Por que ninguém cobra a profissionalização do Flamengo?

O futebol é mesmo o carro chefe do Flamengo e, por isso, uma notícia da última semana passou batida pra maioria: Arnaldo Szpiro, que era diretor de basquete, está se afastando do cargo. Era ele quem tocava a administração da equipe, vice-campeã brasileira – e que se tornou mais forte agora para buscar o título de 2010/2011.


Vi a informação no bom blog Ninho da Nação. Em princípio, o motivo da saída seria a recusa da diretoria em profissionalizar o seu cargo; Arnaldo trabalhava como voluntário, sem receber nada do clube. Mais tarde, o ex-dirigente afirmou que sempre soube que o cargo seria não-remunerado e que não houve briga sobre isso que motivasse sua saída – mas que ele realmente não podia mais dedicar tanto tempo ao clube, por precisar cuidar de sua vida pessoal.

Independente da saída de Szpiro ter sido amigável, o acontecimento mostra que o clube ainda não andou pra valer em uma das maiores bandeiras de Patrícia Amorim em sua campanha: a profissionalização. Cada setor do clube deveria ser gerido por um profissional remunerado e reconhecido em sua área. Porém, isso até agora acontece apenas no marketing – apesar da área ainda ter espaço não só para o diretor executivo profissional e para o vice-presidente voluntário, mas também para um “diretor geral” voluntário que ninguém entende bem o que faz por lá além de política – e no futebol.

E já escrevi por aqui que a verdadeira profissionalização não é apenas pagar salário a um diretor que continue agindo dentro da mesma estrutura que os antigos amadores; só colocar Zico por lá não basta. É preciso que o futebol – e os esportes olímpicos, e a sede social... - tenha não só um diretor profissional, mas também toda uma equipe competente e remunerada, trabalhando dentro de um organograma que faça sentido, com um orçamento definido e metas de desempenho.

Com uma receita bem acima dos R$100 milhões por ano, não é razoável que o clube continue sendo tocado por gente que, em tese, se dedica a ele apenas em seu tempo vago. O Flamengo lida o tempo inteiro com atletas, agentes, empresários, executivos de emissoras de TV, patrocinadores, fornecedores e parceiros diversos que vivem de suas atividades, entendem de seus negócios e buscam sempre os melhores resultados possíveis para eles. Quem se senta à mesa para negociar pelo clube com estas pessoas também tem que ser assim.

Sei que não só Zico, mas outros ligados ao clube de uma forma ou de outra pensam assim. E há gente trabalhando em projetos neste sentido para serem implantados no clube. Tudo é um processo, mas é preciso que a diretoria compre esta ideia para que ela saia do papel e não vejo em seu discurso e sua prática prioridade para esta transformação no modelo de administração do Flamengo. E se isso não acontecer, o clube vai continuar dependendo, para ser bem administrado, que apareçam pessoas competentes, realizadas financeiramente, com tempo livre e incrivelmente apaixonadas pelo Flamengo para assumir cada um de seus departamentos, abrindo mão de suas vidas pessoais. De vez em quando vai acontecer, em uma área ou outra. Mas é claro que não vai ser a regra, e o resultado disso é visível.


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Infelizmente, as críticas que aparecem ao trabalho desta diretoria nunca são neste sentido. Não falta gente aparecendo pra bater em Patrícia, Zico e quem mais estive pela frente, pelos mais diversos motivos, justos ou injustos – mas nunca com este tipo de cobrança. Será que a profissionalização definitiva do Flamengo não interessa a estas pessoas?

A verdade é que tem gente na Gávea jogando um jogo muito pesado.

3 comentários:

Unknown disse...

André,

o estatuto do clube permite esta estrutura profissional? É possível, com o atual estatuto, que existam diretores profissionais?

Pelo que você mesmo colocou sobre a diretoria de marketing e a própria contratação do Zico como diretor executivo do futebol, acredito que não haja impedimento, correto?

Sendo assim, realmente é estranho que este profissionalismo não esteja sendo implantado.

Como eu não gosto de ficar cornetando e acredito que a Patricia fará (e está fazendo) um bom trabalho, espero que ela dê uma posição oficial a respeito.

Quanto a esse lado sujo que tenta derrubar o Zico, isso já era esperado. Eles devem estar desesperados por perderem poder no clube.

Esses que acusam são justamente os maiores culpados por não termos mais base.

Depois da geração de Juan, Adriano, Julio Cesar (que têm em torno de 30 anos), quem surgiu com grande destaque depois? Ibson? Renato Augusto? Quem mais?

O que o Flamengo ganhou na venda desses jogadores? Muito pouco, né? A maior parte deve estar na mão desses "empresários" que vivem dentro do clube.

Se eles estão pulando tanto, é sinal de que a limpeza está sendo feita. Isso é bom.

SRN!!

André Monnerat disse...

rnagato - como você falou, o FLamengo já tem alguns diretores profissionais.

Sempre colocam o estatuto como impedimento pra qualquer mudança mais profunda no modo de administrar o Flamengo. Pra algumas coisas, realmente o estatuto precisaria ser mudado. Mas, pra outras, basta ter vontade de fazer - coisa que até hoje não aconteceu.

Posso até estar enganado, mas até onde eu sei, não há nada no estatuto que impeça que se contratem gestores remunerados, lhes deem linhas de orçamento definidas e se definam metas e métricas de desempenho, com direito a bônus por objetivos atendidos.

O estatuto, aliás, está inteiro aqui: http://www.sobreflamengo.com.br/2008/01/estatuto-do-clube-de-regatas-do.html

Unknown disse...

André,

realmente, lendo rapidamente o estatuto, não há impeditivo para diretores remunerados.

Apenas membros dos poderes são impedidos de serem remunerados.

Então, teoricamente não é tão difícil fazer o que você falou. Basta querer fazer.

Abraços,

Nagato