Afinal, o que aconteceu no negócio com Cristian?

O foco de indignação da torcida rubro-negra hoje foi pela descoberta de que o Flamengo havia vendido mais barato a sua participação no “passe” (é engraçado como ele acabou há anos, mas a gente volta e meia ainda usa a palavra até hoje) do Cristian, logo antes dele ser vendido pelo Corinthians para a Turquia. A impressão era de que o clube tinha feito papel de bobo, com um forte cheiro de maracutaia no ar – algo reforçado pela declaração do presidente Delair de que quem precisava explicar a transação era Kléber Leite.

Pois o próprio Kléber Leite apareceu para dar as explicações. E, por mais que ele seja visto como anticristo rubro-negro – com boa dose de razão -, falou algo que é a mais pura verdade: quem manda no Flamengo é o presidente. É ele quem assina qualquer coisa. Delair sabia do negócio, concordou com ele ou ao menos o deixou acontecer. E jogou pra galera ao transferir a responsabilidade para o ex-vice de futebol – que não só não está mais em sua diretoria, como ainda por cima deverá ser adversário na eleição de daqui a alguns meses.

(Olha aí: ano de eleição... Estou me dando conta de que essa repetição do bordão dá um clima Zorra Total pro blog. Mas acho que não deixa de ser apropriado ao assunto, então vou continuar.)

Quanto ao negócio em si: afinal, segundo Kléber, o Flamengo teria recebido por Cristian não só os tais R$1,5 milhão na mão, mas também mais 50% do lucro que os investidores teriam com a venda que viria a seguir. No fim das contas, somando o que já recebeu e o que ainda vai receber por esta parcela de Cristian, o preju do clube em relação ao total que ganharia se tivesse vendido direto pros turcos seria de R$1,5 milhão.

É um dinheiro perdido considerável – mas a compensação pra isso está no fato de que assim recursos entraram na hora, enquanto da outra forma o clube teria que esperar um tempo pra ver a grana. E os R$1,5 milhão pagos imediatamente serviram, disse Kléber Leite, para aliviar dívidas com Bruno, Everton, Fabrício, Adriano, Fierro, Léo Moura e Aírton.

Certo? Errado? De fora, é difícil dizer. É fato que o Flamengo está atolado em dívidas de todas as espécies e com dificuldades de arrumar dinheiro, já que andou adiantando receitas de todas as suas fontes a perder de vista. Assim, era a chance de aliviar um tanto a situação imediata do clube – o que acaba sendo justificativa pra todo tipo de negócio estilo cobertor curto que tem sido feito por lá há tempos. Fora isso, há de se perceber que o pessoal lá teve uma escolha óbvia entre meter a mão numa grana agora ou deixá-la apenas para a próxima diretoria – seja lá ela qual for.

A história, afinal, fora suas implicações financeiras na vida do Flamengo, serve pra reforçar pra quem está aqui fora como andam as contas lá dentro: que se entenda de uma vez que não há dinheiro! Márcio Braga já disse isso com todas as letras no início do ano, o balanço do clube publicado em abril já deixava isso mais do que claro, mas parece que o pessoal gosta de esquecer e acreditar que dá pra buscar reforços de peso ou pagar centenas de milhares de reais num Luxemburgo ou Muricy. Depois alguém por lá resolve atender aos pedidos e os resultados serão apenas novas bombas-relógio que explodirão mais na frente.

E, claro, é mais uma mostra de que não dá pra acreditar no discursinho que Kléber e Plínio fizeram na saída, dizendo que deixam o clube com um histórico de bons resultados em campo e “contas equilibradas”. Sinceramente – nem no Zorra Total essa piada teria graça.