Os reforços do Botafogo

Volta e meia, em conversas com amigos sobre o Brasileiro, alguém comenta comigo: "o Botafogo, sei não... Se não tomar cuidado..." Pois é: o alvi-negro tem aparecido com o candidato a retornar à série B, neste início de campeonato. Todo mundo já percebeu que simplesmente falta time - ainda mais depois que perdeu dois terços do trio ofensivo que fez sucesso no Estadual, com a contusão de Reinaldo e a saída de Maicosuel.

A torcida (aqueles poucos que se dão ao trabalho de ir ao Engenhão) pede jogador. E a imprensa faz coro, dizendo que a diretoria tem que se virar, "ir às compras". É curioso que os mesmos comentaristas que fazem esta campanha agora são os que criticam as administrações irresponsáveis, as dívidas monstruosas, os salários atrasados. A verdade é essa: o Botafogo não tem dinheiro - a situação é pior ainda que a do Flamengo, pois a dívida é comparável e as receitas todas são muito inferiores. A diretoria que lá chegou no início do ano parece estar fazendo um esforço para trabalhar com os pés no chão. Mas a situação é complicada.

De qualquer forma, dois reforços foram anunciados para melhorar o material que Ney Franco tem em mãos. São duas apostas - não adianta esperar que o Botafogo contrate mesmo jogadores indiscutíveis. Mas podem ajudar o time a subir de produção.

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André Lima, se destacou em um período curto de tempo, em 2007, justo no Botafogo. Na época, fez gols em sequência e mostrava boa movimentação e grande competência nas finalizações, com um chute potente. Mas, na verdade, mesmo naquele período de destaque, ele foi reserva de Dodô na maior parte do tempo e ganhou uma fama um tanto desproporcional ao que realmente já tinha produzido. Ganhou a vaga quando o titular foi suspenso por doping, e pouco tempo depois já estava vendido pra Alemanha. Não conseguiu nada por lá e foi trazido de volta pelo São Paulo, onde, até poder estrear, levantou vários comentários elogiosos sobre seu desempenho nos treinos. Porém, na hora de entrar em campo, nunca engrenou. Posso estar enganado, mas se não me engano sua estatística bizarra por lá é de ter feito todos os seus seis gols em impedimento. Coisa de louco.

Mas a verdade é que o Botafogo está mesmo precisando de atacante e André Lima parece melhor do que o que há disponível por lá hoje. Assisti ao jogo em que o time teve seu pior resultado no campeonato - a goleada de 4x1 para o Goiás no Engenhão. Pode parecer maluquice, mas o time não jogou tão mal quanto se falou. Porém, a atuação comprometedora de Leandro Guerreiro (curiosamente, um dos poucos aplaudidos pela torcida) entregou gols em sequência que fizeram com que o Goiás construísse seu placar. Mesmo já levando a goleada e com a torcida vaiando o time impiedosamente, os jogadores ainda tiveram forças para pressionar o adversário, atacar e buscar seus gols. E, acreditem!, criaram chances o bastante pra fazer o milagre - que não veio graças a uma grande atuação do goleiro Harley e justamente pela falta de qualidade no ataque. Uma aposta constante de Ney Franco pra melhorar a situação lá na frente é um certo Tony, que veio do Volta Redonda e é simplesmente lamentável. Com Reinaldo e Victor Simões disponíveis, pode ser que André Lima acabe continuando no banco; mas como as contusões têm sido frequentes para os dois, principalmente o primeiro, é bom ter uma opção melhorzinha a mais no elenco.

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O outro reforço do Botafogo vocês conhecem bem: Jônatas. Não o querem mesmo lá na Espanha e, a julgar pela falta de grana em General Severiano, ele deve ter aceitado uma bela redução de salário. Vai ter uma boa oportunidade de resgatar um pouquinho de prestígio e dar sobrevida à sua carreira. Afinal, vai chegar pra ser titular sem grandes contestações (ao menos no início...) e será treinado pelo técnico que o fez ter sua melhor fase até hoje. E o problema dele não é não saber jogar - é de cabeça. Não acredito muito na recuperação desse tipo de jogador, mas por períodos não tão longos, pode funcionar.

Já escrevi sobre Jônatas por aqui: é um cara que pode se destacar mesmo jogando lá atrás, como primeiro volante ou mesmo líbero. É assim que teve seus melhores desempenhos, tanto com Ney Franco, em 2007, quanto com Joel em 2005. Nos dois times, não havia um cabeça-de-área mais marcador para jogar mais recuado que ele. Ele sabe se colocar bem, tem boa noção de antecipação, faz bem a cobertura - ou seja, na sobra, pode ir bem. Um pouco mais à frente, tendo que dar o combate direto, realmente prejudica a marcação da equipe. Além disso, vindo de trás, pegando a bola sempre de frente pro campo adversário, ele pode usar melhor seu bom passe vertical e as arrancadas com passadas largas; quando insistem com ele como armador (como ele lamentavelmente parece preferir jogar), não consegue lidar bem com a marcação mais apertada, tem pouca mobilidade pra funcionar recebendo a bola de costas pro adversário.

Ney Franco sabe de tudo isso e, imagino, saberá usá-lo na melhor posição possível (se usá-lo mais à frente, a dupla de armadores Lúcio Flávio - Jônatas vai ser talvez a de dar mais sono na história do futebol). Vai depender do próprio Jônatas ser um tantinho mais sério - vamos combinar: essa sua passagem no Flamengo agora foi simplesmente ridícula - e abraçar a oportunidade que vai receber. Tem grandes chances de não dar certo; mas, pra situação do Botafogo, vale a aposta.

2 comentários:

Ronel disse...

Botafogo é o time do meu pai. Cara, que sofrimento esse time dá para ele. Lamentável mesmo. Espero que o Fla não chegue a essa situação.

André Monnerat disse...

E é o time da minha mãe...