Momentos decisivos do Hexa: 2/8/2009, Maracanã, intervalo de jogo, Flamengo 0 x 1 Náutico

Depois de uma fase complicada que levou à queda de Cuca, o Flamengo vinha de duas vitórias seguidas sob o novo comando de Andrade. Assim, 40 mil pessoas compareceram ao Maracanã para a partida contra o Náutico, a primeira com o antigo ídolo efetivado como treinador. O adversário vinha de uma longa série sem vitórias e os 3 pontos eram dados como certos - para os mais empolgados, seria a consolidação da arrancada rubro-negra.

Porém, a história que se desenhou em campo foi bem diferente. Com uma atuação muito ruim, o time viu o Náutico fazer 1x0 e perder outras chances de gol. Desde o início, a torcida perseguia com vaias Zé Roberto e Léo Moura. Era esta a difícil situação do time no momento que dá título a mais este capítulo da saga do Hexa - Andrade foi com o time para o vestiário tendo a missão de arrumar algum jeito de mudar o panorama do jogo. E a solução que encontrou acabou tendo grandes efeitos no andamento de todo o campeonato.

Petkovic havia sido apresentado na Gávea dois meses antes e, desde então, entrado pouco em campo. Cuca até que o relacionava com frequência para o banco, mas o colocava para jogar apenas nos minutos finais de algumas partidas. E, mesmo contando com a simpatia da torcida, que sempre gritava seu nome, o gringo não havia impressionado bem naquelas pequenas chances. Na verdade, em uma delas quase conseguiu entregar a vitória sobre o Vitória, no Engenhão, nos poucos minutos em que atuou - perdeu uma bola no campo de defesa com um drible bobo, levando Kléberson a precisar parar a jogada com uma falta quase sobre a linha da área e ser expulso. Sua participação no time, até então, confirmava as opiniões dos críticos em geral: não ia dar em nada e podia até virar um grande mico.

Assim, foi completamente inesperada a decisão de Andrade no vestiário do Maracanã, naquele dia 2 de agosto: substituir o zagueiro Fabrício por Petkovic. A notícia foi recebida por todos - os que estavam no Maracanã, os que assistiam pela TV - com incredulidade. Seria a primeira oportunidade de Pet atuar por 45 minutos em sua nova fase no Flamengo. Quer dizer então que o velho Petkovic, um ex-jogador em atividade, era o coelho que Andrade queria tirar da cartola num momento como aquele?




Pois ele não decepcionou. Apresentou-se muito para o jogo, fez a bola correr, dividiu o trabalho de armação com Kléberson e, se não foi brilhante, fez o time subir bastante de produção. No final, acabou sendo decisivo no gol de empate - pegou uma bola dentro da área, driblou e chutou para a defesa parcial do goleiro. Léo Moura, no rebote, tocou para o gol vazio e saiu xingando a torcida, o que fez com que a repercussão do mau resultado no dia seguinte fosse ainda pior. Mas era difícil para qualquer um dos críticos não dar o braço a torcer: Petkovic realmente havia jogado bem, quem diria? Mas não iria durar, claro.

Fato é que, com a boa participação no jogo, Petkovic habilitou-se a receber mais chances. No jogo seguinte, contra o Goiás, também entrou no intervalo e teve atuação ainda melhor na derrota de 3x2, fazendo um belo gol. Em seguida, já era titular, contra o Corinthians - e, mesmo com as boas atuações anteriores do sérvio, esta foi uma decisão de Andrade contestada por muitos. Ele não teve grande atuação, mas o time venceu bem por 1x0. E, desde então, Petkovic só deixou de atuar como titular quando esteve contundido.

Eis o resultado disso: com Petkovic jogando como titular, o Flamengo permaneceu invicto até o fim do campeonato. A equipe não ficou pronta de uma hora pra outra com sua entrada - outras chegadas e ajustes táticos foram necessários -, mas é um fato estatístico: desde a vitória sobre o Corinthians, quando Petkovic iniciou uma partida pela primeira vez, todas as quatro derrotas (para Grêmio, Cruzeiro, Avaí e Barueri) aconteceram quando o meia esteve fora, por contusão. O Flamengo foi campeão com 58% de aproveitamento; com ele de titular, conquistou impressionantes 84% dos pontos disputados.

A estatística não é mera coincidência. No início do campeonato, acreditava-se que o motor do meio-campo rubro-negro seria Íbson, o que fez com que sua volta à Europa no meio do ano fosse muito temida e, depois, lamentada; mas a verdade é que Petkovic foi muito além e logo tornou-se o cérebro pensante que o Flamengo não tinha no setor havia muito, muito tempo. Com o número 43 às costas, foi um verdadeiro camisa 10 à moda antiga - especialmente na fase que durou entre a vitória sobre o Santo André, na 22a. rodada, até o decisivo triunfo sobre o concorrente direto Palmeiras, no Parque Antarctica, oito partidas depois. No jogo seguinte, contra o Botafogo, ele sentiu problemas musculares que o tiraram do compromisso seguinte e, desde então, continuou sendo importante, até decisivo em alguns lances individuais, mas não atuou mais no mesmo altíssimo nível. De qualquer forma, já havia deixado sua imprescindível marca na arrancada que transformou um time desacreditado - a ponto de alguns mais pessimistas temerem a luta contra o rebaixamento - em um campeão indiscutível.

Petkovic terminou o campeonato com oito gols - e alguns deles foram dos mais inesquecíveis do Flamengo em toda a sua campanha. São os casos do primeiro contra o Palmeiras, driblando dentro da área adversária e concluindo com um chute improvável quando parecia não haver mais qualquer espaço, e do olímpico em cima do Atlético-MG, no Mineirão. Mas eu gosto muito de lembrar do de falta contra o Coritiba, uma cobrança perfeita na terceira vitória rubro-negra seguida por 3x0 no Maracanã - Petkovic comemorava como um garoto correndo pelo gramado, deixava claro para todos que estava mesmo de volta e fazia a torcida imaginar até onde ele e aquele time, que parecia estar engrenando, poderiam chegar.

E chegaram mesmo.

3 comentários:

Roberto de Moraes/RJ disse...

Grande André,
Essa sua série de colunas sobre os "momentos decisivos" estão sendo brilhantes, parabéns.
Apenas uma ressalva, aquela besteira que o Pet fez no Engenhão que custou a expulsão do Kleberson e quase o empate foi contra o Vitória, não contra o Atlético-PR.
Um abraço e novamente parabéns pelas excelentes colunas!

André Monnerat disse...

Tá certo, troquei o rubro-negro.

Tá corrigido!

igor disse...

Nessa foto o pet tá megrinho.
No fim do campeonato ele já não tava mais assim.
Vamos ver na Libertadores como ele se apresenta...