Brasileiro 2011 - 29a. rodada - Flamengo 1 x 1 Palmeiras

O resultado foi pior que o dos últimos jogos. Mas o futebol foi mais ou menos o mesmo.


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Andando ontem à tarde em um shopping center com meus filhos, encontrei um amigo meu, muito rubro-negro, que, de primeira, me mandou a pergunta: "E aí, como tá seu sentimento? Tamos num sprint rumo ao título, hein?" No que eu respondi com um "é, sei lá" não tão animado, ele balançou a cabeça: "Nunca vi flamenguista mais resguardado. O cara não se deixa empolgar!"

A questão é que, com o que este time joga - sempre, desde o início do campeonato -, é difícil mesmo eu me empolgar. O tal sprint rumo ao título em que o Flamengo vinha era formado de dois empates, duas atuações muito ruins contra América-MG e Fluminense e apenas um jogo razoável - mas não de encher os olhos - contra o São Paulo. Pois no empate horroroso de ontem contra o Palmeiras, o futebol que o time jogou não foi nada de muito diferente do destas partidas anteriores.

Como já escrevi muito sobre eles por aqui, não vou me alongar sobre os defeitos mostrados no primeiro tempo. Foi um time que atacou com pouca gente, sem criação no meio, sem jogadas combinadas pelas pontas, sem ultrapassagens - enfim, tudo o que vemos a cada rodada, ao menos até o momento em que o treinador resolve mudar o esquema com alguma substituição. Mas, apesar do futebol ser ruim sempre, na partida seguinte está de volta o mesmo sistema, que nunca funciona. Como o treinador é renomado, tem um longo currículo de títulos, não é nenhum idiota que não consegue enxergar futebol, já está claro pra mim que isso é de propósito: Luxemburgo desenvolveu uma espécie de estratégia Rocky Balboa, revolucionária no futebol, na qual abre mão de tentar ganhar as partidas nos primeiros 45 minutos. Um dia desenvolvo melhor este assunto.

Ontem, esta estratégia não deu certo. O time até melhorou alguma coisa - pouco - com as substituições feitas no intervalo para mudar o esquema, mas não o suficiente para vencer a partida. Tirando o gol de Thiago Neves (irregular - Jael  participou da jogada e estava impedido, ainda que por pouco), o Flamengo criou apenas dois lances de perigo. Na verdade, o Palmeiras teve muito mais oportunidades - boa parte em erros feios da defesa do Flamengo, principalmente de passes na saída de bola -, finalizou mais e poderia ter feito mais gols. Mesmo sendo um time fraco, em má fase técnica, em meio a uma crise pesada entre jogadores, técnico, diretoria e torcida, o Palmeiras poderia até ter vencido.

Mas, mesmo assim, jogando quase sempre isso aí, o Flamengo chegou até este ponto do campeonato ainda brigando pelo título. Este campeonato está mesmo muito esquisito.


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Vou então me concentrar em alguns pontos específicos. O primeiro: a atuação de nossos laterais.

Depois de um bom jogo contra o São Paulo, Júnior César teve ontem e domingo passado duas atuações muito ruins, principalmente em um fundamento: o passe. Li também muitas críticas de torcedores por aí à atuação de Léo Moura, que realmente não foi bem. Mas o que me parece é que o time está montado esperando deles dois algo que não podem dar.

Assistam ao vídeo com o gol do Palmeiras e reparem na jogada: Cicinho, o lateral direito, está com a bola pela ponta, na altura da intermediária, quando um companheiro parte em velocidade e ultrapassa a marcação para receber na frente. É o tipo de lance simples, mas que não acontece nunca no Flamengo. Se Léo Moura ou Júnior César pegam a bola mais ou menos onde Cicinho estava, ninguém jamais se aproxima ou ultrapassa para dar opção de passe. Se quiserem ir à linha de fundo, precisam ir para o drible sozinhos, sempre. Nenhum dos dois têm futebol pra isso - Léo Moura até já teve, em outras épocas, mas este tempo passou. Normalmente, então, eles acabam ou recuando a bola, ou fechando a jogada pelo meio. E o Flamengo fica sem opção de jogada para abrir a defesa adversária.


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O ponto seguinte: Negueba.

A entrada de Negueba serve pra diminuir o problema de falta de companhia para os laterais. E, quando ele entra, o time normalmente até dá uma melhorada, pela simples mudança de desenho tático, tirando um dos três volantes que sempre começam jogando.

Só que Negueba é um jogador que parece perigoso - mas não é. Ele se apresenta pro jogo, não amarela, parte pra cima, passa o pé sobre a bola, tenta as jogadas. Mas, na hora de defini-las - seja passando, cruzando ou chutando -, invariavelmente erra. Suas jogadas parecem então levar algum perigo, mas quase nunca dão em alguma coisa. Contra o Fluminense, por exemplo, quase todos os lances de que participou morreram em seus pés - o único que deu em alguma coisa, vejam vocês, foi um chute errado. Ontem, novamente ele produziu muito pouco.

A questão é que este é um defeito do elenco do Flamengo: não há um outro jogador confiável nesta posição. Diego Maurício, que andou entrando nas últimas partidas, na verdade está tendo um ano muito ruim, talvez por problemas de foco. De qualquer forma, eu já teria partido para outros testes além dos dois. Pode escolher outro garoto pra tentar a sorte, há alguns que já mostraram qualidades na base. Não podem ser tão piores assim.


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O último ponto é o grande mistério que é Renato. Por que, afinal, ele é tão intocável? Por que não pode nem mesmo ser substituído eventualmente durante os jogos? Por que tantos malabarismos para deixá-lo sempre em campo  - como vimos ontem, na bizarra substituição de Aírton por Fierro? Pra mim, segue sendo incompreensível. Não sei se um dia teremos a resposta.

Chegando a este assunto, encerro o texto com o e-mail que recebi hoje cedo daquele amigo meu lá do início -  o que estava empolgado com o sprint rumo ao título e não entendia bem como eu não me deixava empolgar:

"Vocês que são rubro-negros esclarecidos, me expliquem uma coisa: por que, afinal, é proibido substituir o Renato Canelada???? Que tipo de cláusula no contrato pode existir pra justificar isso??? Quantos milhões será que o Flamengo precisará pagar no dia em que seu brilhante técnico resolver sacá-lo do time???
Além disso, o que foi o Botinelli, mortinho, com 20 minutos de segundo tempo?
É, meus caros, as perspectivas são, de fato, sombrias pra nós... Meu ufanismo está se esvaindo..."

Futebol é mesmo algo muito dinâmico!


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Na trilha sonora do vídeo do jogo, One more bullet, dos Toasters. Eles tocam dia 27/11 no Rio de Janeiro e minha banda, o Don Robalo, faz o show de abertura. Os ingressos já estão à venda em www.toastersnorio.com.br - compra lá o seu.




12/10/2011 - 22h - Flamengo 1 x 1 Palmeiras
Engenhão - Rio de Janeiro, RJ
Renda e público: R$ 522.325,00 / 18.397 pagantes / 22.573 presentes

Árbitro: Emerson de Almeida Ferreira (MG)
Auxiliares: Guilherme Dias Camilo (MG) e Helbert Costa Andrade (MG)
Cartões amarelos: Willians, Alex Silva e Negueba (FLA); Marcos Assunção, Patrick, Cicinho e Thiago Heleno (PAL)

Gols: Thiago Neves 10'/2ºT (1-0) e Maikon Leite 17'/2ºT (1-1)

Flamengo: Felipe, Léo Moura, Welinton, Alex Silva e Junior Cesar; Aírton (Fierro (25'/2ºT), Willians (Negueba - Intervalo), Renato e Bottinelli; Thiago Neves e Deivid (Jael - Intervalo) - Técnico Vanderlei Luxemburgo.

Palmeiras: Deola, Cicinho, Henrique, Thiago Heleno e Gabriel Silva; Marcos Assunção (Rivaldo 35'/1ºT), Chico, Patrick (Tinga 34'/2ºT) e Luan; Fernandão (Ricardo Bueno 10'/2ºT) e Maikon Leite - Técnico: Felipão.

13 comentários:

Thiago Oliveira disse...

Concordo 100%, esse time não me deixa animado, se estamos nas cabeças é mais pela falta de competência dos outros times do que pela nossa competência, acho que estamos em cima só pelo simples fato de ser o Flamengo, só isso pois o que vejo dentro de campo não é nada animador, não tiro nenhuma vírgula do que você disse, post muito sensato, parabéns.

Gabriel Folha disse...

Até o técnico que pode convocar os melhores jogadores brasileiros mas chama Jonas, Fernandinho e afins já percebeu que seu esquema, o mesmo usado pelo nosso técnico, não funciona.

Não funciona pq ambos não tem capacidade profissional de entender como devem escalar o time, que tipo de jogadores devem estar em campo, para que ele funcione.

Enfim, um já abandonou, o nosso...

Ninho da Nação disse...

Últimos sete jogos o Flamengo só marcou gols no segundo tempo. Geralmente quando Luxa muda o esquema.

São 45 minutos jogados no lixo com esse esquema imbecil. Aí no intervalo Luxemburgo só tem uma chance de acertar, ontem, por exemplo, o Negueba não entrou bem.

Se começar com um Airton e Muralha, Botinelli e Tiago Neves, Diego Maurício e Jael, não deu certo? Tem o Negueba e Thomás no banco.

Dessa forma, o Luxa joga 45 minutos no lixo, porque todo mundo sabe que nunca dá certo, e só tem uma chance pra acertar, nas três vitórias seguidas deu certo, ontem não deu.

Victor Dill disse...

Isso do Renato não poder ser substituído me lembra "alguéns":

http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/Futebol/Flamengo/0,,MUL237610-4282,00.html

De algum modo, o cara tava jogando sempre!.

Mas com o Renato, deve ser por quê ele é "um dos líderes do elenco"...

André Monnerat disse...

O Flamengo teve vários que todo mundo queria que barrassem e iam se mantendo no time sei lá como. Maurinho, Jaílton, Jorginho, tem um monte aí pra citar.

Mas todos esses saíam do time de vez em quando, eram substituídos às vezes, enfim. O Renato não - ele não pode nem sair durante os jogos eventualmente, seja por que motivo for. Nunca!

E isso não é de agora. Reparem só nessa notícia de 2007: http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/Arquivo/0,,AA1489814-4282,00.html

CAndré disse...

André,

Acabei de pensar em uma mirabolante explicação para o Luxa iniciar todos os jogos com o mesmo esquema. O flamengo não sabe jogar quando tá ganhando, toda vez retranca e leva gols. Sendo assim, deixa para fazer o gol o mais perto do fim possível.

Flávio disse...

esse lance do Renato Canelada é muito simples: se ele sair, ele se vira contra o técnico e leva vários do elenco com ele pois é um dos "líderes do elenco". o Luxa que se diz o maioral sabe disso e cede, e assim, ficamos em vários e vários jogos com um a menos em campo, o ano se vai, um ano que parecia promissor e vamos nos contentar com vaga na libertadores e jogando mal... quando na verdade o Flamengo deveria SEMPRE mirar Títulos e não vagas.

saulo disse...

Pra mim o principal problema do Flamengo hoje não é a criação, é a defesa. Reparem, se o Flamengo quiser ganhar de alguém tem que fazer pelo menos dois gols. E não é sempre que a frente está inspirada para tal. O Flamengo jogou hoje contra o time mais chato defensivamente do campeonato. Não a toa são a defesa menos vazada e o time que mais empatou. E sem a principal cabeça pensante do time. Tava na cara que seria um jogo para meter um e esperar o relógio. Mas como fazer isso com o Léo Moura e o Júnior César perdendo todos os combates lá atrás? Sério, já esqueci qual foi a última vez que o nosso camisa 2 ganhou alguma dividida na defesa. No Fla-Flu os dois gols foram erros de posicionamento na hora de fechar o cruzamento e ontem o repertório foi mais variado. Bola nas costas, pé mole em dividida, dribles primários, de tudo um pouco. Por ironia do destino o gol saiu justamente pelo outro lado numa batida de cabeça de Júnior César e Wellinton.
Não esqueçam, que com todo o problema de criação somos o ataque mais positivo do campeonato. Isso sem ter tido um pênalti sequer. Já lá atrás, estamos desde o jogo do fim do turno passado sem sair de campo incólume.

saulo disse...

Quanto ao Renato, acho que vocês estão pensando em muitas conspirações para tentar ver algo simples.
Porque ele não sai:
1- Porque ele tem um vigor físico absurdo e corre os 90 minutos de jogo.
2- Porque ele é perigoso na bola parada e pode decidir um jogo assim.
3- Porque ele é polivalente e o técnico consegue mexer no esquema tático do time em campo sem precisar fazer alterações, só mudando o posicionamento dele.

André Monnerat disse...

Saulo, a questão é que somos o ataque mais positivo do campeonato basicamente graças aos gols marcados depois que ele muda o esquema durante os jogos. O time que ele escala de início faz pouquíssimos gols.

Ainda vou escrever uma análise mais detalhada disso, mas no segundo turno nós tivemos 80% dos gols marcados no segundo tempo - quando ele normalmente faz as substituições dele pra mudar o sistema, depois de um primeiro tempo horroroso.

André Monnerat disse...

E quanto ao Renato, todas essas razões podem valer pra explicar a presença dele em campo. Não são suficientes para que ele não seja NUNCA substituído. Nunca!

Ontem, por exemplo, na substituição do Fierro, ele poderia ter feito a mesma coisa simplesmente tirando o Renato. Preferiu improvisar o Renato de primeiro volante para mantê-lo em campo.

Até a explicação da bola parada hoje em dia faz pouquíssimo sentido, já que é raríssimo ele cobrando faltas. Ontem, mesmo sem Ronaldinho, elas ficaram todas pra Bottinelli e Thiago Neves. No Fla-Flu, naquele gol do Bottinelli, mesmo sendo longe daquele jeito, ele nem se aproximou da bola pra cobrar.

patrick disse...

O mais irritante é o técnico não mudar o que sempre dá errado.
Acho que poucos torcedores ainda têm paciência com essas escalações/substituições e claro, com o grande Renato.

E o pior é que é bem provável que ele tenha o contrato renovado. Se ele não sai do time por ser 'líder do elenco' , acabou o contrato, acabou o problema.

E me parece que esse fato de ser líder do elenco é supervalorizada. Talvez pela torcida, talvez pelo técnico.

saulo disse...

Vocês acreditam mesmo que o Luxemburgo é o tipo de técnico que deixa de substituir jogador porque ele é influente no grupo? Sei lá, mas pra mim no imaginário geral o Luxa tinha fama exatamente oposta, de ser aquele cara que peita as estrelas do time, substitui o craque pra ele ser vaiado e receber sua cota de responsabilidade, se acha mais estrela do que jogador, etc.
Sinceramente, admito até que os motivos "técnicos" que eu apresentei não sejam lá os reais motivos dessa titularidade incondicional do canelada. Mas não consigo acreditar tampouco que seja por motivos políticos com o resto do elenco.