um negócio menos arriscado. E onde tem bons atacantes brasileiros como ele e mais barato?

Luiz Filho disse...

A contratação foi boa, necessária e vai fazer um jogador desvalorizado pela maioria crescer, Deivid. O custo benefício dela é que eu penso, talvez seja desfavorável ao Flamengo. Minha preferência seria a contratação de 2 ou 3 jogadores pensando no elenco para toda a temporada.

Talvez um volante para suprir a saída do Airton, um meia e um atacante. Vamos ver como irão se comportar medalhoes que estão lá e o custo beneficio é baixo como: Maldonado, o próprio Deivid, renato abreu, David Brás e o próprio Luxemburgo.

Vamos torcer. Parece que 2013 será melhor, caso se planeje melhor, o custo do elenco vai baixar, mas se não ficarmos contratando assim. Veremos.

LuksAlves disse...

Eu achei uma boa contração(embora seu valor absurdo), ele é amigo do Ronaldinho, caso os dois derem certo pelo menos no carioca já trás uma boa venda de camisas por exemplo, agora o que deveria fazer em questão tática, seria tirar um volante(de preferência o Airton que já vai embora), botar o argentino pra armar o jogo com Ronaldinho, joga o Deivid de segundo atacante(onde ele seria mais produtivo) e o Vagner mais na frente. Só pra lembrar que Love jogou no fla num tempo que não se tinha meias de qualidade(só tinha o Pet que já estava debilitado) ou seja a bola não chegava tanto quanto a bola chega hoje, o numero de bolas q o Deivid perde é incrível(e não estou falando somente dos inacreditáveis FC’s).

Marcelo Constantino disse...

André, vc acredita em responsabilidade fiscal com Michel Levy? Veja bem, Michel Levy!

Pra mim é apenas mais um capítulo do estilo Kleber Leite. Compra sem dinheiro, cria dívida e o próximo que se vire.

Raphael Perret disse...

O Love fez dois gols no Caracas em 2010, mas jogando na Venezuela. E os outros dois gols na Libertadores foram/poderiam ser bem importantes: o que eliminou o Corinthians no Pacaembu e um dos da vitória sobre La U em Santiago, mas que eliminou o Flamengo. Em compensação, lembro de um gol feitíssimo que ele perdeu no Maracanã contra La U, que seria o de 2 a 2.

No mais, gosto da contratação dele, apesar dos valores exagerados, porque ele demonstra mesmo gostar do Flamengo. Quando jogou em 2010, suou muito, ajudou na marcação, honrou a camisa. Tem seus defeitos já bem apresentados pelo André, mas é um bom exemplo de como a dedicação e o esforço podem valer a pena.