A conquista da Copa do Brasil pode ser o verdadeiro momento da virada para o Vasco

Administração de Roberto Dinamite, na verdade, levava o clube a uma situação complicada. Agora, tem tudo a favor para realmente transformar o Vasco.


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Quando algum time ganha a Copa do Brasil, sempre aparecem rivais dizendo que é "campeonato de segunda" ou coisa assim. Mas, lógico, quem vence não tá nem ligando pra esse tipo de comentário. E, no caso do Vasco, há mais razão ainda para isso. Foi um título importantíssimo.

Ganhar a Copa do Brasil, depois de todo este tempo na fila, depois de ter passado pela Série B do Brasileiro, é uma maneira de afirmar: o Vasco voltou. Mas, além disso, é bom dizer que a situação financeira do Vasco é muito, muito complicada - e Roberto Dinamite administra com a cabeça já nas eleições do clube. O título será, para ele, um argumento forte na campanha da reeleição. E a garantia da Libertadores no ano que vem acaba com a obrigação - que certamente surgiria, caso o Coritiba tivesse conquistado ontem a Copa do Brasil - de contratar mais reforços de peso já para o Brasileiro. Será possível segurar um pouco a onda e se preparar com mais tranquilidade para montar o time para o ano que vem.

Será ainda um momento de tentar fazer muita coisa deslanchar. O projeto de sócio-torcedor, por exemplo, lançado com barulho durante a Série B de 2009, agora terá uma oportunidade de ganhar novo fôlego. Afinal, a Libertadores vem aí e os ingressos para São Januário deverão ser disputados a tapa. O Corinthians, quando passou pela mesma situação após o título da Copa do Brasil de 2009, conseguiu vender ainda naquele ano todos os ingressos para a primeira fase da Libertadores do ano seguinte, adiantando uma enorme receita. O Vasco tem tudo à mão para aproveitar o exemplo e repetir o sucesso.

E uma maneira disso é aproveitar o momento para alimentar o renascido orgulho de ser vascaíno. Os ingressos para a próxima partida em São Januário, quando Juninho Pernambucano será apresentado, já estão esgotados. E outra boa jogada para isso é o anúncio de que será promovida uma partida de despedida de Edmundo com a camisa do Vasco - notícia que foi dada ontem na Rádio Globo, após a final, e emocionou muito o hoje comentarista da Band.

É óbvio que é melhor ter quem está lá hoje do que Eurico, e houve sim avanços pontuais em São Januário. É lógico também que havia uma herança maldita com que se lidar. Mas a verdade é que apenas ela não justifica os muitos defeitos da administração de Roberto Dinamite - basta olhar o balanço do clube pra ver o buraco que estava sendo cavado. Agora, terão a oportunidade de, com o cenário todo favorável e a torcida novamente feliz e abraçando a causa, começar a construir pra valer um futuro melhor para o clube.


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Sei que a maioria dos rubro-negros não está lá muito satisfeita com isso. Mas, para o futebol do Rio - e, em consequência, para o Flamengo - é bom. O futebol paulista já tem a seu favor, na luta por espaço na mídia nacional, o simples poder econômico de seu estado. Quando tinha também um amplo domínio técnico, a coisa ficava ainda mais complicada. Hoje, os times do Rio ganham títulos nacionais com regularidade, frequentam a Libertadores. No momento de se decidir, por exemplo, qual praça terá seu jogo transmitido para as parabólicas de todo o país, isso torna-se um argumento a mais para manter os times do Rio em evidência.

Durante o processo de negociação do novo contrato com a Globo, as diretorias de Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco ensaiaram uma aproximação maior. É hora de fazer este trabalho conjunto ser pra valer.

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E o jogo ontem foi muito maneiro de se assistir. Na verdade, nenhum dos times jogou realmente bem - o Vasco, especialmente, foi muito mal. E, no fim, não parecia nem mais futebol; só o que víamos era chutões pra cima e carrinhos por baixo. Mas todo mundo correu, se entregou, lutou. A cena de Diego Souza e Felipe - que já não são garotos - escondendo os olhos para não verem o que acontecia no campo foi simbólica: mostrou o quanto todos ali estavam envolvidos com a disputa e, ao mesmo tempo, o quanto estava todo mundo descontrolado de tão nervoso. A tensão durou até o apito final.

Um comentário:

Bosco Ferreira disse...

Um belo comentário, e sem dúvida uma lição ao Zico. Se o Galinho não tivesse sido bobo de servir de apenas de remédio para amenizar o crise que a Paty passava naquele momento, tivesse deixado para chegar na cabeça como presidente, certamente teríamos a oportunidade de ter alguem que mudasse o Flamengo como um todo. O corpo e a alma. A modernização do estatuto do clube era a meta principal do Galinho. Espero que ele volte como presidente para desespero da arcoirizada.