Onde a gestão Patrícia Amorim errou - ou não (Parte 1)

O último texto aqui do SobreFlamengo não foi um campeão de audiência (na verdade, ontem o blog bombou é de gente procurando por  "blog Renato Maurício Prado" no Google). Mas foi um recordista de comentários na casa. Deu pra ver que muita gente o entendeu como uma pura e simples defesa de Patrícia Amorim. Não foi o caso.


Achei que pudesse ter ficado claro: era apenas um pedido pras pessoas analisarem com calma os fatos e não partirem para críticas simplesmente por pilha dos outros, alguns deles realmente com grande poder para influenciar opiniões. De qualquer forma, os comentários trouxeram vários pontos interessantes, de quem defende ou não a presidente.



Decidi aproveitar para fazer um grande balanço sobre o que vejo ou não como erros da gestão Patrícia Amorim. A maior parte são coisas das quais já escrevi por aqui e quem realmente acompanha o blog já poderia saber minha opinião. Mas deve valer fazer esta retrospectiva destes poucos meses agora, às vésperas do momento em que tudo pode mudar.

Ficou grandão, então vou dividir em mais de uma publicação. Lá vai:


Errou: manter Marcos Braz
Um erro compreensível. Afinal, o time fora campeão brasileiro.

Mas foi um erro, porque não foi pra isso que ela foi eleita. Patrícia garantiu na campanha que profissionalizaria o clube, colocando gente remunerada e competente para cuidar de cada área do clube. Não foi o que fez, nem deu sinais claros de que aquela situação inicial era apenas transitória.

Porém, para todos os que até hoje se lamentam pela eleição de Patrícia (de novo: eu não teria votado nela) e apontam este como um grave e imperdoável erro, pensem bem: se o "seu candidato" tivesse ganho a eleição, Marcos Braz seguiria ou não no comando?




Não errou: o episódio da Taça das Bolinhas
Agora resolveram que Patrícia "perdeu a Taça das Bolinhas" de maneira indesculpável.

Bem, sobre isso eu escrevi na época: não sei se ela deveria ter votado em Fábio Koff ou Kléber Leite no Clube dos Treze, nem mesmo se foi isso o que fez diferença praquela papagaiada que a CBF protagonizou. Mas eu não acharia razoável que o Flamengo mudasse seu voto por conta deste tipo de politicagem baixa - seria algo que iria até contra a história daquele título.

No mais: aquilo realmente mudou alguma coisa? A CBF antes reconhecia o título e deixou de reconhecê-lo, ou simplesmente tudo manteve-se como já estava há 20 anos? Na boa: nem a tal taça chegou no Morumbi até agora.

Realmente não consigo entender rubro-negros chorando tanto por conta disso.



Errou: falta de planos para a transição no futebol
Seria de se esperar que um candidato à presidência do Flamengo, com chances de vencer, já tivesse na cabeça quem comandaria o futebol em caso de vitória. Afinal, é o departamento mais importante no clube.



Depois da queda de Marcos Braz, ficou claro que Patrícia Amorim não tinha isso bem claro. O Plano A, e ideal, era contratar alguém de altíssimo nível para tocar a profissionalização do departamento - mas atrair alguém assim não era tão fácil. Ela tentou Zico, que de primeira não aceitou; tentou Brunoro, que também recusou. E aí?

Esta dificuldade para conseguir alguém em curtíssimo espaço de tempo deveria ser algo já esperado - desde a candidatura, inclusive. Um plano de transição, com alguém ocupando o comando do futebol e preparando o terreno para a profissionalização definitiva, já deveria existir. Todo o tempo em que o departamento ficou acéfalo mostrou que não existia. Erro grave.



É bom dizer ainda que rapidamente Marcos Braz mostrou um trabalho incompatível com o que Patrícia Amorim apregoava como sua filosofia de trabalho para o futebol. Desde a primeira entrevista como presidente, ela alfinetou Adriano (no que foi até criticada...), falando que esperava um pouco mais de dedicação. Braz, ao contrário, iniciou o ano declarando abertamente que não só o Imperador, mas também Love tinham mesmo privilégios - e deixou as coisas correrem ainda mais soltas do que no ano passado. Houve problemas na renovação de Angelim e Andrade, houve a briga com Petkovic - enfim, Braz foi dando muitos motivos para ser demitido ao longo daqueles primeiros meses do ano, e sua saída não foi um erro. Mas, com todos os sinais, aquele foi um período em que já deveria estar sendo estudada a maneira de fazer a transição de modelos, sem Braz por lá. Acabou que a queda de gabinete foi "no susto", o que causou aquele estranhíssimo hiato no departamento.

17 comentários:

Lucas Dantas disse...

Como sempre, no alvo. Ótimo texto, André.

phott disse...

Perfeito!

Flora disse...

Ops, era eu aí em cima. rs

Bosco Ferreira disse...

SE UM DIA APALUDIR UM CARTOLA POR FAZER BEM A SUA OBRIGAÇÃO ESSE CARTOLA SERÁ O ZICO.

Mas o que me irritou foi alguns comentaristas generalizarem que as críticas são consequencia de machistas ou da clark dos funestos diretores que já passaram.

Vociferaram: "Essa mesma galera colérica já deve ter aplaudido muita gente muito píor que ela, em termos de competencia, de carater e de postura.

Machistas, clarks, cambistas, e puxa sacos de cartolas sempre terá no futebol. Que isso não seja motivo para sofismas intoleraveis da parte de pessoas que não gostam de democracia e não aceitam críticas construtivas.

No início cheguei até a acusar certos críticos da presidente chamando-os de machistas, pois seus cometários eram desprovidos de argumentos e beirava e em alguns eu só via chacota.

O que não é o caso nesse momento conturbado, hoje, a maioria da torcida cansou e tem motivos para sonhar com um impeachmet.


Quem é da situação tem que compreender que oposição a uma diretoria feita pelo torcedor é diferente da oposição da cartolagem. A do torcedor é uma oposição sazonal, e é sempre justa.

Torcedor não faz oposição por fazer. Torcedor não luta por cargos ou posição na diretoria. Torcedor não quer ingresso de graça, quer é contribuir, ajudar.

Taí outro ponto cadê o sócio torcedor?

Um ponto que situação e oposição tem não qerem nem falar e isso é consenço:

É justo a naçã de 40 milhões ser governada por um pequeno grupo de 2.342 eleitores, os quais já sabemos que nem todos são rubronegros? Pois há inúmeros sócios que herdaram suas ações de sogros e pais e que torcem por clubes rivais!

Não vejo um só poste que tenha a coragem de falar nisso. Isso é ou não uma oligarquia?

Flora disse...

E aí André, vc viu o que saiu agora na imprensa?
Parece que agora o Flamengo incluirá sócios no Cidadão Rubro-Negro. O que vc acha?

HENRIN BUENO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Insurance USA disse...

Vamos lá:

1- Se eu fosse eleito presidente do Flamengo manteria o Marcos Braz, exigiria mudanças de postura dele e não o demitiria antes do fim da temporada. Pra mim o erro está aí.

Se planejava demitir na primeira perda de título, era melhor ser peituda e demití-lo quando chegasse. Seria mais honesto com todos e mais coerente. Do jeito que ela fez foi demais. E

2- Concordo sobre a taça das bolinhas e assim como os esportes olímpicos ela acabou queimando essa decisão em termos de imagem por outros erros. Acho que ela acertou aí.

3- Pra mim, é impossível dissociar a demissão do Braz sem o fato de ela não ter um plano B. Ou seja, ao invés de retomar o rumo, ela jogou a bússola fora. Ela transformou uma demissão em crise de comando, bem maior do que ele já causava.

Repito: era melhor e mais honesto enm ter começado o ano com ele.

E não, o Zico não era o plano B. Foi uma maravilhosa iniciativa que surgiu pra ela. É ilusão achar que desde a demissão do Braz o alvo era ele.

Ela não merece os parabéns por isso? Óbvio que merece. É algo que pode mudar totalmente os rumos da gestão dela. Mas isso não apaga os outros erros. Quando muito, compensa tudo e pode tornar o clube melhor do que nunca. Oremos.

Insurance USA disse...

Outra coisa: por mais q eu critique a gestão atual, isso de pedir impeachment é foda. Ela foi eleita democraticamente. Agora aguenta.

Impeachment é o último expediente da democracia. E não o primeiro da oposição.

Folha disse...

Não está se atribuindo as críticas negativas apenas ao machismo não, podemos atribuir tb a falta de bom senso, lucidez e pouco, ou nenhum conhecimento de futebol, pra dizer o mínimo.

André Monnerat disse...

Vamos lá.

Flora: eu já tinha falado aqui do Cidadão Rubro-Negro e os sócios do clube se integrarem numa coisa só. Me contaram isso já tem um tempo - olha o link: http://www.sobreflamengo.com.br/2010/05/conversa-com-golden-goal-sobre-o.html
Estou esperando pra ver qual vai ser o formato final disso, mas parece maneiro.

André Monnerat disse...

Tiago,

1 - O Braz não foi demitido na primeira perda de título. Ele deu uma porrada de motivos para ser demitido ao longo destes meses. Além de, como eu falei, tocar as coisas com uma filosofia que ia de encontro ao que a direção pregava. Em qualquer empresa isso dá demissão.

3 - Concordo que demitir o Braz sem saber o que fazer sem ele foi um erro grave. Mas acho que eu falei isso no texto, certo?

E o Zico já tinha sim sido convidado pela Patrícia antes. Ou ela estava mentindo, pois ela declarou isso com todas as letras - não lembro nem se foi antes ou depois do Braz cair.

André Monnerat disse...

Henrin, você acabou apagando um comentário aqui, certo? Mas lhe adianto que ainda falarei disso do basquete.

André Monnerat disse...

Bosco, "a oposição do torcedor é sempre justa" - nem tanto. "Sempre honesta" - pode ser.

E quanto aos sócios, ter que abrir pra atrair mais gente e tudo o mais - na boa, já falei disso aqui um monte de vezes. Olha aí nos arquivos; este é um dos mais antigos (de 2008!): http://www.sobreflamengo.com.br/2008/12/planejamento-para-2009-2010-2011-2012.html - mas há vários outros. Até de campanha pra mais gente se associar, já que o clube não se mexe pra isso, eu já participei.

Alan disse...

Bem comentado, Monnerat. Porém, discordo de alguns pontos. Como disse no último comentário, defendo a Patrícia. Não por ter votado nela ou por ela ser mulher, mas por ela estar acertando mesmo, no meu ponto de vista. Vamos aos pontos levantados:

1 - Marcos Braz: como você mesmo disse, não havia como demiti-lo, e nenhum candidato o faria. Assim como não havia como não renovar com nomes como Andrade, Angelim e Pet. Infelizmente, a Patrícia estava numa situação em que não havia saída. Se demitisse e não ganhasse nada, teria errado ao desmontar o time campeão brasileiro. Não demitiu, e continua errada. Em suma, o erro não foi demitir ou não o Marcos Braz, foi não ganhar o estadual, e ser eliminado da Libertadores. Coisa que é difícil botar na conta dela, já que ela manteve o time do ano passado.

2 - Taça das bolinhas: concordo em gênero, número e grau. Sempre caguei e andei pra decisão da CBF, e não é agora que vou dar a mínima pro que eles falam.

3 - Transição do futebol: discordo. Acho que estamos todos esquecendo que este é um ano de Copa do Mundo, evento que mexe com o futebol do mundo inteiro. Ela bem sabia disso, e sabia também que, não importasse o que acontecesse, teria cerca de um mês e meio pra trabalhar e reorganizar tudo. Ela preferiu ir levando nas coxas a situação, pra poder chegar agora e trabalhar com calma, do que botar um tampão qualquer e se complicar mais ainda. Se quando Andrade caiu, tivéssemos contratado o primeiro Roth, Geninho ou Fulaninho qualquer, não estaríamos agora negociando com o Felipão. Se tivesse colocado um sujeito qualquer no lugar do Braz, não teríamos Zico de volta. Assim como ela não vai ficar contratando Vandinhos, Sambuezas e Paraíbas da vida.

Como dizem vários blogueiros por aí, essa é a época de vender jornal. Jà vimos seleções inteiras sendo cotadas pelo Flamengo, e é bem difícil saber o que é verdade e o que é venda de jornal pura e simples. Pela primeira vez em muitos anos, estou vendo o Flamengo negociar com jogadores, dirigentes e técnicos sem criar escândalos. O Zico sugiu sem que ninguém soubesse. O Alex Silva quase veio no mesmo caminho, e quando o SPFC atravessou a negociação, o Flamengo (corretamente) disse que não iria entrar em leilão. Estão fazendo as coisas como têm que ser feitas. E acho que estão no caminho certo.

Em suma: por mim, ela está acertando. Deixa ela trabalhar, e vamos ver o time, técnico e diretoria que teremos depois da Copa. Aí sim, será a hora de bater palmas ou descer o sarrafo. Até lá, é especulação, conversa pra vender jornal, e papo pra boi dormir.

SRN

André Amaral disse...

Fala Monnerat

Manter o Braz pode ter sido errado, mas como se disse, "um erro compreensível", porém, o que vejo é que ela ficou apenas esperando um nome para começar todo o processo de profissionalização.

Ela tentou o Brunoro, o Maluf, mas eu vejo que, de fora, ela mesmo não tinha um plano de profissionalização.

Talvés até tenha arquitetado na cabeça dela e esse projeto foi apresentado pro Zico, mas não colocou nada em prática.

Precisava de um diretor executivo? Sim, mas ela poderia começar o trabalho sem o diretor? Sim.

Como se questionou outra vez, se o Braz não fosse o campeão brasileiro, quem ela colocaria como VP de futebol? Ou deixaria vago como ficou esse um mês todo?

Insurance USA disse...

Monnerat, se ele fazia coisas que ia contra oq a administração diz, eu concordo. Mas a própria administração faz coisas contra oq ela diz.

Na prática, a Patrícia SEMPRE falou q enquanto a bola entrasse tudo bem. E ela mesma justificou a demissão com o argumento de que "a bola não tinha entrado". Na prática, ele foi demitido uma semana depois da final q o Bota ganhou. Acho justo dizer q ele caiu por causa disso, se não foi a única razão é a principal.

Sim, você falou que foi um erro. Eu só estava ressaltando que concordo com você nisso. Assim como na Taça das Bolinhas. :)


Sobre o Zico: sim, ele foi convidado. O que falei é que ele não era o plano B pra substituir o Braz. Não havia um simplesmente.

André Monnerat disse...

Régis, eu dou valor a várias coisas que o Braz fez como VP de futebol. Inclusive concordo que ele não foi mal nem com o Angelim, nem com o Andrade.

E, considerando isso e ainda que ele tinha acabado de ser campeão: acho que foi compreensível terem mantido ele.

Só acho, como escrevi, que a Patrícia foi eleita tendo como bandeira de campanha fazer outra coisa. Portanto, ir contra o discurso que a elegeu foi um erro. Compreensível, mas um erro.

Fora isso, este ano ele errou pra cacete.