Renato Gaúcho pode resolver o Fluminense?

Escrevi aqui que, se Cuca tivesse caído um pouquinho antes, eu aceitaria na boa Renato Gaúcho como técnico do Flamengo. Porém, o Fluminense o contratou enquanto Cuca seguia se pendurando na brocha e o famoso Renight vai tentando dar um jeito no time das Laranjeiras. Vai conseguir?

Se eu o queria no Flamengo, é claro que acho que a escolha da diretoria do Fluminense foi boa. Sei que Renato tem uma imagem só de técnico-boleiro, de vamulá galera puro e simples. E que não ajuda em nada pra desfazer esta impressão o tipo de declaração que ele costuma dar (com o que me incomodo pouco, na verdade - dou menos importância a este tipo de coisa, ou a bravatas marciobragueanas, do que a maioria).

Mas Renato tem sim já um razoável portfolio de trabalhos realizados. Não falo nem na campanha da Libertadores do ano passado - que, indo contra a maré, não considero um grande trabalho. Pra chegar lá, ele contou bastante com a sorte, tanto pra chegar à escalação ideal (antes, insistia com um esquema impossível reunindo Washington, Dodô, Leandro Amaral e Thiago Neves - se bobear, ainda colocando Conca -, e só mudou porque suspensões e contusões o forçaram) quanto nas circunstâncias em que conseguiu muitas de suas vitórias na competição.

Mas, no ano anterior, Renato não só conquistou a Copa do Brasil, como levou o Fluminense ao quarto lugar do Brasileiro de pontos corridos - isso com um time já garantido na Libertadores, sem objetivos a perseguir no campeonato. Em 2002, já havia chegado a uma semifinal de Brasileiro com o mesmo Fluminense, sendo eliminado no sufoco pelo Corinthians. Em 2006, levou o Vasco, com um time muito fraquinho, ao vice da Copa do Brasil e a bater na trave (literalmente) de conseguir uma vaga pra Libertadores no Brasileiro, tendo em campo gente como Claudemir, Dudar, Ygor, Amaral e Jean se destacando no ataque.

Claro, não dá certo sempre. Mas qual técnico dá? De início, eu mesmo tinha grande resistência a ele como treinador e não entendia boa parte de suas escalações ou substituições. Mas, com o tempo e os resultados, o preconceito foi baixando.

O grande problema dessa ida de Renato para o Fluminense é a maneira como aconteceu - com mais uma interferência direta do patrocinador na gestão do clube. Desta vez, pelo que contam, até com chantagem: ou o contratavam, ou as torneiras de dinheiro da Unimed iriam fechar. É o fim da picada.

Mas é só mais um sintoma da zona generalizada em que o Fluminense se transformou, contra a qual Parreira até tentou lutar, mas não teve sucesso.


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Assisti aos dois primeiros jogos do Fluminense nesta nova gestão Renato. Sua aposta fez sentido: tentou congestionar mais o meio-campo, pra manter a bola um pouco mais longe de sua pavorosa defesa. Na frente, um só atacante, mas com gente leve no meio capaz de chegar à frente para abastecê-lo.

Deu mais ou menos certo nos dois jogos, contra a dupla Atlético e Cruzeiro. São dois times vistos hoje como claramente superiores, mas que o Fluminense soube enfrentar até de igual para igual - embora ainda desse pra ver que os adversários eram mesmo mais consistentes. Fábio e Aranha, os goleiros dos mineiros, se destacaram em ambos os jogos e, se não fossem eles, os resultados poderiam até terem sido melhores.

Mas poderiam ter sido piores também, graças a alguns problemas sérios que precisam ser resolvidos - ou com contratações, ou com descobertas lá dentro das Laranjeiras mesmo. Pra começar, a zaga vem jogando de maneira até assustadora. É um festival de furadas, bolas mal afastadas, passes errados na saída de bola. Difícil um time conseguir chegar em algum lugar com zagueiros atuando como Luis Alberto e Edcarlos nestes jogos.

Na lateral direita, a chegada de Ruy até foi um upgrade em relação ao fraquinho Mariano, que vinha jogando antes (desde que o Cabeção fique mesmo na lateral, e não no meio-campo). Mas, na esquerda, João Paulo é constrangedor, principalmente na defesa. Com ele em campo, qualquer time que forçar o jogo por ali vai se dar bem - e foi o que fez principalmente o Cruzeiro, que tinha sempre sucesso por aquele lado em tabelinhas primárias, uma atrás da outra. Deu pra ver ainda como o time vai depender de Conca pra crescer. As principais jogadas saíram de seus pés, e ele impressionou bastante nos cruzamentos em bolas paradas, que sempre levaram muito perigo.

Mas, de cara, Renato já vai ter problemas pra seguir com o que imaginou para seu time. Fred teve uma contusão grave e vai ficar de fora por meses; Tartá, por 20 dias. Ou seja: boa parte do que o treinador imaginou para o time funcionar na frente, ele já perdeu. Pro próximo jogo, estreia de Muricy no Palmeiras em pleno Parque Antarctica, ele ainda ficará sem Ruy e Diguinho. Não está com cara que a reação na tabela possa começar já nesta rodada.

Um comentário:

Victor disse...

André,

De cabeça consigo lembrar mais de passagens boas de Renato como técnico do Flu que de ruins.

E também, nos últimos momentos bons do tricolor, Renato quem estava lá.

Em 2002, Renato assumiu o time com Romário que não vinha dando certo e conseguiu chegar entre os 8 primeiros, vindo a ganhar do São Caetano nas quartas por vencer por 3x0 no Maracanã em um segundo tempo em que Renato resolveu colocar Magno Alves, Roni e Romário.

Perdeu para o Corinthians a semi-final quando o time perdeu no jogo Romário e o goleiro Kleber contundidos.

Em 2003, foi bem no Estadual perdendo na final para o Vasco e saiu deixando o time em 9º lugar no Brasileirão. O time desandou, foi para a Zona do Rebaixamento, Renato voltou e tirou a equipe de lá.

Não lembro como ele saiu do time.

Depois do bom ano de 2005 com Abel, o Fluminense não se acertou em 2006/1º semestre 2007, com uma cacetada de técnicos, até a volta de Renato, que com um time ruim, conseguiu ganhar a Copa do Brasil com resultados fora de casa.

Depois, sem pressão, foi montando o time no Brasileirão e sempre que contava com Thiago Neves em campo, a equipe ia bem. Fez boa campanha e chegou em 4º, sendo que ficou lá por cima bastante tempo. Não foi somente uma arrancada.

A parte ruim foi mesmo o pós-Libertadores de 2008, e alguns jogos pontuais decisivos, especialmente em Cariocas, por insistir demais com os 11 titulares.

Lembrando também, que nos últimos tempos o Vasco teve algum ano que trouxe qualquer alento à sua torcida, foi 2006.

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Como tricolor, fico bem feliz de Renato não ser técnico do Flamengo.
Renato é um cara marrento por natureza. E uma marra que associada à vitórias instiga sua torcida ao mesmo.
Eu fico imaginando, o Flamengo vencendo, com Renato como técnico, como seus torcedores não ficariam insuportáveis.

Sem contar que Renato tem também enorme identificação com o rubro-negro

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Outra coisa legal, é que noves-fora a políticagem das Laranjeiras, acabou que Renato tem a chance com mais calma, de modificar o rumo que 2008 levava com ele, pois assume o time em posição semelhante na tabela, porém com duas diferenças:
1 - o time é pior.
2 - ele não está desgastado.