Os 10 anos do gol do Pet e o sentido da vida

Aquele não foi apenas um gol. Foi um sinal divino de que tudo é parte de algo maior. Texto da coluna semanal no FlamengoNet.

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Hoje, vocês devem saber, comemora-se os 10 anos do gol do Pet. Pet fez muitos gols, mas quando a gente fala de o gol do Pet, todo mundo já sabe qual foi. Onde você estava naquele dia?

Eu não estava no Maracanã. Minha filha Julia tinha pouco mais de um mês de vida e fiquei em casa com ela - que, no momento em que Pet se ajeitava pra cobrança, dormia nos meus braços, deitada no sofá. Tadinha, acordou com o grito que dei, por reflexo puro. Quem sabe, no inconsciente dela, aquele momento não tenha sido decisivo para que, uns dois anos depois, ela aceitasse a proposta feita por sua mãe de largar a chupeta em troca de ganhar a camisa do Flamengo que ela viu à venda na rua?

Mas não vou escrever aqui simplesmente sobre aquele gol. Não sei em que vocês acreditam (não sei bem nem no que eu acredito), mas quero mostrar como aquilo foi mais do que simplesmente aquilo: fazia parte de um plano muito maior, que provavelmente ainda está em desenvolvimento. Algo guiado por uma força além de nossa compreensão. Para demonstrar do que falo, poderia voltar a eventos acontecidos 1895, quando o Flamengo foi fundado. Ou até antes, quando o primeiro dos fundadores nasceu. Ou mais atrás ainda, claro. Mas vou pegar um recorte menor de tempo.

Voltemos ao dia 3 de março de 2001, final da Taça Guanabara daquele ano, disputada por Flamengo e Fluminense. Naquele dia, Pet estava contundido e nem mesmo entrou em campo; o meio-campo rubro-negro era tristemente formado por Leandro Ávila, Jorginho, Rocha e Beto, servindo os atacantes Adriano e Roma (o jogador mais ridículo - não o pior, o mais ridículo - que eu já vi atuar pelo Flamengo). Ainda assim, o Flamengo saiu campeão.

O empate no tempo normal aconteceu com um gol de falta de Reinaldo, que entrou durante o jogo. Pode até ter acontecido, mas eu não me lembro de mais nenhum gol de falta marcado por Reinaldo pelo Flamengo. Na verdade, não me recordo nem dele cobrando faltas. Mas aquela ele bateu, o goleiro tricolor Murilo colaborou e a bola entrou. Depois, Marco Brito empatou para o Fluminense e a decisão foi para os pênaltis.

E, nos pênaltis, vimos uma das cobranças mais surreais de todos os tempos. Cássio, o fraquíssimo lateral esquerdo do Flamengo, cobrou mal, à meia altura, e facilitou a defesa do goleiro. Mas a bola foi espalmada pra frente, quicou na pequena área, pegou um efeito estranho e, aparentemente empurrada por uma mão invisível, mudou de direção e voltou lentamente para dentro do gol - para desespero dos tricolores que, àquela altura, já tinham comemorado a defesa. Se aquele gol não tivesse acontecido, graças à força estranha que empurrou a bola para a rede, a série ficaria empatada e o Flamengo talvez não tivesse garantido o lugar na final que aconteceria mais de um mês depois. E não estaríamos hoje comemorando o aniversário de dez anos do gol do Pet.

Assistam no vídeo abaixo ao gol de falta de Reinaldo e depois avancem para 7:15, para verem a força do destino atuando.




O que aconteceu na final contra o Vasco vocês já sabem. O Flamengo vencia até o finzinho por 2x1, com dois gols de Edílson - um deles completando de cabeça uma jogada espetacular de Petkovic. O resultado dava o título ao Vasco, que na verdade poderia ter feito mais gols durante o jogo se não tivesse esbarrado na atuação espetacular do goleiro Júlio César. Aos 43 do segundo tempo, o comentarista Washington Rodrigues anunciou ao público que acompanhava a partida pela Rádio Tupi que São Judas Tadeu chegara ao Maracanã.




Você pode chamar de São Judas Tadeu, de Deus, de destino, de "força", do que quiser. Mas a sua atuação não se encerrava ali - assim como a de Petkovic que, como Luis Penido foi muito feliz em dizer na narração do vídeo acima, acabara de entrar para a "história eterna do Flamengo". Como vocês sabem, depois de deixar o Flamengo e passar por uma penca de outros clubes (inclusive os rivais Vasco e Fluminense), Pet retornou à Gávea em 2009. A decisão de recontratá-lo, na época, foi até motivo de chacota. Mas Delair Dumbrosck, vice-presidente em exercício, foi contra os dirigentes do futebol do clube, contra o treinador do time e empurrou Petkovic garganta abaixo de todo mundo.

O resultado disso vocês conhecem. Este vídeo - registrado dia 8 de novembro de 2009, no Mineirão - mostra apenas um dos momentos marcantes daquela reviravolta improvável no Campeonato Brasileiro. Causada em grande parte pelo retorno de Petkovic, que só aconteceu graças à moral que ele já tinha com a torcida por conta da conquista de 2001.



É isso: a história do Hexa conquistado no ano retrasado pode muito bem ser contada a partir do já distante dia 3/3/2001, com o improvável gol de falta de Reinaldo e o pênalti espírita cobrado por Cássio. Sem os estranhos eventos daquele dia, não haveria o inacreditável gol do Pet - e não haveria a impressionante arrancada título brasileiro de 2009.

E tenho a impressão de que esta história ainda está em andamento.

3 comentários:

Murdock disse...

Bom ponto de vista, por causa desse gol nós conquistamos o Hexa oito anos depois. E por causa desse gol o Vasco é nosso eterno vice.

Rafael disse...

André,
bacana o texto. Tenho essas memórias também. Mas essas ligações acabam retornando à Teoria do Caos. Tudo sai como deveria mesmo acontecer.
SRN
Posso fazer um jabá do meu texto sobre o mesmo assunto?
http://www.blablagol.com.br/extase-o-gol-do-pet-13706

Saulo disse...

Esse gol do Pet talvez tenha representado mais ainda pro Vasco. Embora o Vasco tenha sido vice 2 anos seguidamente, era o grande bicho papão daquela época. de 97 a 2000 foram dois brasileiros, uma mercosul e uma libertadores. Algumas goleadas humilhantes no Flamengo nesse período. Na minha opinião aquele gol do Pet encerrou uma fase irritantemente brilhante do Vasco da Gama. depois daquele gol, o Vasco passou a olhar o Flamengo de cima baixo. Se apequenou e caiu em 2008. Talvez essa Copa do Brasil feche esse ciclo 10 anos depois ou prolongue o sofrimento. Uma coisa eu sei. Se o Vasco perder essa final vai ter vascaíno torcendo pro Vasco nunca mais jogar finais...