Brasileiro 2009 - 14a. rodada - Santos 1 x 2 Flamengo

Devo dizer: um empate no jogo de ontem já estava me parecendo lucro. Não só pelo momento do time e do clube; a maldição da Vila Belmiro sempre me pareceu forte demais. Mas a verdade é que este time do Santos é fraquinho, fraquinho - um bom desafio pra Luxemburgo tentar mostrar que é isso tudo mesmo que acreditam por aí. Jogando só o feijão com arroz, o Flamengo soube manter o jogo sempre pelo menos igual e contou com a sorte pra ter essa histórica vitória.

Em seu primeiro jogo, com o retorno de Toró e tendo apenas Juan como desfalque, Andrade pôde escalar o time que eu sempre tive a impressão de que seria o de Cuca, após a saída de Íbson. Mas, fora a escalação, o Flamengo de ontem teve uma diferença marcante em relação ao dos últimos jogos: cada jogador tinha sua posição clara. Nada de lateral que virava meia e voltava como volante, ou armador que caía pela ponta e cobria os avanços do zagueiro. O time tinha três zagueiros, dois alas (Léo Moura jogou aberto pela direita o tempo todo, não virou meio-campo como vinha acontecendo em momento nenhum), Toró fixo atrás como volante, Willians e Kléberson mais adiantados, indo e voltando cada um por seu lado do meio-campo, e dois atacantes na frente. Algo bem mais simples de se compreender - pra quem está de fora e, pelo visto, também pra quem está lá dentro. Afinal, o time mostrou uma organização, especialmente pra defender, que não vinha aparecendo.

No primeiro tempo, isso foi o bastante pra manter o jogo equilibrado - e só. Com o Santos cheio de volantes no meio-campo, o Flamengo teve muita dificuldade pra criar e só ameaçou pra valer numa falta cobrada por Adriano. Como o adversário também não tinha poder de criação praticamente nenhum (até pela escalação mesmo, em que o ataque basicamente não tinha atacantes), o jogo ficou emperrado o tempo todo. Ainda assim, o Santos poderia ter ido para o intervalo vencendo - teve uma chance clara no primeiro minuto, outra no último e ainda poderia reclamar de um pênalti inacreditavelmente estúpido cometido por Wellinton, que chutou Neymar após furar uma bola de maneira bizarra.

O gol do Santos, no entanto, só foi sair no segundo tempo, quando o domínio do Flamengo era mais claro. O time mantinha mais a posse de bola e conseguia criar jogadas de linha de fundo pela esquerda, sempre com Éverton, muito mais ativo que Léo Moura pela direita. Já havia tido duas grandes chances com Adriano em escanteios quando sofreu o gol, num chute de fora da área que pareceu defensável. Andrade então colocou Bruno Paulo no lugar de Toró, pra dar mais força ao ataque pela direita, recuando Willians para a cabeça-de-área. O time ficou mais aberto, os espaços para os contra-ataques do Santos apareciam, mas por sorte o empate veio num chute de longe de Adriano. Deve ter sido o primeiro de fora da área que ele arrisca desde que chegou. Ainda não foi uma daquelas bombas que todos esperam dele, mas foi o bastante pro goleiro Felipe aceitar. O empate era mesmo mais justo e dava pinta de que se manteria até o fim.

Mas no final, pra usar um belo de um clichê, "brilhou a estrela de Andrade". Bruno Paulo - olha que esse garoto leva jeito mesmo - , uma das substituições do treinador, foi lançado na direita, foi no fundo e cruzou por baixo. A bola desviou no primeiro pau, onde Fierro (que Andrade havia acabado de pôr em campo) se embolou com um zagueiro, e o lateral Pará, que vinha por trás tentando evitar que ela chegasse a Adriano, pôs pra dentro.

No fim, foi emocionante ver o histórico Andrade chorando ao falar da vitória na saída de campo e dedicando-a ao grande Zé Carlos - o primeiro goleiro que me passou confiança no Flamengo, campeão brasileiro de 1987, titular da Seleção Brasileira até a diretoria do clube não liberá-lo para um Pan-Americano em que Taffarel entrou e agarrou a posição pelos trocentos anos seguintes.




26/7/2009 - 16h - Santos 1 x 2 Flamengo
Vila Belmiro - Santos, SP
Renda/público: R$ 252.850,00 / 10.633 pagantes

Árbitro: Heber Roberto Lopes (Fifa-PR)
Auxiliares: Altemir Haussmann (Fifa-RS) e Ivan Carlos Bohn (PR)
Cartões amarelos: Germano e Roberto Brum (SAN); Toró e Willians (SAN)

Gols: Robson, 24'/2ºT (1-0); Adriano, 31'/2ºT (1-1); Pará (contra), 43'/2ºT (1-2)

Santos: Felipe; Pará, Fabão, Domingos (Astorga, 8'/2ºT) e Léo; Rodrigo Souto, Roberto Brum (Robson, 18'/2ºT), Germano e Paulo Henrique; Madson e Neymar (Tiago Luís, 17'/2ºT) - Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

Flamengo: Bruno, Welinton, Aírton e Ronaldo Angelim; Léo Moura, Willians, Toró (Bruno Paulo, 29'/2ºT), Kleberson e Everton; Emerson (Fierro, 41'/2ºT) e Adriano - Técnico: Andrade

6 comentários:

Arthur Costa disse...

Interessante como o Erick Flores é quem era "A" jóia da base, mas o Bruno Paulo entrou quase q por acaso (jogo com muitos desfalques contra o Barueri) e em dois jogos parece q conquistou a vaga alí como primeira ou segunda opção no banco.


Outra coisa, aquele tal de Paulo Henrique Ganso... TODA bola q pegava pentiava, pentiava... deu uns dribles até... e errava o passe! Um mané!

André Monnerat disse...

Concordo contigo nas duas, Arthur.

Esse Ganso parece que, no plano do Luxemburgo, deveria ser o responsável por criar alguma coisa ali no Santos. Mas... O cara participava pouco do jogo e quando participava, era sempre com algum lancezinho de efeito inútil.

O time do Santos me pareceu bem fraco. Acho que ganha bastante com o Kléber Pereira voltando, porque simplesmente não tiveram um atacante pra valer no lugar dele. Mas precisavam de pelo menos mais alguém com jeito de armar algo no meio-campo pra ter um jeito de time.

E o Bruno Paulo, por esse pouquinho que vimos dele, me parece bem mais interessante que o Erick Flores. Bem mais objetivo e inteligente, além da diferença de porte físico.

Raphael Perret disse...

Opa! Segunda-feira é dia de análise do Monnerat! :) Pra variar, a de hoje está muito boa.

Mas algo me chamou a atenção no jogo e não vi ainda ninguém comentar: o Flamengo cometeu muitas faltas. Num determinado momento, o scout da Globo mostrava 17 a 6, no segundo tempo. O triplo! Puxa, há dois anos o Flamengo é um time que comete poucas faltas. E não acredito que isso seja coisa do Andrade, que foi um baita jogador e um meio-campo superelegante. Nervosismo? Ou "excesso de vontade"? Acho até que o Heber tava dando muita falta pro Santos, mas 17 a 6 é um número que não deixa dúvidas:o Flamengo bateu muito.

Quanto ao Bruno Paulo, acho que estamos vendo o nascimento de um bom jogador da base (depois de quanto tempo? Acho que o último foi o Renato Augusto). Caladinho, tem entrado em campo e ajudado bastante, sem demonstrar nervosismo (errou pouco, em momentos cruciais de duas partidas) e construindo jogadas, como ontem. Sem muito alarde e palhaçadas do tipo "será o melhor jogador do ano que vem", podemos utilizá-lo da melhor forma.

E, enfim, não entendi porque Welinton joga e Fabrício fica no banco.

André Monnerat disse...

Perret, também notei isso das faltas. Achei o Willians (que até levou cartão por isso) e o Wellinton especialmente faltosos. Não gosto não, acho que time que marca com muita falta retoma pouco a bola, tem menos chance de contra-atacar. No ano passado, por exemplo, o Flamengo rendia bem no contra-ataque e eu acho que tinha a ver com isso.

E o Fabrício, o lance é que ele é canhoto, como o Angelim... O Wellinton tá levando vantagem por isso. Eu até acho que o Fabrício parece melhor, mas também não me passou muita confiança não. Acho que joga muito à base de chutão pra frente, e normalmente quem faz isso é por falta de segurança. E contra o São Paulo, especialmente, achei ele muito, muito mal.

Arthur Costa disse...

pode ser até bobagem pensar em quem já se foi, mas este time com Bruno, Airton, Fábio Luciano e Angelim, Leo, Willians, Kleberson, Ibson e Jaun + Adriano e Emerson fazendo gols... putz... não seria um supertime, mas juntaria a defesa firme, o meio q deu mais certo (ou menos errado...) e uma dupla q tá fazendo gols...


quanto ao Fabricio, ele poderia jogar na sobra... com Airton na direita... mas na sobra, acho o Airton melhor q o próprio Fabricio...

Marcelo Constantino disse...

Não é que ontem foi, o William *é* faltoso. É um grande roubador de bolas, de vez em qdo surpreende na frente, mas é um tanto burro, comete umas faltas sucessivas e muitas vezes desnecessárias.

Mas triste mesmo é vê-lo encarregado de armar jogadas do time.

Jogando com 6 jogadores entre volantes e zagueiros, é isso que teremos.