O Vasco pode passar?

No ano passado, muitos comentaristas de São Paulo gostavam de puxar a discussão, mais ou menos a essa altura da temporada: o time do Corinthians, àquela época na série B, seria capaz de ir bem na primeira divisão? E a semi-final contra o Botafogo até era encarada como um tira-teima, no qual a equipe de Mano Menezes se saiu bem.

Hoje, a maioria fala do momento atual do Vasco como "resgate da dignidade". Os analistas, de modo geral, nem levantam a discussão sobre a capacidade do time de Dorival Júnior ir bem na elite. Em 2008, ninguém colocava o Botafogo como favorito contra o Corinthians; agora, o Timão é citado sem receios como provável vencedor contra o Vasco. A diferença de tratamento entre um e outro é clara. Se o Corinthians não passar, vai pegar todo mundo de surpresa.

O Maracanã estará hoje cheio de vascaínos, loucos pra provarem que tá todo mundo enganado e que eles podem ir mais longe. O momento do Vasco, hoje, é especial. A diretoria segue ainda sem Eletrobras (mas com o patrocínio temporário da Ale para estes dois jogos contra o campeão paulista de audiência), ainda com a inadimplente Champs fazendo seus uniformes, ainda com salários atrasados. Mas conseguiu algo que está passando por cima disso tudo: trazer a torcida pro seu lado. Nisso, o lançamento do projeto de sócio-torcedor foi mais do que oportuno (reparem: a contagem oficial atual está em 19.025 sócios, ultrapassando a lotação atual de São Januário). O Maracanã deve viver hoje um enorme clima de união e festa. Quem acha que lá será "campo neutro", ao contrário do alçapão de São Januário, está muito enganado.

E o Vasco precisa mesmo ganhar hoje. 

O Corinthians esse ano decidiu muitos jogos de duas maneiras: contra-ataques (como os gols de Ronaldo contra São Paulo e Corinthians, como o de Jorge Henrique contra o Fluminense) e chutes de fora da área (tanto em bolas paradas, com Chicão, como com ela rolando, com os volantes Elias e Cristian). Além destes dois tipos de jogada, a preocupação defensiva do Vasco tem que ser com as pontas - Mano Menezes arma o time com Jorge Henrique e Dentinho abertos, e conta ainda muito com os avanços de André Santos pela esquerda.

Uma maneira de conseguir o domínio do jogo é tirar proveito da maior quantidade de jogadores no meio, já que o Corinthians só tem, a princípio, três por ali, sendo um que marca pouco. Seria bom para o Vasco que Léo Lima não esteja num de seus costumeiros momentos de sono, pra não anular essa vantagem, e que Jefferson, bom jogador, não sinta muito a falta de ritmo. Fazer Pimpão jogar mais pela direita, pra inibir os avanços de André Santos e aproveitar o espaço que ele deixar, também é uma boa. O confronto de Ramon com Alessandro daria vantagem pro Vasco, mas é aquilo - Mano Menezes com certeza sabe que o lateral esquerdo do Vasco sobe muito e vai forçar o jogo por ali.

Só não digo com certeza que Carlos Alberto fará mais falta que Ronaldo (primeira vez que fica de fora por contusão desde que voltou) porque quem deve jogar no ataque paulista hoje é Souza.

Mas respondendo: o Vasco pode passar? Claro que pode.

Não é o mais provável. O Corinthians é mesmo favorito. Mas não pra hoje.