Momentos decisivos do Hexa: a troca de comando no futebol

O Flamengo vinha de duas boas campanhas nas últimas temporadas, brigando no topo da tabela até a última rodada. Em 2009, manteve a base do ano anterior e ainda reforçou-a com Adriano, um atacante que, embora viesse de uma fase problemática na carreira, ainda era visto por todos como potencial fator de desequilíbrio em qualquer jogo no país. Mesmo assim, no início do campeonato, poucos, muito poucos, apontavam o Flamengo como um candidato ao título, e também não eram tantos os que o colocavam como candidato a uma vaguinha na Libertadores. Mesmo estes um pouco mais "otimistas" quanto ao resultado final do time na competição colocavam ressalvas - era necessário ver o quanto pesaria no desempenho dentro de campo não só os problemas econômicos do clube como a agitação que o ano eleitoral criaria na Gávea. Pois aconteceu algo que ninguém esperava: o fato de haver eleições acontecendo em dezembro não só não atrapalhou, como acabou até ajudando o Flamengo a conquistar o título.

Com toda a tal base mantida do ano anterior, Cuca tinha dificuldades em definir para o Flamengo uma maneira de jogar. Conquistou o Estadual, foi até bem na Copa do Brasil - mas, no Brasileiro, não o time não engrenava, muito prejudicado também por seguidas expulsões. Veio o desgaste por bater de frente com Adriano, devido a faltas e atrasos em treinos, e diversas notícias de problemas de relacionamento com outros jogadores (que até ganharam força após sua saída). Depois de um empate com o Barueri no Maracanã, com a torcida mostrando grande impaciência, Cuca não resistiu e acabou demitido. Ele mesmo esteve na Gávea para, ao lado do então Vice de Futebol Kléber Leite, anunciar sua saída.

E aí entra a influência das eleições de fim de ano. Kléber já sabia que, em dezembro, não estaria ao lado do presidente em exercício, Delair Dumbrosck, na campanha; seu candidato seria o então Diretor de Futebol, Plínio Serpa Pinto. Kléber e Delair já haviam batido feio de frente por conta de Petkovic; ao que parece, a escolha do substituto de Cuca também não seria tranquila. Aproveitando a ocasião, Kléber e Plínio acabaram anunciando suas saídas da diretoria no dia seguinte à queda de Cuca - assim, já se preparavam, meses antes da votação na Gávea, para posicionarem sua chapa como de oposição. Afinal, o discurso de situação não poderia ser usado de qualquer forma, já que seria naturalmente de Delair; como, àquela altura, as perspectivas de título eram mais que remotas, a separação parecia servir para se poupar do desgaste daquela relação que já não vinha bem e ainda para deixar mais simples a estratégia eleitoral.

Agora, terminado o campeonato, é fácil perceber que a influência desta saída dos dirigentes foi decisiva para o que viria depois. Estava claro que Andrade não seria mantido como treinador caso Kléber e Plínio tivessem continuado; eram fortes as especulações de que Carlos Alberto Parreira seria o novo técnico, com o ex-capitão Fábio Luciano vindo para participar da comissão técnica ou da própria diretoria de futebol como profissional remunerado. Como teria sido a campanha do time dali pra frente com estes comandantes? É impossível afirmar.

Olhando pra trás, também a estratégia de reforços para o time provavelmente seria bem diferente. No ano anterior, Kléber e Plínio contrataram em quantidade quando o time se viu debilitado no meio da campanha - dinheiro foi gasto e foram muitos jogadores chegando, com tempo reduzido para se adaptar. Com Delair e o novo Vice de Futebol, Marcos Bráz, o esquema foi outro: além de dar força à aposta em Petkovic, vieram apenas três jogadores, todos livres de contrato, trazidos sem custos além de seus salários: Maldonado, Álvaro e Gil. Dois deles vieram a se tornar titulares absolutos, apontados como decisivos na arrancada do time no meio da competição. E, de um jeito ou de outro, a diretoria passou a se concentrar em manter os salários dos jogadores em dia - o que acabou acontecendo durante a maior parte da competição e ajudando a criar um maior clima de tranquilidade na Gávea neste período, embora obviamente com a necessidade de fazer-se novos empréstimos e novos adiantamentos de receitas futuras.

Pois é - entre as muitas características fora do comum desta campanha rubro-negra na conquista do Hexa, está esta: trata-se do incrível clube que acabou se beneficiando da instabilidade em sua política interna. Quando dizem que "o Flamengo é diferente", não estão brincando.

3 comentários:

Paulo disse...

Excelente descrição! Esse foi realmente o processo político que levou o nosso Mengão ao topo! E como você disse, no Flamengo é tudo mesmo diferente!
Mas o que importa é que somos HEXA!

SRN

Paulo de Floripa

Paulo Sales disse...

Ainda bem que nos livramos de Carlos Alberto Parreira, um dos maiores embustes do futebol brasileiro. E ficou claro que Kleber Leite também não entende nada de futebol.

Flávio disse...

A saída do KL e do Cuca Beludo foram fundamentais, tanto quanto a chegada do Adriano.
Com o Cuca Beludo já estava em pauta a contratação do Gum, esse mesmo que jogou no Flor. Alguém aqui se atreve a comparar Pum com o Álvaro?
A efetivação do Andrade mudou o astral do grupo. A imprensa parou de fazer tanto barulho com as ausências do Adriano, deixando claro que o vazamento das notícias era interno.