O que cria a diferença entre um Leandro Damião e um Bruno Mezenga?

Interessante conhecer o projeto Aprimorar, usado pelo Inter em suas categorias de base para corrigir defeitos de fundamentos de seus garotos.




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Não sei vocês, mas eu já cansei de me irritar com jogadores que sobem das divisões de base do Flamengo para os profissionais com óbvias deficiências de formação. São inúmeros os casos de garotos claramente fracos demais fisicamente para aguentar o tranco de jogar entre os adultos, mas também são muito mais frequentes do que me parece razoável aqueles que têm defeitos enormes em fundamentos básicos do jogo - meias que não sabem passar, atacantes que não sabem chutar e por aí vai. Vemos agora exemplos como o de Negueba, que até é rápido e habilidoso ao carregar a bola, mas não sabe concluir e erra quase todos os cruzamentos que tenta. Ou o de Wellinton, que tem bom porte físico, é rápido, até tem noção de colocação, mas em quem falta... Bem, falta muita coisa.

São jogadores que mostram algum potencial e provavelmente passaram por peneiras ou foram puxados por olheiros para as categorias de base do Flamengo por características que sempre tiveram, mas que não foram desenvolvidos adequadamente para chegarem prontos ao time principal. E assim os times de base rubro-negros vão ganhando vários títulos por aí, mas revelam bem menos jogadores de sucesso do que o desejável. Ao contrário, por exemplo, do Internacional, que revela e vende bem grandes jogadores seguidamente. É óbvio que isso não é obra do acaso.

Hoje, graças à grande projeção que está ganhando Leandro Damião, li pela primeira vez sobre o projeto Aprimorar, implementado pelo Inter em sua base. São profissionais dedicados a fazerem trabalhos específicos de fundamento em jogadores de diversas categorias, buscando suprir suas deficiências para que cheguem ao time de cima sem problemas que depois, nos profissionais, serão muito mais difíceis de corrigir.

Damião, por exemplo, era jogador de várzea, sem passagem pela base de time algum antes de chegar ao Inter. Já tinha físico, velocidade e algumas qualidades técnicas, como o cabeceio ou o chute de direita. Mas faltava muito para estar pronto para jogar em um grande time. Passaram-se três anos e estamos vendo hoje um jogador de nível de Seleção, decidindo jogos seguidos, graças ao trabalho do Aprimorar.

Quem comanda o projeto é Ortiz, ex-pivô de grande sucesso no futsal que ajudou Damião justamente a fazer melhor o trabalho de pivô e a aprimorar muito seu controle de bola, que era um grande defeito. Antes dele, passaram pelo projeto outros atacantes, como Alexandre Pato, Táison e Ricardo de Jesus, hoje artilheiro da Série B pela Ponte Preta. E o trabalho não se limita aos homens de frente - jogadores de todas as posições são trabalhados nos fundamentos em que precisam se aprimorar. O PVC entrevistou Ortiz sobre o Aprimorar há pouco tempo - leia aqui.


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Há ainda um outro trabalho no Inter, ligado ao Aprimorar mas que se estende também aos profissionais, que também é muito interessante. Trata-se de um projeto específico para aprimorar seus jogadores e equipes nas jogadas de bola parada, com um método desenvolvido só para isso e um treinador especializado - o ex-jogador Chico Fraga, lateral que chegou à Seleção nos anos 70 e era especialista em cobranças de falta. Começou com um projeto experimental na base e, em 2001, com a chegada de Muricy ao clube, passou a ser usado no time principal. E seguiu com os diferentes treinadores que passaram por lá desde então.

Chico Fraga conta que o clube mantém um banco de dados com todos os gols marcados e sofridos pelo time para ser utilizado em avaliações posteriores e que é possível ver a evolução que seu trabalho nas bolas paradas gerou nos resultados. Clique aqui para ler sua entrevista ao site Universidade do Futebol sobre isso.

9 comentários:

Gusthfreitas disse...

ótimo post andré..
Bom, esse projeto não é novo no mundo da bola, mais é novo aqui no Brasil, o inter é o primeiro e único time que usa este projeto que é muito bem desenvolvido.
Os clubes europeus já utilizam este projeto a anos e temos ai em maior destaque o barcelona. Li numa entrevista dos preparadores físicos deles criticando a maneira de se treinar jovens atletas apartir de 5 anos de idade, o chamado de Fraldinha.
Ele explicou que e citou o futebol brasileiro como exemplo negativo, que é bem melhor você treinar os fundamentos do atleta primeiro, ir lapidando e depois treinar o porte físico.
lembro também que na reportagem mostrou videos dos garotos muito novos treinando o fundamento básico que era o passe, ao chute a gol com a direita e esquerda, a maneira de conduzir a bola etc..
temos ai como exemplo o atleta Messi, que desde novo participou deste projeto.
Ele joga com a bola colada aos pés e seu chute, que não é forte mais bem certeiro, e com sua Ginga e sua velocidade ele marca muitos gols.

Luiz Filho disse...

Outro time que faz um trabalho parecido é o Santos.

Não é á toa que vem sendo bem sucedido neste sentido. O santos faz o seguinte:

- Até os 16 anos os jogadores de campo também são federados e jogam no salão, ou seja, como não existe limitação na inscrição de jogadores eles jogam as duas modalidades. Isso dá qualidade para todas as situações de jogo.

- Ao final da ultima temporada do projeto há uma avaliação e, claro, com a opinião das aptidões dos atletas sobre eles mesmos se decide quem fica no campo e quem fica no salão.

- Mesmo depois dessa idade há treinamentos específicos na base no salão e de fundamentos.

- Outro exemplo que se poderia utilizar é o do Barcelona. Até os 16 anos não existe treinamento tático, apenas conversas de posicionamento. Os treinamentos são apenas técnicos. Se prestarmos atenção veremos que o Barcelona nunca vence competições de jogadores de menos de 17 anos. Geralmente são clubes brasileiros, pela constância tática.O atleta chega pronto no profissional.

Off post: Acho que você (o seu blog) deve ser convidado para o lançamento do terceiro manto. Que tal levar algumas indagações e idéias para o pessoal do clube analisar?

André Monnerat disse...

Luiz, eu recebi o convite sim, devo ir. Mas neste tipo de evento normalmente não há tempo, espaço e oportunidade pra trocar ideias por lá com o pessoal do marketing.

Murdock disse...

Outro dia mesmo estava me perguntando como o Wellinton passou pela peneira, como tantos outros terríveis chegam a times principais enquanto sempre ouvimos histórias das diversas promessas de craques nos campos de pelada por aí.

Há muito tempo ouço falar que as escolhinhas e categorias de base dão mais ênfase à condição física e tática dos jogadores ao invés de investir em sua técnica e fundamentos.

Henrin disse...

Perfeito André. Inter trabalha a longo prazo visando o time profissional em um trabalho consistente. Os garotos que não foram aproveitados podem ser renegociados com lucro, pq os clubes que os contratarem sabem que estão levando jovens com bons fundamentos técnicos.

O Flamengo não tem planejamento. As presidências se sucedem sem que haja um projeto único, cada um faz de sua gestão um novo início. E aí tudo desanda

Unknown disse...

Apenas para contribuir com este ótimo assunto:

No mesmo Inter, há um tempo atrás, sabia da existência de treinadores especializados em defesa, volantes, meias e atacantes.

Cadas setor do time recebia treinamentos específicos antes dos coletivos, o que obviamente resula em maior eficiência.

Apenas não sei se o clube ainda continua com isto, mas acredito que sim.

Enfim, se conseguissemos copiar o Inter já seria uma revolução no clube. É incrível como numa comparação podemos nos considerar atropelados pelo profissionalismo colorado: programa de sócios com participação política efetiva, infra-estrutura, estádio próprio, categorias de base, estrutura do futebol profissional...somos praticamente amadores perto do Inter.

Luiz Paulo Knop disse...

A verdade é que o futebol de um modo geral vive esse problema da falta de base. Hoje em dia o jogador para jogar em um bom clube até os 18 anos precisa ser rápido ou forte, ou os dois, ele não precisa ter muita técnica nem ser inteligente, até porque não teria muita vez...

É difícil ver uma base que não exija resultado imediato dos moleques, e sendo assim, fica difícil se preocupar só com a técnica, já que um garoto mais forte, nas divisões inferiores, sobresai... mas quando se junta aos profissionais, onde fisicamente são todos parecidos, não fazem mais a diferença e caem no ostracismo...

http://esporteresenha.blogspot.com

Edkallenn disse...

Olha André, eu estou aqui no Rio Grande do Sul e, de passagem por Porto Alegre, fui aos estádios de Inter e Gremio. Tive o prazer de ver a "estrutura" do Inter e um pouco do trabalho que vc fala. Estive no CT onde os garotos treinavam e o negócio é uma coisa de louco mesmo. Impressionante. Quando cheguei eles treinavam seguidamente cruzamentos. Um negócio que era até chato de ver de tanto que eles repetiam, mas impressionante para quem entende de futebol e de seus fundamentos. Fora a loja, o museu, enfim, fora o resto todo. Uma pena o Fla, que é muito mais gigante, não ter algo bem definido nesta linha. Uma pena mesmo.

Abs.

Anônimo disse...

Realmente, acho o welliton o exemplo disso aí. Tem porte, sabe desarmar (ele é o segundo zagueiro que mais desarma no campeonato - o que mostra alias que algo esta errado. Nossa zaga joga muito exposta. Mesmo com 3 "volantes" na frente), o que obviamente mostra que ele sabe se posicionar (o que geralmente nunca acontece com os zagueiros da basr) e tem boa recuperação. Ou seja, o moleque sabe marcar. Pq diabos não é um bom zagueiro? Porque ninguem na base ensinou esse menino a passar, a dominar melhor uma bola. Perdemos um rapaz que podia ser um bom zagueiro, pq sabe que não tem essas qualidades e vive afobado toda vida.
Ps: é assustador que o wellinton tem qualidades e mesmo assim é péssimo. Irônico.