César Cielo campeão do Mundo! E o Flamengo?

Com as recentes vitórias no Mundial de piscina curta, César Cielo andou ganhando um espaço bastante grande na imprensa estes dias. Aí, vem a pergunta: e do Flamengo, que paga seus salários, alguém lembra nessa hora? Não é papel da diretoria simplesmente chorar porque a imprensa não cita o nome do clube nas matérias sobre as façanhas do nadador, e sim de se mexer para conseguir tirar o possível do bom momento de seu atleta.


É fato que, por estar competindo pelo Brasil, Cielo não pode usar a toca do clube num momento como este. E os demais nadadores brasileiros que venceram no mundial - Kaio Márcio e Felipe França - também não estão tendo os nomes de seus clubes lembrados. O negócio é que isso não é novidade nenhuma; todo mundo sabe que nadadores - e ginastas, corredores, enfim - ganham muito mais atenção na imprensa nas competições pelo país do que pelo clube, e que nestes momentos o nome do clube dificilmente aparece e quem ganha espaço são os patrocinadores das federações, além dos pessoais dos atletas. Seria válido travar uma luta política com as federações e o COB para tentar melhorar esta situação; mas, quando um clube decide investir em quem compete nestes esportes, já está ciente disso. Então, como conviver com esta realidade para conseguir lembrar o mundo de que César Cielo é atleta do Flamengo em um momento como este?

Seria muito importante, neste momento, uma assessoria de imprensa ativa que se esforçasse enviando material e fazendo contato com veículos para tentar emplacar matérias ligando o nome dele ao Flamengo, ao trabalho feito na natação do clube, enfim. Não me parece que o Flamengo seja organizado para isso, mas ao menos agiu pagando um anúncio de meia página no Lance e outro de um quarto de página em O Globo, festejando seu nadador. Não sou contra; é uma maneira válida de ligar a marca Flamengo à de Cielo neste momento de vitória. Mas, num modelo mais próximo do ideal, este tipo de anúncio seria pago  ao menos com a ajuda, se não totalmente, dos patrocinadores conseguidos pelo clube para bancar o esporte, que com isso também aproveitariam a conquista para associarem seus nomes a ela.

Mas não sei quais são os patrocinadores que ajudam o Flamengo a pagar o salário dele, na verdade. O Avanço, por exemplo, é patrocinador exclusivo do Cielo ou ajuda o Flamengo a bancar a conta? Isso não me parece claro, e dá margem para que os torcedores que só ligam para futebol liguem o fracasso do time em campo aos gastos com os outros esportes (coisa que reluto em fazer; pra mim, ter Cielo no Flamengo não deixa mesmo de ser um motivo de orgulho, embora ele devesse ser melhor utilizado).
E a verdade é que, para conseguir atrair patrocinadores para o Flamengo, é preciso mostrar nestes momentos que estes patrocinadores têm como capitalizar estas ocasiões. Pode ser em anúncios de oportunidade, como estes; pode ser aparecendo em um evento comemorativo organizado na Gávea para homenageá-lo (que com certeza ganharia algum espaço na imprensa, ainda mais nesta época do ano em que o futebol ocupa menos espaço); pode ser tendo espaço garantido em uma bem formada rede de relacionamento na Internet com aqueles fãs de esportes olímpicos que seguem as conquistas de Cielo. É preciso criar propriedades de valor em torno de Cielo - e de Jade Barbosa, Diego Hipólito, Marcelinho etc. etc. - para conseguir convencer empresas de que investir ali é um bom negócio.

Na verdade, este de planejamento já deveria ser feito no momento em que se pensa na contratação de alguém como César Cielo. Não seria agora o momento para agir no susto e tentar catar as migalhas possíveis de atenção - já deveria se saber de antemão como agir. Se o Flamengo quer ter um projeto olímpico tão ambicioso como fala Patrícia Amorim, deveria se organizar para tal - tanto no lado negócio, quanto no lado esportivo da coisa - para que o investimento se justifique. Ainda mais em um clube tão endividado.



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Além do ganho de marca para o clube e as oportunidades para atrair parceiros, diretores costumam dar outra justificativa para se investir em atletas como Cielo: atrair alunos para as escolinhas da Gávea. Mas Cielo não está treinando por lá no dia-a-dia, o que faz com que não haja muita proximidade com o ídolo. Será que o clube não poderia negociar e se planejar para ao menos fazer um evento juntando os garotos com o Cielo no clube - fazê-lo cair na piscina com os alunos em alguma oportunidade, por exemplo? Bem trabalhado, isso teria espaço na imprensa também. Até mesmo uma promoção agora celebrando os títulos do Cielo - "quem matricular seu filho na escolinha este mês tem um desconto X e ganha uma foto autografada do Cielo", sei lá - poderia ser pensada.



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No momento, em vez de tentar provar para o mercado que investir no esporte olímpico pode valer a pena por si só, o Flamengo parece apostar em outra solução: o incentivo fiscal. Assim como muitas empresas investem em cultura através de leis de incentivo - empresas que não normalmente não apostariam em financiar filmes, por exemplo, apenas pelo retorno que eles mesmos podem gerar, mas acabam colocando ali um dinheiro que deixam de pagar em imposto graças à legislação -, também é possível fazer o mesmo no esporte. O Flamengo nunca pôde se aproveitar disso por ter dívidas milionárias com o Estado - a lei proíbe que instituições em dívida com o poder público possam se aproveitar destes incentivos. Mas parece que Patrícia Amorim vai dar um jeito de driblar o problema usando o Instituto Atleta Rubro-Negro, que ela ajudou a criar antes mesmo de se eleger presidente. É uma solução parecida com a que Márcio Braga acenou diversas vezes para conseguir continuar recebendo patrocínio da Petrobras, mas sem nunca ter conseguido colocar em prática.

É um caminho válido, que a lei oferece. Tomara que consigam fazer funcionar.

3 comentários:

Pablo Alcântara disse...

Eu não sei se o Cielo treina no Flamengo. Acho que não, né? Então, acho que até por isso fica mais ainda difícil promover alguma ação que reforce a participação do clube. Aliás, isso ainda pode sair pela culatra: "ele nada pelo Flamengo, mas nem treina lá porque o clube não tem estrutura...". Mas acho que era preciso então promover pautas positivas. Com o Cielo lá a estrutura melhorou? O Flamengo tá formando mais e melhores nadadores? As crianças tão empolgadas? Já tem resultados? É isso. Mas será que a chegada dele foi só pra suar a toca com o símbolo do clube?

Bosco Ferreira disse...

Isso que me inculcou bastante, ví tudo sobre ele e suas recentes conquistas, não ví nenhuma vez um simbolo, as cores, ou uma palavra citando o nome do clube propociona a ele essa possibilidade de mostrar todo o seu talento.

Está valendo a pena esse investimento? Ou é mais uma prova do descaso, o retrato da incompetencia de uma diretoria que não consegue lidar bem nem com as coisas que caem do céu.

Luis disse...

Flamengo para mim é futebol e basquete. O resto é o resto. Deveríamos ter apenas escolinhas e ponto. O dever de investir em esportes olímpicos e que não dão retorno é do governo federal.