Começando a aprender como é o Flamengo no Engenhão - o pós-jogo

O jogo de ontem no Engenhão era visto como uma prova para o estádio que deverá ser a casa dos clássicos cariocas nos próximos anos. Passou no teste? Apesar das confusões dentro e fora do estádio, a polícia diz que sim.

Eu já tenho uma visão diferente. Basta notarmos que um jogo que daria 80 mil pessoas no Maracanã terminou com um público pagante de 25 mil - e, mais incrível, menos do que isso de efetivamente presentes. A primeira explicação é por conta do que teria ficado em mão de cambistas, mas podem crer que teve muita gente que comprou seu bilhete e desistiu de ir ao Engenho Novo. E mais: com as imagens vistas na TV, ficaram com a impressão de que estavam com a razão. O medo - além da limitação dos ingressos para a torcida do Flamengo - foi um componente forte para que houvesse tanto espaço vazio no Engenhão. Teremos mais gente por lá numa próxima oportunidade?


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Em São Paulo, já conseguiram acabar totalmente com a mística de se ir ao estádio em dia de clássico. Por lá, são jogos em que sobra espaço nas arquibancadas, as torcidas não levam bandeiras ou instrumentos em nome da segurança, o visitante fica confinado a um pequeno espaço - e isso por enquanto, porque já falam em simplesmente fazer os jogos sempre com uma torcida só.

O futebol do Rio, por outro lado, ainda capitaliza a fama de "o mais charmoso do Brasil". É algo que ajuda a ganhar mídia fora da cidade, e boa parte disso vem dos clássicos no Maracanã, com as duas torcidas fazendo festa, uma de cada lado. Pensar em acabar com isso não seria ganho pra ninguém - nem pro Flamengo, nem pros outros. A longo prazo, me parece um erro estratégico até cogitar esta ideia. E é preciso  fazer a coisa funcionar no Engenhão, enquanto o Maracanã não estiver de volta.


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É óbvio que temos verdadeiros animais frequentando estádios e se fingindo de torcedores. São os que brigam nas arquibancadas, ou os que quebram cadeiras e banheiros pra provar sabe-se lá o quê para si mesmos. Mas boa parte da culpa de isso continuar acontecendo está na maneira como as diretorias dos clubes e a polícia lidam com a questão.

O método desenvolvido científicamente pela PM para controlar conflitos e confusões em estádios foi demonstrado pelas imagens que vimos ontem na TV: chama-se "pau no lombo". Batem indiscriminadamente, pelas costas, como se não houvesse amanhã. Tanto as otoridades que agem desta forma quanto os "torcedores" que participam dos "conflitos" podem ser identificados facilmente pelas câmeras. Mas percebam: de todas as ocorrências registradas no Juizado Especial Criminal montado no Engenhão, nenhuma foi diretamente por conta das brigas, por ter batido em alguém ou algo do gênero. É isso: ninguém vai preso, a punição é só ali mesmo, na base do cacetete, e ficamos conversados. Ao mesmo tempo, também não dá pra imaginar que os policiais que agiram daquela forma civilizada e eficiente possam vir a ser ao menos advertidos por seus chefes.

Assim como é improvável que a diretoria do Flamengo altere em algo o esquema de venda de ingressos para as organizadas que se envolveram naquela inacreditável, lamentável e anacrônica confusão já dentro do estádio. Sabe-se que o pessoal das organizadas não compra seus ingressos um a um nas bilheterias, como os cidadãos comuns; conseguem em quantidades maiores, com descontos (se não forem de graça), para revenderem aos seus integrantes. Será que os líderes da Raça ou da Jovem vão ver algo mudar nessas facilidades após mais uma briga que afasta público e mancha a marca Flamengo para todo o Brasil?


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Uma comparação financeira entre o Fla-Flu do Maracanã e o Flamengo x Botafogo do Engenhão.

No Maracanã, com 78.409 pagantes, a renda foi de R$1.016.016,00; as despesas - fora as penhoras - foram de R$357.521,00, ou 35% da receita. No Engenhão, para um jogo com tanto ou mais apelo de público, foram 25.192 pagantes, com renda de R$656.242,00 e despesas de R$234.799,00 - coincidentemente, exatamente os mesmos 35% da receita. Mas claro que o estádio tem seus custos fixos e se o público tivesse sido maior, esta percentagem provavelmente cairia.

E a coincidência triste entre os dois jogos: enquanto o Botafogo saiu com R$147 mil a mais em sua conta, mais uma vez veio uma penhora faminta e levou toda a renda a que o Flamengo teria direito. Desta vez, sobrariam R$158 mil - diz Marcos Braz que, se o jogo tivesse sido no Maracanã, o valor maior teria sido suficiente para encerrar a dívida, que ninguém ainda explicou exatamente o que é. Dá pra imaginar, então, que sobre alguma coisa para o clube no próximo domingo, certo? É esperar pra ver.


4 comentários:

Marcos Monnerat disse...

É aquilo. Os dirigentes cagam o espetáculo e os torcedores-arruaceiros cagam no espetáculo, quebrando cadeiras, arrancando privadas, etc.

Já os torcedores de verdade, como eu e você que queremos um mínimo de civilidade para assistir aos nossos times de coração continuamos sofrendo nas filas e nas entradas dos estádios ou assistindo pela TV.

Essa é a triste realidade. E as organizadas, que sempre protagonizam as confusões e os vandalismos, continuam tendo desconto nos ingressos enquanto os sócios do clube não. Uma coisa brilhante!

Ronel disse...

"pau no lombo". Batem indiscriminadamente, pelas costas, como se não houvesse amanhã.

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KKKKKK

Bosco Ferreira disse...

Esses PMs que batem e não prendem são os mesmos que brigam nas arqibancadas quando estão de folga.

Ronel disse...

Monnerat, o Engenhão fica no "Engenho de Dentro".