Ronaldinho Gaúcho no Flamengo - o que esperar dele dentro de campo?

Adriano, Ronaldo, Robinho - fizeram mesmo tanta diferença? Qual o tamanho do impacto que Ronaldinho pode ter no time?

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Ronaldinho, todo mundo sabe, tem uma habilidade muito acima da média, ainda mais da média do nosso futebol doméstico. Esteve no banco nos últimos meses, mas no primeiro semestre de 2010 foi sempre titular e destaque do Milan, uma equipe de alto nível da Europa; havia uma expectativa real, não só no Brasil, de que ele pudesse jogar a Copa do Mundo. Além disso, não é jogador de se machucar, ao contrário de outros dos superastros que andaram sendo repatriados nos últimos tempos. Ou seja: a possibilidade de fazer uma boa diferença para seu time, aqui no Brasil, é real. Eu diria que até maior - ao menos por um tempo - do que a de outros que vieram pra cá depois de longos períodos mal entrando em campo.

Mas tendo a discordar da maioria quanto ao tamanho do impacto técnico que tiveram em seus times jogadores como Adriano, Robinho, Roberto Carlos e Ronaldo após voltarem ao país. São bons, mas não produziram nada de outro mundo, que transformasse sozinho o potencial de seus times. Ronaldinho pode até fazer mais do que eles, mas isso vai depender em grande parte, claro, de sua dedicação. Hoje, não dá pra apostar muito que ele vá treinar firme e poupar seu corpo como qualquer mortal para render seu máximo. Não é o que indica a sua história.

Vamos ver o que vai acontecer assim que ele estrear, sabe-se lá quando isso vai ser. Imagino que ele vá precisar de um bom período de desintoxicação, depois de toda esta rotina de Porcão, boate, pagode e praia, para estar minimamente em condições de entrar em campo. Mas isso poderá ser compensado não só por sua categoria, mas também pelos adversários mais fracos que enfrentará no início, pelo Carioca e pela Copa do Brasil. Depois de toda a novela e de toda a exposição criada em cima do cara - na maior parte, por culpa dele mesmo e seu irmão -, a pressão pra ver logo um bom futebol vai ser grande.

Mas é bom lembrar: seu contrato com o Flamengo não acaba em seis meses, nem em um ano.


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Eu confesso: não acompanho mesmo de perto o futebol europeu. No auge de Ronaldinho, o que me impactava eram só melhores momentos. E sendo bem sincero, em boa parte do tempo eu tive a impressão de que ele era mais valorizado do que devia (o que não quer dizer que não fosse muito, muito bom – mas chegaram a comparar o cara com Maradona e outros indiscutíveis deste nível) por conta de jogadas de efeito no meio-campo ou na lateral, daquelas que ficam bonitas em clipes, mas não geram tanto assim para seu time. Os jogos dele a que realmente assistia inteiros, pela Seleção, me reforçavam esta opinião.

Mas alguns comentaristas que respeito bastante e acompanharam seu desempenho mais de perto (como Tostão e Mauro Cézar Pereira, por exemplo) sempre mostraram uma admiração verdadeira por seu futebol. Posso estar enganado, então, e ele realmente ter futebol pra ser um dos maiores de todos os tempos, como tantos disseram em algum momento. Tomara que vejamos um tanto disso agora, com ele no Brasil.


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Olhando o elenco atual do Flamengo, já contando com Thiago Neves, posso imaginar um time escalado com Ronaldinho, Thiago Neves e Bottinelli juntos no meio, à frente de dois volantes, atrás de um único atacante fixo. A formação seria o 4-2-3-1 que foi moda durante a Copa do Mundo; é uma maneira de usar juntos os jogadores de mais potencial do time sem comprometer demais a marcação e até compensando a falta de atacantes de ofício do elenco rubro-negro atual.

É um esquema bem diferente do que Luxemburgo usou no primeiro amistoso do ano, em que obviamente as peças disponíveis eram bem outras. Creio que agora ele já deve estar começando a imaginar de forma mais concreta como vai trabalhar com suas novas opções. E fico imaginando se ainda vai tentar dar um jeito de encaixar o Renato neste time.

3 comentários:

Juan disse...

Eu aposto nessa formação, com Ronaldinho do lado esquerdo e Thiago Neves no lado direito, com Deivid mais adiantado. Botinelli ainda é uma incógnita. O Willians vai ter muito trabalho do lado direito, porque Leo Moura dificilmente vai deixar de subir. Como Ronaldinho provavelmente vai jogar mais solto, precisará de alguém com fôlego para marcar do lado esquerdo e, ao mesmo tempo, fazer a saída de bola. Maldonado se posiciona bem, mas já não aguenta correr por dois ou três. Vejamos como o Luxa se vira.

Fabricio C. Boppré disse...

Caro Monnerat: sim, como você mesmo sugeriu, você está enganado, sobre o Ronaldinho em seu auge [risos]. Nos velhos tempos, o que o tornava incrível era justamente sua objetividade, seus dribles rápidos em direção ao gol, os chutes secos e os passes precisos. Mauro e Tostão devem ter visto muito isso. Eu assisti bastante ele no Barcelona, e teve esse jogo, do link http://www.youtube.com/watch?v=ZqAFg1WxG-k, cujo segundo gol é uma obra-prima. Velocidade intensa em direção ao gol, da linha lateral próxima ao meio campo em diagonal até quase a pequena área, dois marcadores deixados pra trás com cortes secos e objetivos, em direção ao gol, e o goleiro, coitado, quando se viu diante dele, nem teve tempo de cair no chão -- a bola já estivesse mansa no barbante. Esse gol, pra mim, simboliza o período áureo do cara. Haviam as firulas, claro, que passavam na TV, mas o foda eram os lances agudos de ataque mesmo. No Milan, ainda vi um ou outro lance de inteligência nos passes e nos chutes. A explosão já tinha se perdido. De todo modo, ainda acho que ele pode render um belo caldo aqui, até a Copa 2014.

Quanto a formação do time, concordo plenamente com tua sugestão. Só acho que o time tá bem desequilibrado. Falta zaga e lateral esquerdo. E se der de trazer um matador em melhor forma que o Deivid (e de mais experiência que o Diego Maurício), fica perfeito.

Fabricio C. Boppré disse...

Só corrigindo, no comentário acima eu quis dizer "(..) a bola já estava mansa no barbante (..)".