Afinal, o que vai acontecer com o futebol do Flamengo?

Depois de tanto tempo sem que alguém assumisse a direção do Departamento de Futebol do Flamengo, a solução que foi divulgada ontem - que pode ser provisória, ou até mesmo apenas uma etapa em um processo - não foi das mais animadoras. E serve ainda para iluminar algumas questões.

Patrícia Amorim não tinha um plano?

É de se esperar de um candidato com chances reais de vencer uma eleição presidencial no Flamengo que já tenha mais ou menos acertado quem tomará conta do setor de maior visibilidade no clube, certo? Se Delair tivesse ganho, o homem seria Marcos Braz; se fosse Plínio Serpa Pinto o presidente, Fábio Luciano assumiria como diretor profissional do departamento. Com Patrícia Amorim...?

O Flamengo foi hexa brasileiro e a presidente eleita acabou mantendo Marcos Braz, pelas circunstâncias. Mas e se o time não tivesse acabado a temporada tão bem assim, o que teria acontecido com o Departamento? Pelo que dá pra se perceber agora, a presidente não tinha isso bem claro em sua cabeça durante a campanha.


Os eternos compromissos políticos

Sabia-se que Patrícia Amorim se elegeu com uma base formada por figurinhas mais que carimbadas na política rubro-negra. Após a demissão, Andrade já havia escancarado que ela tomava decisões pressionada por estes grupos. E agora, alguns começam a ganhar seus lugares ao sol na direção do futebol rubro-negro.

Hélio Ferraz até traz boas lembranças, pelo trabalho que fez como presidente em uma situação de emergência, após o impeachment de Edmundo Silva, e pela participação no Departamento de Futebol no fim de 2005, quando chegou com Kléber Leite para salvar o time do iminente rebaixamento. Mas o que dizer do tal "conselho" que se formou para lhe dar apoio? Entre nomes conhecidos e nada animadores, destaca-se Luís Augusto Velloso, que teve um mandato desastroso como presidente - pegou o time campeão brasileiro de 1992, o desmontou e entregou a seu sucessor um clube endividado e com campanhas sempre ruins. Fora isso, há várias experiências anteriores em que o Flamengo sofreu com o excesso de gente com cargo, todos achando que mandam alguma coisa.

Infelizmente, o Flamengo tem poucos sócios, e menos ainda em condições e com disposição para participar de sua política e sua administração. Por isso vemos e ouvimos há tantos anos nomes tão repetidos. Alguns dos que agora voltam estavam sumidos faz um tempo, mas agora reconquistaram seu espaço. Se nada mudar, logo podem retornar outros de que ouvíamos falar muito até o fim do ano passado. Hoje, é assim que funciona.


A solução Hélio + colegiado pode ser transitória, até se encontrar um VP definitivo. Pode ser ainda que SuperHelinho e o os outros participem da prometida profissionalização, servindo como uma espécie de "conselho de administração" acima dos gestores remunerados. Pensar nesta hipótese é uma maneira de tentar ser otimista. Mas se ficar como está, as perspectivas não são das melhores.





Como é difícil encontrar quem dirija o futebol do Flamengo!


Hélio Ferraz está assumindo claramente por falta de opção. Vários nomes já foram cogitados para assumir a vice-presidência de futebol e, ao que parece, todos recusaram ou foram impedidos por um motivo ou por outro - como Michel Assef Filho e Bernardo Amaral. A verdade, como escreveu Juan Saavedra no seu Polaroids Rubro-Negros, é que este é mesmo um cargo muito difícil de preencher.

É um papo que eu já tive com o próprio Juan: o perfil que hoje se espera de um Vice de futebol tem tantos requisitos que é difícil imaginar alguém que os preencha. É preciso ser rubro-negro, sócio do clube, rico (pra poder deixar de lado seu trabalho para viver o dia-a-dia do clube), entender de futebol, ter bom trânsito com empresários e dirigentes, ser ao mesmo tempo bom administrador e bom político...

E mesmo que se pretendesse deixar a direção nas mãos de um profissional, é complicado encontrar pessoa dentro deste perfil. O mercado simplesmente não dispõe de tanta gente assim para esta função; na maioria dos clubes, a administração continua nas mãos de voluntários e os exemplos de profissionais de sucesso comprovado são raros. O Vasco buscou Rodrigo Caetano (que pode estar de saída de São Januário) no Grêmio - e o Grêmio, sem ter outro para contratar, inventou no cargo Mauro Galvão, que durou pouco e já foi parar no Vitória. O Botafogo, ao olhar as poucas opções de profissionais da área no mercado, acabou contratando Anderson Barros - que teve passagem de péssimos resultados no Flamengo e rebaixou o Figueirense, mas ao menos era alguém que já tinha exercido este cargo em algum lugar. O Fluminense tentou a sorte com Branco, um ex-jogador que nunca tinha sido dirigente, e não se deu bem.

O Flamengo, pelas notícias que lemos, já foi atrás dos grandes nomes mais óbvios, como Zico e Brunoro, que recusaram. Júnior contou que foi contactado ano passado, mas também não aceitou. Falam em Leonardo, mas dizem que é difícil que aceite. As alternativas cogitadas são nomes que hoje trabalham em grandes clubes como Cruzeiro e Inter - tirá-los de lá não parece fácil. No perfil que se procura, as alternativas com algum nível de "segurança" estão se esgotando.


"Profissionalizar" não é só trocar um amador por alguém remunerado

O que me parece é que, hoje, há uma visão simplista do que seria "profissionalizar" a gestão do futebol. Não basta simplesmente trocar o Vice de futebol voluntário por alguém pago para fazer o mesmo trabalho - até porque isso já foi feito no clube algumas vezes. Gilmar Rinaldi, hoje empresário de Adriano, já foi esta pessoa no Flamengo, e até Francisco Horta, ex-presidente do Fluminense, chegou a ser contratado para isso. Márcio Braga pensou em fazer o mesmo ano passado com Carlos Alberto Parreira, mas ele recusou e desistiu-se da ideia de ter um profissional ali. São soluções tão personalistas quanto a nomeação de um VP "convencional", nunca serviram para realmente mudar o funcionamento do departamento de futebol e não deixaram nenhum legado.


Uma mudança de verdade criaria outra estrutura para o departamento, redefinindo cargos e funções, repensando processos, criando índices de desempenho e metas (não só esportivas) a serem alcançadas - fazendo com que os cargos fossem mais fáceis de preencher e tornando o clube menos dependente de uma só figura em sua administração. Um palpite: poderia ser criada uma seção técnica no departamento, que poderia até ser dirigida por um ex-jogador ou treinador e trabalharia na avaliação de possíveis contratações e do próprio time, além de auxiliar a comissão técnica nas análises da própria equipe e do adversário. Assim, o restante da administração - ou seja, mexer com números, negociações, logística etc - poderia ficar a cargo de alguém que poderia vir até de fora do futebol.

3 comentários:

Bosco Ferreira disse...

Um belo comentário que mostra o alto grau de comprometimento e de preocupação do SOBREFALMENGO com o futuro do clube, além de evidenciar o alto nível das postagens dos cidadãos da Nação.

Tudo vem do fato de uma Nação de 40milhões de cidadãos rubronegros serem representados por apenas 2.342 eleitores, e nem todos rubronegros, alguns deles herdaram as ações de sogros, ou parentes rubronegros que já faleceram.

A primeira coisa a ser feita, seria a democratização do clube, aumentando essa representação deixando-a mais legítima. Mais representativa dos quarenta milhões de rubronegros. Como? Abrindo as portas a novos sócios.

Muito facil né?

Não! Muito dificil. Um clube que tem uma receita anual altíssima como o CRF, os grupos dominantes não vão querer democratizar o clube para uma nação inteira ficar metendo o bedelho nos negócios desses 2.342 donos que se revesam no poder.

Grupo entra grupo sai, e ninguem que chega investiga quem sai para não ser investigado.

Todas essa sugestões jamais serão implementada sem que alguem mude radicalmente essa sociedade chamada Nação rubronegra.

Hoje só vejo o Zico, ou alguem com o seu apoio iconteste com capacidade e credibilidade para fazer essa revolução.

HENRIN BUENO disse...

Patricia foi eleita sem a menor condição para exercer cargo de tamanha responsabilidade. Vamos ao fatos. Não dá para negar isto. Já na campanha as propostas para o setor eram vazias de conteúdo e contexto. Agora tirou o cara da turma do Delair, que é o único que não compôs com ele, e elencou um grupelho arcaico e satírico para comandar o futebol. Com direito a músico de MPB e ginecologista, para satisfazer as inúmeras correntes políticas da Gávea.

O Fato é que um Clube de bairro, dividido entre grupos, famílias e jogadores inveterados de bocha, decide o destino de algo que é paixão de milhões.

Teria que haver um Movimento para tirar o Futebol da mão destes dinossauros em extinção e colocar em uma Organização em que ao menos parte destes milhões tivessem poder de decisão, veto e voto. E isto só com uma empresa SA que cuidasse do futebol como uma Controladora.

Senão será impossível termos um futebol do século XXI no clube.

E Monnerat, vc teria que ser um dos artífices disso aí. Tem capacidade para isso. Junte uns caras bons aí, se reúna com eles e por favor, faça alguma coisa.

Flora disse...

Eu gostaria do Rodrigo Caetano.
Parece ser um cara serio. Mas o clube tem que dar o minimo de condições pro cara trabalhar, coisa que o vasco não fez. Na verdade nada mudou nesse clube, so trocou o nome do presidente.