Assuntos interessantes extra-campo

Se ontem foi os assuntos além-jogo eram chatos, hoje foi dia de pipocarem algumas notícias administrativas interessantes. A primeira: o Flamengo realmente estaria chegando a uma solução para manter os salários em dia até o fim do ano.

Não estou por dentro da administração do clube, não trabalho em banco ou no mercado financeiro - então, minha compreensão da coisa é um tanto limitada. Mas o que deu pra pegar da notícia do Globoesporte.com é que o Flamengo passaria a ter uma conta separada, destinada apenas ao pagamento de salários, com um limite de crédito suficiente para cobrir a folha de três meses. Ou seja: se o clube não arrumar dinheiro nenhum para esta conta, ainda assim tem crédito para se endividar neste valor. Mas o mecanismo ainda inclui uma garantia de desvio de recursos para esta conta, vindos de Olympikus, bilheteria de jogos, novo patrocinador e venda de atletas, e parece que acaba dando numa espécie de "teto salarial informal". E, de alguma maneira, isso tudo ainda envolve uma renegociação com antigos credores dos tempos de Edmundo Silva - a Segil e a PSP, de segurança patrimonial.

A notícia é boa, claro, mas não é nenhuma solução definitiva para a vida do Flamengo. Se toda esta mecânica foi necessária, é porque o orçamento do clube não foi feito para comportar ao mesmo tempo o pagamento das contas do ano (incluindo os salários), os impostos e as dívidas antigas. O que o clube está fazendo é dar um jeito de manter seus empregados recebendo, algo realmente primordial pro ambiente de trabalho seguir tranquilo e facilitar as demais ações de arrumação de casa.

Porém, não vai resolver nada pra valer se outras tantas medidas não forem tomadas - incluindo cortes de gastos, renegociação de dívidas antigas para torná-las "pagáveis" e ações para aumento de receita. Se estas outras medidas forem só empurradas com a barriga, em algum momento esta nova fórmula não vai ser suficiente pra garantir nem mesmo os salários - afinal, continua sendo dinheiro do Flamengo, e se os credores antigos não estiverem recebendo, em algum momento poderão ir atrás também deste dinheiro que está sendo colocado à parte.

Reparem o seguinte na notícia: ao falar do valor da folha salarial e do que está sendo separado de crédito para seus pagamentos, mencionou-se a quantia mensal de "R$2,6 milhões líquidos" - ênfase para o "líquidos" aí. Ou seja: estão fora da conta os impostos e encargos todos que incidem sobre estes salários. Sou um tanto ignorante sobre como funcionam estas taxas no mundo dos contratos de futebol; mas no mundo aqui fora, um trabalhador de carteira assinada costuma custar ao seu empregador até o dobro do valor líquido que efetivamente recebe. A gente sabe que o Flamengo já fechou 2008 devendo R$13 milhões em impostos - que impediram a assinatura com a Petrobras e a construção do CT usando a lei de incentivo ao esporte. É bom que a diretoria lá dentro não se descuide e não deixe a bola de neve crescer ainda mais.

Mas, de novo: é uma boa notícia. Que, combinada a anteriores sobre renegociações de dívidas (como as da PSP e da Segil e até o caso Pet) e ainda outras de investimento em estrutura (reforma de vestiários, academia para as categorias de base no CT, compra de novos equipamentos para um "Reffis carioca" na Gávea), mostra que tem gente lá dentro com alguma visão do que o Flamengo precisa pra se reconstruir. E é o tipo de coisa que começou a aparecer com mais frequência depois que Delair assumiu o clube - de novo: o cara me parece, embora um tanto atrapalhado, ao menos bem intencionado, apesar de inacreditavalmente inábil pra se comunicar e fazer política, interna e externamente.

Se todo mundo remar pro mesmo lado, o Flamengo pode ter muito a ganhar com estes novos movimentos.



Sócio-torcedor em agosto. Será?

Mais uma, que saiu numa nota curtinha do LanceNet: está previsto para agosto o lançamento do novo programa de sócio torcedor do clube, em que "pontos acumulados valerão produtos ou ingressos".

Quem lê o SobreFlamengo há um pouco mais de tempo sabe que trata-se do Cidadão Rubro-Negro - projeto anunciado desde o ano passado, de que o Ricardo Hinrichsen, diretor do Marketing, tratou comigo em entrevista aqui pro blog. Trata-se de uma junção de plano de milhagem, cartão-fidelidade e programa de descontos em rede conveniada - que, de alguma maneira, deve incluir vantagens na aquisição de ingressos para os jogos. Você já leu também que haverá categorias gratuitas e pagas neste novo projeto - eu apostaria que as regalias para ver o Flamengo no estádio vão ficar só pra quem abrir a carteira.

Você já sabia ainda que o contrato com a Olympikus já prevê o fornecimento de quase 30 mil camisas oficiais para o projeto - ou seja, a coisa estava mesmo na dependência da entrada do novo fornecedor de material esportivo para começar a andar. E que a ideia não é dar direito a voto, algo visto pelo Marketing do clube como politicamente impossível lá dentro. Mas que talvez, quem sabe, possa estar atrelada de alguma forma ao já existente sócio off-Rio.

O que ficamos sabendo agora é esta nova data pra coisa sair: agosto de 2009. Vamos ver se agora é pra valer.



União com Zico?

E agora, a notícia mais intrigante: diz o blog de Ana Cláudia Guimarães, colaboradora da coluna de Ancelmo Góis, que o Flamengo está costurando com Zico a incorporação do CFZ. Seria uma compra do clube, um aluguel das instalações, uma fusão? Vai saber. A notícia diz que a Fundação Getúlio Vargas está estudando o "modelo econômico de gestão do negócio" - ou seja, pode ser qualquer coisa, e a gente ficaria sabendo exatamente o quê já nesta sexta-feira, por uma coletiva de imprensa na Gávea.

Taí um assunto que nunca tinha surgido antes. Mas, de primeira, dá abertura para se imaginar o Flamengo dando, de uma hora pra outra, um grande salto de estrutura. O CFZ tem, em Vargem Pequena, um CT com condições muito melhores de treinamento do que as que o Flamengo tem hoje - são dois campos oficiais, área para treinamento de goleiros, dois prédios com capacidade para receber 40 pessoas, restaurante, departamento médico, sala de musculação e fisioterapia, salão de jogos. Ou seja: tudo o que se precisaria pro time profissional treinar em tempo integral, com tranquilidade.

Fundado em 1996, o CFZ nunca conseguiu chegar onde Zico imaginava. Mesmo com todo o investimento em estrutura, o time não alcançou a primeira divisão do Rio - em boa parte por conta das perseguições movidas por Caixa D´água ao longo de anos -, nem se notabilizou por revelar grandes jogadores de sua base. As maiores glórias foram conquistadas quando o clube começou a disputar o campeonato profissional em Brasília, onde havia uma franquia bem-sucedida - chegou a ser campeão estadual em 2002, disputando a Copa do Brasil de 2003. Porém, a coisa desandou mais tarde e o time sofreu um duplo rebaixamento a partir de 2006, indo parar na terceira divisão do Distrito Federal - ainda não conseguiu retornar à elite por lá. Hoje, o clube tem como presidente Bruno Coimbra, filho de Zico, e há ainda uma outra equipe, o CFZ Imbituba, disputando a divisão especial do Campeonato Catarinense.

3 comentários:

Daniel Félix disse...

Está questão da conta específica, é interessante, se for bem conduzida, acho que põe fim ao retrógado caixa único.
Este projeto de Sócio Torcedor é aquele mesmo do Cidadão Rubro Negro, já antes postado pelo André Monnerat aqui no blog.
o que será que houve para dar seguimento a isso? antes foi embargado.
se bem que acredito, que o Flamengo precisaria com urgencia de uma Comunicação Corporativa, uma acessoria profissionalizada, para acabar com esta desorganização onde cada um fala uma coisa, dando a nítida impressão de desorganização.bem como também unificando as questões de Comunicação e acessoria com o marketing, reduzindo cargos, que outrora foram abastecidos por apadrinhamento, etc, etc.
Grande Post!

André Monnerat disse...

Daniel, nunca saiu que o Cidadão Rubro-Negro havia sido embargado - ele tava em compasso de espera, no fim do ano passado, porque ainda faltava acertarem com um investidor que bancasse a parada. A previsão era que saísse no primeiro semestre deste ano.

Não sei como (e se) a questão do investidor foi resolvida. Mas já deu pra ver que a espera pela entrada da Olympikus foi uma das coisas que deu uma atrasada no projeto.

Mas com o Flamengo, sabe como é... Só dá pra ter certeza das coisas quando realmente vê elas funcionando. E, ainda assim, com um pé atrás!

Daniel Félix disse...

É verdade, eu li novamente.
mas tomara que seja bom para o Flamengo, pelo que eu vi, é bem diferente de uma mera venda indireta de ingressos como acontece com os eficientes, porém pragmáticos dos outros clubes.
Saudações Rubro-Negras!!