Momentos decisivos do Hexa: a reta final

No início do campeonato, o torcedor rubro-negro não sabia o que esperar de seu time; havia alguns grandes jogadores por lá, mas não se sabia quem iria ficar até o fim, como seria o clima em ano de eleição, como a situação financeira se sustentaria ao longo da temporada. A partir de determinado momento, a torcida passou a saber o que esperar: nada. Esta ainda não foi a pior situação: houve uma fase em que o que alguns esperavam  era a luta contra o rebaixamento. O time se acertou, começou a vencer e começaram as contas daqueles com esperança numa ainda distante vaga na Libertadores. E, a quatro rodadas do fim, após a categórica vitória contra o Atlético no Mineirão, todo torcedor do Flamengo já esperava o título - qualquer coisa abaixo disso já teria um certo sabor de decepção. Embora a tarefa ainda não parecesse simples.

Era preciso vencer e torcer contra os adversários diretos - que, àquela altura, pareciam ser São Paulo, Palmeiras e Atlético Mineiro. De cara, veio o primeiro e mais improvável bom resultado: numa quarta à noite, o Palmeiras seguiu ladeira abaixo e empatou em casa com o rebaixado Sport. No sábado, o Atlético voltou a perder, desta vez para o Coritiba, no Couto Pereira. Como o São Paulo venceu no mesmo dia o Vitória por 2x0, um triunfo rubro-negro no domingo, contra o Náutico, em Recife, colocaria a equipe na segunda colocação.

E a vitória veio, de maneira até tranquila. Com Petkovic apagado, foi a vez de Adriano brilhar: participou do primeiro gol, matando uma bola dificílima dentro da área e rolando para o chute de Léo Moura, cujo rebote Pet aproveitou; e fez o segundo, ainda no primeiro tempo, aproveitando cruzamento de Zé Roberto. No segundo tempo, o time continuou controlando o jogo, enquanto o Náutico se desesperava ao ver o rebaixamento ainda mais perto.


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36a. rodada, e o Flamengo só via à sua frente o São Paulo. E assim, no domingo, muitos rubro-negros falavam em comparecer ao Engenhão para torcer para o Botafogo, que precisava de um bom resultado contra o São Paulo para não se complicar ainda mais na luta para escapar da série B. Nunca teve tanto torcedor do Flamengo torcendo para o Botafogo, e as vibrações positivas deram certo: o Maracanã já estava cheio, à espera do início de Flamengo x Goiás, quando Jóbson fez o gol da vitória alvi-negra por 3x2, nos últimos minutos da partida. A torcida rubro-negra explodiu em festa, como se o próprio Flamengo tivesse balançado as redes. Dia de recorde de público do campeonato, dia do maior mosaico do mundo formado pelos torcedores que lotavam os anéis superior e inferior do estádio e o coloriam de vermelho e preto, formando em branco a inscrição A maior torcida do Mundo faz a diferença. A festa estava pronta para o Flamengo assumir a liderança, pela primeira vez no campeonato.

Mas isso não aconteceu; em campo, o time decepcionou. Fez um primeiro tempo muito ruim, jogando lentamente e praticamente não ameaçando o Goiás. Na segunda etapa, o rendimento melhorou, houve mais movimentação, as chances apareceram - mas a bola não entrou. O 0x0 final - que levou a muita especulação na imprensa sobre uma possível "mala branca" que tivesse turbinado o rendimento dos goianos, que correram muito apesar de não terem mais nada a disputar na competição - foi uma verdadeira ducha de água fria. O Flamengo continuava na segunda colocação, um ponto atrás do São Paulo, e passava a precisar de um tropeço do adversário em um dos dois jogos restantes - ambos contra equipes já desinteressadas do campeonato, que não lutavam nem por título, nem contra o rebaixamento. A sensação em boa parte da torcida era de que o Hexa havia escapado por entre os dedos naquela tarde.



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Na penúltima rodada, todos os jogos aconteceram no mesmo dia e horário: 29/11, 17h. Assim, não bastava se preocupar com o que acontecia em campo com o seu time; era preciso estar ligado no rádio, no sistema de som do estádio ou na bolinha que pintava na tela da TV anunciando algum gol em outra partida. Foi assim que os rubro-negros tiveram a decepcionante notícia de que, em Goiânia, o São Paulo fazia 1x0 no Goiás, ainda aos 15 minutos do primeiro tempo, enquanto o Flamengo seguia no 0x0 com o Corinthians. Parecia que não ia dar. Pra piorar a situação, o time jogava sem Adriano - que havia gerado polêmica durante a semana ao aparecer com o pé queimado, alegando ter topado com uma lâmpada em seu jardim, enquanto veículos da imprensa garantiam que o acidente havia acontecido em um passeio na garupa da moto de um amigo.

Porém, ao mesmo tempo em que Zé Roberto aproveitava longo lançamento de Toró e abria o placar para o Flamengo em Campinas, surgia a notícia de que o Goiás empatara o jogo no Serra Dourada. Era festa em dobro, que aumentou quando os goianos viraram para 2x1, ainda no primeiro tempo. No Brinco de Ouro da Princesa (pra onde o jogo foi transferido a pedido da polícia de São Paulo, já que o Palmeiras jogaria no mesmo horário em seu estádio), a vitória rubro-negra seguiu sem grandes sobressaltos até o finalzinho, quando Léo Moura cobrou pênalti que ele mesmo sofreu e definiu o 2x0. Já no Serra Dourada, o agitado jogo terminou em 4x2 para o Goiás - que assim recolocava o Hexa ao alcance das mãos do Flamengo, depois de tê-lo tirado de lá na semana anterior.


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6 de dezembro de 2009. O Rio de Janeiro amanheceu vestido de vermelho e preto. A cena nas ruas era de impressionar: parecia que toda a população decidira sair ainda de manhã vestindo a camisa do Flamengo. Cerca de 100 mil destes tiveram a sorte de poder estar no superlotado Maracanã, para assistir de perto ao jogo que daria o primeiro título brasileiro ao time de maior torcida do país desde 1992. Todos os demais rumavam para qualquer lugar que reunisse rubro-negros, cerveja - como se vendeu cerveja! - e uma tela que transmitisse Flamengo x Grêmio. Foram inúmeros pontos de concentração por toda a cidade, incluindo telões montados pela Prefeitura em alguns pontos.

Durante a semana, o elenco rubro-negro trabalhou em Teresópolis, para afastar-se do oba-oba do Rio de Janeiro - onde o assunto era um só, sempre: o jogo de domingo. Com os ingressos todos esgotados na semana anterior em apenas um dia, mesmo antes da vitória sobre o Corinthians, a luta por uma entrada tomou conta da cidade e até do país: os cambistas podiam cobrar 150, 200, 300 reais por um cartão, sem medo de encalhe. Pelo contrário: muita gente esteve disposta a pagar quanto fosse necessário para estar no Maracanã e simplesmente não conseguiu encontrar quem vendesse. Muitos destes acabaram enganados, com ingressos falsos na mão; outros tantos simplesmente foram ao estádio no dia pra "dar um jeito" e pularam grades e roletas. O público oficial foi exatamente igual ao do Flamengo x Goiás de duas semanas antes, que teve seus ingressos igualmente esgotados; mas, na realidade, o Maracanã recebeu bem mais gente.

O Grêmio entrou em campo aos gritos de "entrega!, entrega!" de alguns rubro-negros - uma alusão à discussão que tomou conta da semana, sobre a possibilidade dos gaúchos deixarem o Flamengo ganhar. Isso porque, surpreendentemente, o time que chegou à última rodada com mais chances de ser campeão em caso de tropeço rubro-negro foi o Internacional, dado como carta fora do baralho até três ou quatro semanas antes. Além deles, também São Paulo e Palmeiras tinham chances matemáticas de ser campeão, em um final de campeonato de inédito equilíbrio.

E o que se viu no gramado do Maracanã foi um verdadeiro drama. Mesmo jogando recheado de reservas, o Grêmio endureceu o jogo. Seu goleiro, o suplente Marcelo Grohe, fez grandes defesas ao longo da partida, levantando o comentário de muitos nas arquibancadas: "não é possível, esse cara é colorado!" Adriano perdia oportunidades, Pet não vinha em tarde feliz, o time parecia travado - assim como o grito da torcida, cada vez mais nervosa no estádio. O torcedor do Inter, que vencia com tranquilidade o Santo André no Beira-Rio, acreditou que seria campeão até os 24 minutos do segundo tempo - quando Petkovic, em seu último lance no campeonato, bateu escanteio da esquerda e colocou a bola na cabeça de Ronaldo Angelim.

Mesmo com o 2x1 no placar, o grito de campeão só foi ouvido no Maracanã, de maneira tímida, quando o jogo já estava em seus acréscimos. Havia muita certeza, ao longo da semana, de que o título viria; mas, na hora H, todos precisaram mesmo ver pra crer. Segurou-se a festa até que se tivesse a certeza de que era aquilo mesmo - 17 anos depois, o grito de guerra precisava ser modificado e a torcida podia cantar: "eu sou Flamengo de coração, eu sou do time que é hexacampeão!"



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Deixou chegar, fudeu. Esta frase tão pouco sutil foi o lema rubro-negro em muitos títulos anteriores, em que o Flamengo não entrou como favorito e não começou bem - mas, a partir do momento em que se acertou, ficou impossível de ser parado. Em tempos de campeonato por pontos corridos, sem semifinais e finais, parecia mais difícil de vê-lo sendo colocado em prática novamente.

Mas, em 2009, aconteceu. Foi uma conquista que veio graças a muitos momentos espalhados ao longo dos meses, graças a vários fatores - muitos deles incrivelmente improváveis - que se somaram. Mas que se concretizou exatamente porque a mística do clube apareceu na hora da decisão.

Deixaram chegar.

2 comentários:

Flora disse...

sinceramente não to mto feliz com o "planejamento" do elenco pro ano que vem não. mto bonito essa politica de não precisamos de ninguem e foda-se reforço do marcos braz, mas a verdade é parece que vamos continuar com os mesmos problemas banco que tinhamos ano passado e talvez ate piorar.
não to nem um pouco triste com a ida do zé, mas a do airton sim, pois não temos substitutos a autora. o willians pra mim tem sido supervalorizado, pois apesar de ser um grande ladrão, mostrou muito bem o pessimo passador que é.
sem contar que não temos o maldonado por meio ano. simplismente o que era um dos nossos trunfos, boa saida de bola vai acabar de uma hora pra outra com uma dupla de toro e willians, a não ser que o kleberson reasolva ser o volante que não é a muito tempo. e mesmo assim teremos problema de banco.
outro problema serissimo é nosso lado esquerdo que tem tudo para ser comandado por juan e michel ano que vem (isso pq o marcos bras falou que so contrataria jogadores acima da media. hehehe)
nosso ataque continuara sendo adriano e mais ninguem.
pelo andar da carruajem não teremos banco pra uma zaga com jogadores ja com uma boa idade.

e nosso queridissimo marcos braz, que parece que subiu no salto alto depois do titulo, tendo postura totalmente arrogante nas contratações (apesar de querer gastar milhoes com vagner love), vai se dar conta mto tarde ou talvez com seu ego inflado nem consiga ver e tenha que contratar jogadores mediocres na regra do bom e barato, pois ate os jogadores razoaveis ja foram contratados.
a postura desse dirigente de achar que nosso elenco eh melhor do que é vai acabar tornando um ano que poderia ser promissor em um ano de bosta.

* é o que parece, eu odeio o marcos braz. a sorte que ele teve anos passado não acontece toda hora não.

ps: ah, e a culpa vai cair toda no andrade.

Marcos Monnerat disse...

Não sou tão pessimista assim como a Flora não. Eu gostaria, sinceramente, de ver o Flamengo escalando muitos jovens vindos das divisões de base do clube nesse campeonato estadual, pois sempre precisaremos deles em momentos de contusões e suspensões.

Mas também acho que é preciso fazer algumas contratações específicas para ter esperanças em campeonatos importantes como a Libertadores e o Brasileiro. Um bom reserva para a zaga é vital já que temos dois jogadores velhos no time titular e apenas o David que tenha mostrado alguma qualidade.

É necessário um lateral esquerdo para disputar posição com o Juan. Ele é fraco e não tem nenhum reserva para disputar vaga no time com ele, ainda mais se o Éverton sair mesmo.

É necessário um meia ofensivo para substituir o Pet de vez em quando. Ele não aguentou o brasileiro de 2009 e certamente não aguentará o ano de 2010 inteiro sem contusões musculares. Precisamos de alguém que entre ali e mantenha o nível minimamente razoável.

Precisamos de um atacante. Zé Bob é ruim e já foi tarde. Mas não temos outro realmente bom para entrar ao lado do Adriano. E também sabemos que não poderemos contar com o Imperador o ano todo. Seja por conta da sua saída no meio do ano ou por conta de queimaduras, problemas gastrointestinais, convocações para a seleção...

Ah, e Vagner Lobby eu dispenso.