Meu personagem da semana: Petkovic*

* Texto para a coluna semanal no FlamengoRJ

Quem lê esta coluna deve lembrar que outro dia mesmo Petkovic foi escolhido como tema - e já como figurinha repetida. E eu dizia: "se a cada rodada ele decidir o jogo, a cada semana será ele o assunto - e eu, pelo menos, não ficarei muito chateado." Infelizmente, porém, desta vez não foi o caso.

Em um intervalo curto de tempo, Petkovic foi chamado pra conversar com Jô Soares, para colocar seu pé na Calçada da Fama do Maracanã, para receber condecoração da Assembleia Legislativa do Rio e para ser o convidado da vez no programa de Galvão Bueno na TV. No meio disso tudo, ainda arrumou tempo para ir gravar cenas de um documentário sobre ele mesmo na Bahia. Quer dizer: não sou eu que estou escolhendo Pet como personagem da semana; é o mundo inteiro.

Eu considero Petkovic o craque do campeonato, e dificilmente mudarei de opinião até o final. Porém, reparem: sua recuperação foi impressionante, ele teve grandes atuações, foi decisivo em muitos jogos - mas ainda não ganhou nada. E fiquei com uma certa impressão de que essa sequência de homenagens, num momento que sinceramente me parece bastante impróprio, acabou inflando um tanto o ego do gringo.

Essa desconfiança vem da sua atuação no último jogo. Independente de ter ido mal - o que pode acontecer com qualquer jogador -, a impressão que me dava no primeiro tempo é que ele era simplesmente incapaz de dar um toque mais simples; todas as vezes em que participava do jogo, tentava um passe daqueles mágicos, improváveis, pelo meio de três ou quatro defensores. E errava, e matava a jogada.

E vejam bem: estava muito quente no Maracanã, todo mundo sabe. Petkovic tem 37 anos, claro. Andou já se contundindo, todos lembram. Tudo isso deve ser levado em consideração. Mas a verdade é que ele caminhou em campo nos primeiros 45 minutos, inclusive dando as costas para diversos lances, com a intenção deliberada de não participar - num tipo de atitude sem a bola que a TV não pega, mas que quem esteve no Maracanã pôde notar. Li Bruno falando que Pet "correu o campo inteiro", li Renato Mauricio Prado escrever hoje em sua coluna que ele "lutou o tempo todo", mas não foi bem isso o que vi no estádio não. Petkovic parecia sem a menor condição física de estar em campo e com a intenção de se desgastar o menos possível, pra ir se mantendo em campo e, quem sabe, resolver numa bola parada ou num dos tais passes geniais que tentava em todos os momentos.

Ficou claro o quanto ele estava realmente se poupando pela atitude totalmente diferente no segundo tempo, quando resolveu correr e participar do jogo, sendo visto até cobrindo Juan na lateral esquerda. E ficou mais claro ainda como ele realmente não tinha condição física de jogar pelo pouco tempo que isso durou - em quinze ou vinte minutos, o cara já estava completamente morto e demorou demais a ser substituído.

E aí, volto ao meu argumento: aos 37 anos, em baixa, Pet teve a humildade de se dedicar aos treinos, se dedicar à dieta, baixar o percentual de gordura e se preparar o máximo possível para conseguir estar no melhor de sua forma e dar esta impressionante volta por cima. E tanto esforço deu resultado. Porém, neste momento, as notícias seguidas são de viagens e ausências em treinos pra filmar, pra dar entrevista, pra receber homenagens. Que sua capacidade técnica bem acima da média é suficiente para se destacar, todo mundo já percebeu; mas será que está claro em sua mente que, num momento decisivo como este, isso pode não bastar para levar seu time ao título?

Vejam bem: pode não ter nada a ver. Não sou preparador físico, não vivo na Gávea, não conheço Petkovic pessoalmente, nada disso. Posso estar completamente enganado quanto ao momento de um cara de quem sou fã e que, de novo, considero o craque do campeonato. Mas, se andei falando na mesma linha sobre Adriano, deixo aqui humildemente o meu conselho: Pet, tem hora pra tudo. O campeonato ainda não acabou. Deixe qualquer outra coisa pra daqui a duas semanas e coloque a cabeça só no trabalho que tem que ser feito nestas duas partidas que faltam. Se tudo der certo, qualquer homenagem que vier vai ter um sabor muito, muito melhor.

Um comentário:

Felipe Sales disse...

Caro Andre,
Voce nao está sozinho na sua opiniao. Estive no Maracana neste domingo e observei a mesma coisa que voce.
Um abraco
Felipe