Momentos decisivos do Hexa: a convocação de Adriano para a Seleção Brasileira

20/8/2009. O técnico Dunga anunciava a convocação da Seleção Brasileira que iria disputar duas partidas pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010, contra Argentina (jogo em Buenos Aires que acabaria definindo a classificação brasileira) e Chile. A maior novidade: a presença de Adriano.

Àquela altura, a convocação do Imperador não era uma decisão óbvia para Dunga. O centro-avante era o artilheiro do Flamengo e seu atacante mais importante; mas, naquele momento, o time ainda patinava no meio da tabela e sua presença no ataque não era suficiente para que ninguém apontasse a equipe como candidata a nada de mais relevante no campeonato. Até ali, ele havia marcado 10 gols em 18 jogos - números até bons, mas nada excepcionais. E bem parecidos com os que Obina, que saíra renegado do Flamengo para o Palmeiras, tinha até ali. E o time paulista aparecia como o maior favorito ao título.

Na verdade, independente dos números, o desempenho de Adriano em campo até aquele momento não era de encher os olhos. Ele fazia seus gols, decidia alguns jogos com eles e, tecnicamente, sempre mostrou que ainda estava acima da média; mas continuava parecendo muito pesado, demorava a entrar em sua melhor forma física e, em muitos jogos, parecia estático demais. Era claro que Dunga o convocava menos pelo que já apresentava em campo, e mais pelo que ainda poderia vir a apresentar; o que Adriano já havia jogado o credenciava a receber um voto de confiança do técnico, que sinalizava a ele que pretendia apostar que sua recuperação prosseguiria até a Copa. Mesmo com tantas notícias sobre faltas e atrasos em treinos - o que dava em sua dificuldade para voltar a ter o físico invejável de seus bons tempos.

Dá pra dizer que a maioria da torcida do Flamengo não ficou lá muito satisfeita com a decisão de Dunga. Graças a ela, o Flamengo ficaria sem seu centro-avante no difícil jogo contra o Atlético-PR, dali a algumas semanas, na Arena da Baixada. Mas como acreditava-se que o Flamengo já não disputava nada de muito sério na competição, a comoção pelo desfalque não foi lá muito grande. Entre o anúncio da convocação e sua ida para a Seleção, ainda houve tempo de Adriano ter duas atuações ruins nas derrotas de 2x1 para o Cruzeiro, no Maracanã, e de 3x0 para o Avaí, em Florianópolis - na qual levou o cartão amarelo que o tirou da partida seguinte, contra o Santo André.

Com a camisa amarela, sua participação acabou sendo apagada: entrou no final da partida contra a Argentina, sem fazer nenhum lance digno de nota; e contra o Chile, com o Brasil já classificado, pôde iniciar como titular - mas foi substituído no segundo tempo por Diego Tardelli e viu todos os holofotes se deslocarem para Nilmar, que fez três gols. Ainda assim, o período que passou na Seleção acabou sendo decisivo para o que o Flamengo viria a fazer dali em diante no campeonato. A perspectiva de jogar a Copa do Mundo deu outra motivação para que o Imperador se dedicasse aos treinos e agarrase a oportunidade dada. E foram 10 dias concentrado com a Seleção, treinando sempre no horário, dormindo e se alimentando bem - uma rotina bem diferente da que vinha mantendo antes.

Na volta, a diferença ficou evidente logo em seu primeiro jogo: vitória de 3x0 sobre o Sport, com Adriano não só fazendo dois gols como se movimentando muito, voltando para ajudar na armação e criando diversos lances bonitos. E, na rodada seguinte, 50 mil pessoas foram ao Maracanã e viram que tinham motivos para se empolgar: mais um 3x0, com direito a um golaço-aço-aço - grande lançamento de Pet para Adriano na velocidade, aproveitado com um surpreendente toque de cobertura sobre o goleiro. Na comemoração, Adriano tirou a camisa, fez pose de Hulk, mostrou que a forma física estava mais do que em dia e deixou claro pra todo mundo: o Imperador voltou!



A transformação era visível em campo, mas também pode ser demonstrada com números: a média de 0,55 gol por jogo que ele teve até a partida contra o Avaí cresceu para 0,75 no restante da competição - mesmo com seu desempenho não se mantendo tão alto até o final do ano. O ganho físico que ele teve naqueles momentos de empolgação e dedicação ao Projeto Seleção acabou não resistindo até o fim do campeonato; nas últimas rodadas, ele já parecia mais pesado e voltava a mostrar cansaço no segundo tempo, embora continuasse fazendo gols importantes. Mas aquela sua fase esplendorosa coincidiu com o melhor momento de Petkovic na competição - e assim os dois formaram uma dupla irresistível, a coisa mais interessante que apareceu nos gramados brasileiros em 2009, e que ainda contava com uma sólida defesa para dar suporte e garantir tudo lá atrás. Foi quando o Flamengo arrancou, os adversários vacilaram e aí, no que deixaram chegar...

3 comentários:

Flávio disse...

Mas é bom lembrar que a queda de rendimento do Adriano no final foi devido a contusões. A primeira na mesma seleção e a outra numa lâmpada de seu jardim.

André Monnerat disse...

Flávio, aí eu já não concordo não.
Acho que ele deixou o físico cair mesmo e em vários jogos da fase final, ele já não estava correndo o que deveria correr. Foram os casos dos jogos contra Santos e Goiás, por exemplo, em que eu estive no Maracanã e ele morreu no segundo tempo.

Marcos Monnerat disse...

Parecido com a dupla Pet-Imperador só a dupla Conca-Fred no Flu, só que o objetivo deles era outro muito menor...