Muricy na Seleção me surpreendeu

Muricy está sendo premiado pelo currículo. Embora alguns tentem negar o óbvio ululante, o cara entende de futebol. Ninguém é tricampeão brasileiro à toa. E antes disso, Muricy teve 5 anos seguidos de títulos estaduais desde 2002 (Náutico, Náutico, Inter, São Caetano e Inter), além de um vice brasileiro em 2005. Deixa o Fluminense na liderança do Brasileiro. Não há candidato ao cargo que tenha resultados melhores a apresentar. Mesmo assim, sua escolha me surpreendeu.

Me surpreendeu porque Dunga saiu da Seleção com uma imagem fortemente negativa em dois aspectos: o defensivismo e a falta de jeito para lidar com a imprensa. Pois as duas grandes críticas ao seu trabalho vencedor no São Paulo são exatamente estas. É óbvio que Muricy não tem contra si a grande objeção que se fazia à escolha de Dunga em 2006 -  a falta de currículo como treinador -, mas eu esperava que a CBF, em busca de mais simpatia do público e da imprensa com a Seleção, procurasse alguém com outro perfil.


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Sou da opinião de que a Seleção deve procurar sempre jogar um futebol agradável de se ver, e não simplesmente pensar de maneira pragmática na conquista da Copa do Mundo, algo que depende, além de um trabalho bem feito, de uma infinidade de fatores impossíveis de se controlar. Por isso não queria Felipão. E também por isso tenho sérias dúvidas se Muricy é uma boa ideia.

É claro que a gente não viu até hoje Muricy trabalhando com um time em que pode contar basicamente com qualquer jogador que queira. É óssível que, com estas infinitas possibilidades à mão, ele mude o jeito de montar seus times. Mas seus últimos passos no Fluminense não são animadores. Ele até começou, depois de pegar um time que já vinha funcionando com Cuca, mantendo um esquema de jogo mais, digamos, equilibrado. Mas, depois do primeiro insucesso - o empate com o Grêmio Prudente -, ele já mudou o esquema para três zagueiros e saiu satisfeito com um time que tomou pressão a maior parte do tempo e achou dois gols em lances isolados. Poderia ir dando certo até o fim do campeoanato, e eu até acredito mesmo que as chances disso eram grandes, mas o Fluminense conta com material humano para jogar de outra forma - como a Seleção também irá contar. Vamos ver se ele será capaz de ir além do que a gente já viu que ele faz com enorme competência: armar uma boa defesa.


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Há outras questões de perfil quanto a Muricy que levantam dúvidas sobre seu sucesso na Seleção - e aí eu falo até de resultados mesmo.

Por exemplo: no São Paulo, ele conquistou seus três títulos em campeonatos de pontos corridos. No mata-mata da Libertadores, fracassou as três vezes - e jogando mal mesmo. E todos os seus compromissos mais sérios com a Seleção serão em torneios de mata-mata.

A CBF tem o plano declarado de renovar a Seleção, trabalhando com jovens que tenham idade para estar bem em 2014. Pois Muricy quase não utilizou a base são-paulina enquanto esteve lá, mesmo com tudo o que se sabe da estrutura que o clube montou para revelar talentos.

Muricy também teve uma outra característica no São Paulo, que ia além do fracasso no mata-mata: a cada ano, levava alguns meses para conseguir fazer seu time jogar bem. Seu trabalho levava algum tempo pra dar resultados. Na Seleção, o normal será sempre se reunir por poucos dias com os jogadores, com espaço de meses.

De primeira, a reação da imprensa me parece estar sendo positiva à escolha do treinador. Mas que ninguém se engane: as críticas virão assim que os resultados não forem os esperados, e até mesmo se forem. Fica a curiosidade pra ver se ele vai manter o bom humor que vinha mostrando desde que chegou ao Fluminense.

Não há como negar que o cara tem seus méritos pra ter chegado onde chegou - bem diferente do que aconteceu da última vez em que escolheram alguém para o emprego. Mas agora será julgado pelo que fará daqui pra frente, e não daqui pra trás.