Sócrates e o título do Corinthians

A conquista ganhou outra dimensão ao chegar justamente no dia da morte de um dos grandes ídolos do clube.


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Tem se tornado cada vez mais difícil pra mim, ao longo dos anos, me identificar com a média dos jogadores bem sucedidos de futebol por aí. É complicado levar meus filhos ao estádio e esperar que eles criem uma conexão com determinados tipos de personagem que aparecem vestindo a camisa do meu time (mas não estou me referindo exclusivamente ao meu time - longe disso). São caras que podem até jogar bem, conseguir fazer coisas interessantes com uma bola no pé - mas será que eu quero mesmo que surja uma admiração por gente que tem certos padrões de comportamento?

Melhor não pensar muito nisso. Eu gosto de futebol, gosto de grandes jogos, gosto de ver meu time ganhar.  e uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa - acho. Mas, correndo o risco que toda generalização tem, me parece que a medida que os jogadores de futebol de hoje têm para seu próprio sucesso é o quanto vão conseguir ostentar com carros, mansões, correntes, jóias, mulheres. Ao mesmo tempo, os dirigentes parecem estar todos dividindo sua preocupação entre conseguir vantagens pessoais e fazer seu clube levar a melhor sobre seus pares com algum tipo de politicagem esquisita. É o reflexo no futebol de uma cultura individualista e materialista dura e triste de aguentar.

Posso estar sendo romântico mas, ao menos entre os que entravam em campo, acho que não foi sempre assim. Que alegria tiveram os rubro-negros que puderam acompanhar, por exemplo, o Flamengo dos anos 80 - um grande time dentro e fora de campo, fácil de se orgulhar. Andrade, Júnior, Leandro, Mozer, eram todos grandes figuras. E o astro da companhia, Zico, era (é!) um cara legal. Além de jogar muita bola, respeitava sempre os adversários e era inteligente, articulado. Enquanto ainda jogava, já brigava pelos direitos de sua classe, contra a exploração indiscriminada do pé-de-obra, por direitos elementares como os 30 dias de férias no ano para os jogadores. Quando se aposentou, foi ser decisivo para que se acabasse com a escravidão do passe.

Mas Sócrates, este foi além. A Democracia Corinthiana não gerou tantos títulos assim dentro de campo, mas é um tipo de capítulo que todo clube se orgulharia muito de ter em sua história. Sócrates foi parte determinante naquilo, mas não só. Não vou me alongar - vão ao Google, deem uma lida nos muitos textos que estão aparecendo por aí em sua homenagem. Foi um cara admirável, que infelizmente viveu menos do que devia pelo tanto que abusou de seu corpo, algo que fazia parte de sua personalidade.


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Afinal, o gol de Bernardo no finzinho do Fluminense x Vasco da penúltima rodada não serviu para que o Vasco conseguisse a improvável virada no campeonato, mas para que o Corinthians pudesse engrandecer seu título confirmando-o no mesmo dia da despedida de Sócrates.

O Corinthians, infelizmente, hoje é um clube identificado com ligações promíscuas com diversas esferas do poder, com um presidente que dá entrevista dizendo que "pode ficar difícil para o Lula" a maneira como conseguiu seu estádio, mas achando que simplesmente fez seu papel. Nada menos identificado com Sócrates - e o pior é que me parece que a maioria dos torcedores de outros clubes secretamente (ou não tão secretamente assim) gostaria que fossem eles recebendo este tipo de favor. Mas, de qualquer forma, a coincidência das datas ajudou a fazer com que muita gente, na hora de falar da conquista corinthiana, lembre um pouco do que ele representava. Melhor assim, e a homenagem dos jogadores do Corinthians dentro de campo, erguendo o punho antes do jogo começar em memória a um gesto simbólico que Sócrates repetia a cada gol, foi bonita.

Em um dos textos lembrando o Doutor que saíram por aí, li que Sócrates tinha uma grande qualidade:  "jamais sacrificava a dignidade ou a alegria em nome de uma vitória, fosse ela esportiva, política ou pessoal de qualquer tipo." Precisamos de mais gente assim.

2 comentários:

Murdock disse...

Verdade, que exemplo um jogador hoje pode ser fora de campo? Poucos servem como exemplo básico de pais de família, que dirá de cidadão lutando pelo seu país fora das quatro linhas como Sócrates fez.

Bosco Ferreira disse...

Rubro negros: Galo e Cruzeiro podem perder seis pontos e cairem para entrar Atlético PR e Ceará.

Que história triste, essa que rola na revista Forum sobre compra (corromper com dinheiro) de jogadores de seleção!

No sábado, 3 de dezembro, teria ocorrido uma reunião entre Alexandre Kalil, o treinador Cuca e mais quatro jogadores em um hotel de Belo Horizonte, para que estes repassassem aos demais jogadores que iriam a campo no dia seguinte o informe para que o jogo fosse “aliviado”.

É óbvio que os jogadores mais identificados com a torcida e o clube não iriam querer entregar, e, ainda segundo o relato, o placar elástico teria sido um recado de descontentamento dos jogadores atleticanos à diretoria.

Boatos recentes dão conta ainda de que houveram vinte demissões no Banco BMG em Belo Horizonte sem justificativas, o que torna esta história ainda mais estranha e suspeita.

FLAVINHO GUIMARÃES, filho de Ricardo Guimarães, PRESIDENTE do BMG, teria dito a amigos como Felipe Kallas que os zagueiros Réver e Leonardo Silva, responsáveis pela melhor defesa do returno do campeonato, haviam sido comprados por Perrella e BMG (ambos).

E ainda há quem duvide, que a copa da França não foi vendida, que árbitros não roubam. E que o Chicão das alagoas não é serviçal desse povo que tem o poder do futebol brasileiro na mão.

Leiam toda essa história e vejam os vídeos nesse endereço: http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_noticia.php?codNoticia=9630%2Ffutebol-e-capitalismo%3A-galo-e-cruzeiro-a-que-ponto-chegamos