Sobre o Clube dos 13 e a Taça das Bolinhas - parte 1

Você se lembra de quando foi a eleição anterior para presidente do Clube dos 13? Aliás, se lembra de alguma outra eleição para o cargo, além desta última?

Pois é: há anos que Fábio Koff é eleito e reeleito, e ninguém se importa muito com isso. Não surgia oposição, a CBF não dava a mínima. O que mudou?

Estamos entrando no ciclo da Copa do Mundo que acontecerá no Brasil. As cifras do mercado do futebol brasileiro já vêm crescendo e muito nos últimos anos; nos próximos, a tendência é isso se acentuar. Além da grana de TV, patrocinadores, parceiros e empresários, será despejado no negócio toneladas de dinheiro público, por conta da Copa. E quem mandar em cada ponta do negócio durante este período estará ganhando imensas oportunidades de negócios e barganhas políticas, de todos os gêneros.

Neste cenário, eis que Ricardo Teixeira decidiu que, desta vez, a eleição no Clube dos 13 o interessava. O Clube dos 13 há muito tempo tornou-se uma agência comercial, quase que com a única função de negociar a grana da TV (que já é algo crucial para a vida dos clubes brasileiros). Kléber Leite, apoiado por Teixeira, entrou na parada e colocou em discussão uma ampliação deste papel. Quem sabe a criação de uma liga de clubes, responsável por organizar as competições nacionais? Enquanto Kléber estava na disputa, o presidente da CBF deixava a ideia ganhar espaço nas discussões por aí; no que seu aliado perdeu, ele já a rechaçou.

No fim, Koff voltou a se eleger. Porém, todo o processo fez com que ele agora partisse para um discurso de mudanças - inclusive querendo ampliar o número de associados para 40, aumentando a representatividade da associação (o que, na minha visão, seria bom). Andou dizendo inclusive, diante do fracasso inegável dos Estaduais que estamos vendo, que é a favor de mudanças no calendário, com o retorno dos torneios regionais.

Não dá pra saber se o papo é pra valer ou se, quando a poeira baixar, ele vai voltar a cuidar apenas das conversas com o pessoal da televisão. O que já é o bastante para criar muita controvérsia - sobre o tamanho do bolo, sobre a receita para fazê-lo crescer e qual o tamanho da fatia de cada um.


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É óbvio que, em todas as conversas sobre quem apoiaria quem na eleição, um monte de questões foram colocadas sobre a mesa. Consta, por exemplo, que Kléber Leite tentou atrair o apoio do Santos mostrando-se favorável à proposta do clube que faria com que o dinheiro da TV passasse a ser dividido de acordo com pesquisas sobre a exposição de mídia de cada clube nos períodos anteriores, e não só de audiência dos jogos. Neste tipo de pesquisa, em 2008 o primeiro colocado foi o Palmeiras, seguido por Corinthians, São Paulo, Flamengo e Santos. Pesa muito neste tipo de estudo não só o desempenho esportivo de cada time, mas também o valor da mídia de sua praça - o que favorece bastante os paulistas.

Isso seria bom pra quem? Ruim para quem? É fácil dizer? O que Fábio Koff acharia de algo assim?

Este tipo de coisa, entre muitas outras, deve ter pesado na definição de uma porção de votos nesta eleição.


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Não tenho nenhuma simpatia por Kléber Leite. Também não muita por Ricardo Teixeira. Mesmo assim, não sou capaz de cravar com certeza que a reeleição de Koff tenha sido o melhor, pro Flamengo ou pro futebol como um todo. Há um enorme jogo de interesses que eu não tenho como conhecer pra valer; ficam só impressões pelo que sai na imprensa. Nos últimos anos, nas discussões sobre cotas de TV, o Flamengo teve dois grandes aliados a maior parte do tempo: São Paulo e Corinthians. Nestas eleições, o Corinthians esteve do lado do Kléber Leite (e seu presidente, Andrés Sanchez, irá à Copa do Mundo como chefe da delegação brasileira); já o São Paulo ficou com Koff.

Patrícia Amorim escolheu, desde o início, Fábio Koff. Deve ter seus motivos, econômicos e políticos. Eu não me espantaria e poderia compreender se ela tivesse escolhido Kléber Leite, em função de alguma posição dele sobre as questões com que o Clube dos 13 pode lidar nos próximos anos.

O que eu não compreenderia é se ela, com sua posição política já definida, já tendo feito seu juízo de que opção seria melhor para o futuro do Flamengo, resolvesse trocar de lado por conta de uma promessa qualquer envolvendo a famigerada Taça das Bolinhas. Estaria pensando muito pequeno se deixando levar por este tipo de coisa numa eleição cujo resultado pode influenciar decisivamente os próximos anos do Flamengo e de todo o futebol brasileiro. E, se este tipo de questão foi colocada na mesa, é uma politicagem baixa e vergonhosa com a qual prefiro não ver meu clube envolvido. Se a CBF estava mesmo decidida a exercer este tipo de influência externa na eleição, vendendo uma decisão que não deveria ter nada a ver com o resultado desta eleição, não deve ter motivos lá muito nobres.

Mas parece que muitos torcedores do Flamengo por aí não pensam como eu. Paciência.


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E, na boa, ainda duvido muito que o voto de Patrícia Amorim realmente fosse ter o poder de fazer a CBF tomar uma decisão diferente da de ontem.

2 comentários:

Ed disse...

Concordo com você André. Esse tipo de politicagem faz mal ao Brasil e ao futebol como um todo.

Bruno Nigro disse...

Concordo plenamente com o posicionamento da Patrícia Amorim. Confesso que por um momento achei que a questão da famigerada Taça das Bolinhas era importante, mas quando vi que o motivo era totalmente eleitoreiro, e que ela teria que apoiar o Kleber Leite, que é um cara que já trouxe um prejuízo gigante para a Gávea, fechei com a visão preventiva da nossa presidente.

Porém existem outras questões. A CBF declara que o Flamengo não é Hexacampeão e sim Penta, porém ela mesmo sabe que tal afirmação não é verdade. E agora, a diretoria do Sport nega que assinou um documento entrando em um acordo com o Clube dos 13 reconhecendo o título do Flamengo para assim poder ingressar na entidade e receber sua cota de TV.

Ou seja, eles querem receber mas não querem assumir o compromisso que os gabaritou para receber tal quantia. Então, se insistirem, sugiro que o Clube dos 13 expulse o Sport da entidade, já que ele afirma que não assinou o termo concordando com a decisão do C13 em 1987, e validada pela CND, fato totalmente ignorado pela CBF que ainda assim traçou o cruzamento, mesmo sem a aceitação formal, por escrito e unânimo por parte do Clube dos 13.

Ou seja, no campo e na caneta (para quem gosta desse tipo de coisa) o Flamengo tem direito de receber o reconhecimento legal e homologado pela CBF do título em 1987 (o mais importante nessa história) e consequentemente a Taça.

Nossos dirigentes precisam aprender a honrar a própria palavra e os documentos que assinam.